© Reuters. 95% das crianças e adolescentes acessam internet, diz pesquisa
Pesquisa TIC Kids Online Brasil, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostra que 95% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos de todo o país têm acesso a internet –o que corresponde a mais de 25,1 milhões de pessoas nessa faixa etária. A taxa subiu 3 pontos percentuais em 2022 em relação a 2021.
As crianças e adolescentes que nunca acessaram à rede somam mais de 580 mil. Em 2021, eram cerca de 940 mil.
A maioria dos que disseram nunca ter acessado a internet ou já ter acessado, mas não recentemente, são de famílias mais pobres –pertencentes das classes D e E–, o que demonstra que há desigualdades no acesso. Cerca de 545 mil de um total de 867 mil entrevistados das classes mais baixas disseram não ter acessado a internet nos últimos 3 meses.
O estudo, conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostrou ainda que em 24% do total de casos, o 1º acesso à internet ocorreu antes dos 6 anos de idade.
Em 2015, o 1º acesso à internet ocorria mais tarde: só 11% das crianças tinham até 6 anos de idade. Geralmente, só aos 10 anos (16%) as crianças tinham o 1º contato com as redes.
FORMA DE ACESSO
Quase a totalidade (97%) dos entrevistados afirmaram que a principal forma com que crianças e adolescentes acessam a internet é pelo celular. O celular é também a única forma de acesso à internet para 20% desse público.
Já o acesso da internet pela televisão tem aumentado nos últimos anos, chegando a 70% em 2023. Em 2019, por exemplo, esse tipo de acesso era mencionado por só 43% dos usuários.
O uso do computador para acesso à web, por sua vez, manteve-se estável, em 38%, com predomínio entre o público das classes sociais de maior renda (71%). Nas classes D e E, só 15% dizem acessar a internet pelo computador.
A coordenadora do estudo Luísa Adib disse à Agência Brasil que a trajetória histórica da pesquisa mostra uma queda no acesso da internet pelo computador, mas com uma diferença muito marcada entre as classes econômicas:
“As crianças das classes A e B acessam a internet por uma variedade muito maior de dispositivos. E isso pode influenciar sobre o aproveitamento de oportunidades, por exemplo, nas atividades de educação em busca de informação. As crianças que acessam a internet pelo celular e pelo computador realizam todas as atividades investigadas de educação em proporções maiores que aquelas que acessam somente pelo telefone celular. Elas também vão aproveitar mais oportunidades e ter condições de desenvolver mais habilidades digitais”, declarou.
Segundo ela, a variedade do uso de dispositivos para entrada na internet, a disponibilidade de dados, a velocidade e a qualidade de conexão são significativos para demonstrar que ainda há muita desigualdade no acesso. “Temos 95% de usuários, quase a totalidade de crianças e adolescentes nessa faixa etária que são usuários, mas não podemos dizer que elas acessam a internet sob as mesmas condições. A universalização do acesso tem muitas barreiras para serem cumpridas para que haja uma conectividade significativa para todos os usuários”, afirmou.
PROPAGANDA E CONTEÚDO SEXUAL
A pesquisa abordou a percepção de adolescentes de 11 a 17 anos sobre as propagandas na internet. Segundo o estudo, 50% desses entrevistados pediu que seus pais ou responsáveis comprasse algum produto que viu na internet. Oito em cada 10 entrevistados (84% do total) também relatou que ficou com vontade de ter algum produto depois de vê-lo na internet e 73% ficaram chateados por não poder comprar algum produto.
Para 78% desses usuários, as empresas pagam pessoas para usarem seus produtos nos vídeos e conteúdos que publicam na internet. Seis em cada 10 adolescentes de 11 a 17 anos (59% do total) também disseram ter assistido a vídeos de pessoas mostrando como usar esse produto ou abrindo a embalagem desse produto.
O que chama a atenção é que o número desses usuários que relatam ter visto propaganda na web é alto, considerando que a propaganda direcionada a crianças e adolescentes até 12 anos, em quaisquer meios de comunicação ou espaços de convivência, é considerada ilegal de acordo com o Código de Defesa do Consumidor de 1990.
“Há toda uma legislação que não permite que o conteúdo mercadológico seja direcionado para criança e adolescente. Mas investigamos alguns fenômenos ou forma como os conteúdos são postados na internet e vimos que a criança tem o conteúdo mercadológico, mas ela não necessariamente consegue identificar que aquela era uma mensagem sobre algum produto ou marca”, completou a coordenadora da pesquisa.
Ainda de acordo com o estudo, só 28% dos pais utilizam algum filtro ou configuração especial para restringir o contato das crianças com propagandas na internet.
Os pesquisadores também analisaram o acesso das crianças e adolescentes a conteúdos sexuais. Pelo menos 9% do total de usuários de 9 a 17 anos já viram imagens ou vídeos de conteúdo sexual na internet nos últimos 12 meses. Na maior parte das vezes (34% do total), essas imagens aparecem sem querer, seguida pelas redes sociais (26%). Cerca de 16% das crianças e adolescentes também relatam ter recebido mensagens de conteúdo sexual pela internet.
“Temos essa perspectiva sobre o risco mas também temos que considerar que o contato com esse tipo de conteúdo pode ter sido uma busca de informação, pode ter sido uma comunicação entre pais, então não necessariamente isso foi um acesso indesejado ou algo problemático. Mas temos que olhar para esse dado sabendo que existe um potencial dano ou incômodo e, a partir daí, qualificar quem enviou essa mensagem e onde a criança teve esse contato. Por isso reforçamos a importância da participação dos responsáveis no acompanhamento das atividades que a criança e o adolescente realizam”, disse a coordenadora do estudo.
Adib declara que a internet não traz só riscos, mas diversos benefícios destinados, por exemplo, ao lazer, ao conhecimento e ao entretenimento. Afirmou que os benefícios estão intimamente ligados à disponibilidade e qualidade do acesso.
“Os riscos têm naturezas diversas e podem ser de violências sexuais ou comerciais, por exemplo. Há muitas possibilidades de contato ou situações de risco na internet, mas eu sempre destaco que proibir, inibir ou restringir a participação não necessariamente vai protegê-la do risco. Podemos restringir o risco, mas também restringimos a oportunidade. Por isso, indico o diálogo e o acompanhamento dos responsáveis para saber que tipo de conteúdo ela está acessando e com quem ela conversa”, completou.
A pesquisa ouviu 2.704 crianças e adolescentes de todo o país, com idades de 9 a 17 anos e 2.704 pais ou responsáveis. O estudo foi realizado de março a julho de 2023. O TIC Kids Online Brasil é uma pesquisa feita anualmente desde 2012 e só não foi realizada em 2020 por causa da pandemia de covid-19.
Com informações da Agência Brasil.
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