- Author, Halyna Korba e Kateryna Khinkulova
- Role, Serviço Mundial da BBC
Há 15 minutos
Após dominar o noticiário internacional por quase dois anos, a guerra na Ucrânia não deve dar sinais de arrefecimento em 2024. Mas, provavelmente, ela evoluirá de forma diferente.
Confira abaixo cinco fatores que devem afetar o conflito neste ano.
1. Dinheiro
A capacidade da Ucrânia de enfrentar a Rússia no início da invasão, em fevereiro de 2022, surpreendeu a muitos e se tornou uma das razões para que seus aliados internacionais fornecessem mais armas ao país.
Mas isso provavelmente irá mudar em 2024, já que dois pacotes de ajuda estão suspensos.
Nos Estados Unidos, a ajuda à Ucrânia deve ser votada no Congresso e está relacionada a uma discussão entre republicanos e democratas sobre outros gastos internacionais.
O pacote militar americano, avaliado em US$ 61 bilhões (cerca de R$ 295 bilhões) só será analisado no início de janeiro.
Já na União Europeia, um acordo financeiro avaliado em US$ 55 bilhões (cerca de R$ 266 bilhões) também está vinculado a uma tensa negociação entre um de seus Estados-membros, a Hungria, e o restante do bloco.
2. Armas
Os atrasos no fornecimento da ajuda estrangeira estão prejudicando a capacidade ucraniana de armar seu Exército, o que provoca crescente ansiedade no país e aumento da confiança de Moscou.
Em sua entrevista de fim de ano a jornalistas, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que a capacidade militar do seu país se encontra no seu ponto mais forte.
Ele também acrescentou que as relações entre a Ucrânia e o Ocidente provavelmente "se esgotariam em breve".
Já em sua entrevista de fim de ano a jornalistas, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, admitiu que a situação é difícil.
Mas ele expressou sua esperança de que a ajuda militar seja rapidamente resolvida e que a Ucrânia possa aumentar sua produção de drones, que foram muito importantes nesta guerra.
Em novembro, a União Europeia informou que não irá cumprir com sua promessa de fornecer 1 milhão de projéteis para a Ucrânia até março de 2024.
Zelensky afirmou que uma das razões que levaram a Ucrânia a não iniciar antes sua contraofensiva foi a falta de armas.
Em recente entrevista à BBC, o Exército ucraniano declarou que precisa economizar munição.
Ter menos munição poderá fazer com que os ucranianos precisem ceder posições e mais uma parte do seu território.
Atualmente, a Rússia controla cerca de 17% do território ucraniano.
A Ucrânia calcula que a guerra já custou à sua economia US$ 150 bilhões (cerca de R$ 726 bilhões).
E, em 2024, o país planeja gastar US$ 43,2 bilhões (cerca de R$ 209 bilhões) com seu Exército.
Já a Rússia calcula que seu orçamento militar atinja o nível recorde de US$ 112 bilhões (cerca de R$ 542 bilhões).
3. Efetivo militar
Ter soldados em quantidade suficiente será um desafio para ambas as partes.
Antes de fevereiro de 2022, a população da Ucrânia era de cerca de 44 milhões de pessoas. Estimativas indicam que 6 milhões de ucranianos tenham abandonado o país, mas muitos deles provavelmente já regressaram.
Centenas de milhares de pessoas foram deslocadas internamente devido à ocupação russa e aos contínuos ataques. E milhares de civis já foram mortos.
Por isso, recrutar e treinar novas forças militares será um desafio.
Recentemente, o ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, declarou que seu país talvez precise pedir que os homens ucranianos residentes no exterior se apresentem para cumprir o serviço militar.
Acredita-se que centenas de milhares de homens ucranianos em idade de combate morem fora da Ucrânia.
A Estônia já declarou que irá ajudar Kiev a recrutar cidadãos ucranianos aptos para o Exército que morarem atualmente no país.
Embora a Rússia tenha um Exército muito maior e uma população total também superior (oficialmente, cerca de 144 milhões de pessoas), suas perdas nos quase dois anos de guerra foram monumentais.
Muitos dos seus militares mais bem treinados foram perdidos, como os paraquedistas de elite e os tripulantes da força aérea. Seu treinamento é caro e demorado, chegando a levar anos.
Estima-se que até 1 milhão de cidadãos russos tenham abandonado o país após a invasão da Ucrânia.
As autoridades russas recorreram ao recrutamento de prisioneiros e imigrantes irregulares para repor o contingente do seu Exército.
Nenhuma das partes revelou completamente suas perdas militares, mas calcula-se que elas cheguem a pelo menos dezenas de milhares de pessoas no lado ucraniano.
Quanto às perdas de Moscou, o serviço russo da BBC elaborou uma lista de militares que tiveram sua morte confirmada.
No final de dezembro de 2023, esse número chegava a mais de 40 mil pessoas.
Os serviços de inteligência americanos publicaram recentemente relatórios que indicam que as perdas russas, incluindo mortos e feridos, podem atingir 315 mil homens.
4. "Fadiga" do conflito
O que mais preocupa Kiev é a chamada "fadiga da Ucrânia" — a queda da empatia e do apoio do público em geral nos países considerados apoiadores.
As recentes eleições da Holanda e da Eslováquia, por exemplo, já resultaram em redução do apoio internacional à Ucrânia.
A Eslováquia suspendeu um importante pacote de ajuda para o país, enquanto a Holanda pode deixar de enviar os aviões F-16 há muito tempo prometidos.
Nos Estados Unidos, com as eleições presidenciais previstas para novembro de 2024, o possível regresso de Donald Trump à Casa Branca pode trazer sérias mudanças políticas em relação à Ucrânia e à Rússia.
As pesquisas de opinião nos Estados Unidos indicam que o número de pessoas que acreditam que a ajuda enviada pelo país à Ucrânia é excessiva aumentou de 21% para 41%.
E, em oito dos 27 países da União Europeia, existem mais pessoas contrárias ao fornecimento de ajuda à Ucrânia do que a favor.
Tanto a Ucrânia quanto a Rússia continuarão buscando apoio nos países ao sul do planeta em 2024.
Tradicionalmente, muitos países do Oriente Médio, América Latina e África são mais próximos de Moscou do que dos Estados Unidos.
Desde o início da invasão, a Rússia vem tentando fortalecer suas relações, enquanto a Ucrânia continua trabalhando para ganhar influência.
Nos últimos 12 meses, o ministro de Assuntos Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, viajou para a África quatro vezes e visitou 14 países.
Já o ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, visitou nove países em duas visitas à África, no mesmo período.
A Ucrânia irá lutar para neutralizar a influência russa no continente africano.
A propaganda de Moscou e, em alguns países, o grupo mercenário Wagner (organização paramilitar privada financiada pelo governo russo) têm sido eficazes para fortalecer a influência da Rússia na África.
5. Fim da guerra?
"Como irá terminar a guerra?"
Essa é a pergunta que muitos políticos e especialistas estão tentando responder.
A Ucrânia afirma que apenas a liberação total da ocupação russa e o retorno às fronteiras reconhecidas internacionalmente colocarão fim ao conflito.
Kiev também alerta que qualquer acordo com a Rússia poderia incentivar novas apropriações de território, não apenas por parte de Moscou, mas também por outros países do mundo.
Por outro lado, a Rússia afirma que está envolvida em um conflito mais amplo com o Ocidente e que irá lutar por todo o tempo que for necessário.
É pouco provável que a guerra termine em 2024. Ela deve continuar, com novas perdas e ameaças diárias de morte e destruição na Ucrânia, além de maior isolamento e dificuldades econômicas para a Rússia.
Com a guerra sem solução na Faixa de Gaza e o risco de surgimento de outros pontos de conflito pelo mundo, este conflito será menos importante para outros países, apesar do seu enorme impacto para a ordem política e a economia mundial em 2022.
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