Além dos discursos e do cerimonial de troca da Presidência, o dia também terá os primeiros decretos presidenciais, que prometem mudanças relevantes de política econômica dos EUA — e que transbordam efeitos ao redor do planeta, incluindo o Brasil.
Trump retorna à Casa Branca com um discurso protecionista, visando favorecer a atividade doméstica e limitar a concorrência estrangeira. Embora setores importantes da economia norte-americana possam se fortalecer, há uma clara pressão inflacionária.
O presidente promete mudanças nas políticas de imigração, no setor de energia e nas relações comerciais da maior economia do mundo. Trump espera um aumento de produtividade das empresas, mas há o risco de aumento nos preços pela redução da mão de obra ou pelo efeito de muitas taxas contra concorrentes de fora.
Sendo esse o cenário, o Federal Reserve (Fed) terá mais dificuldade de controlar a inflação e poderá ser obrigado a interromper o ciclo de queda das taxas de juros por lá — ou até mesmo aumentá-las.
E juros mais altos nos EUA aumentam a rentabilidade dos títulos públicos do país, considerados os mais seguros do mundo. Com o fluxo de dinheiro voltado para lá, o dólar se valoriza frente a outras moedas.
Para o Brasil, um real mais fraco significa inflação mais alta. Com juros elevados no exterior, o Banco Central (BC) pode precisar subir a taxa básica de juros brasileira (ou mantê-la alta) para evitar a saída de investidores do país.
Por fim, há mudanças importantes no comércio exterior, já que os EUA são o nosso segundo maior parceiro comercial.
Entenda abaixo como as medidas podem afetar o Brasil, e o que esperar para os próximos meses.
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Quais são os impactos para o Brasil?
De maneira geral, as medidas econômicas previstas para o mandato do republicano têm caráter inflacionário e devem causar uma série de efeitos por aqui, principalmente em termos de preços e juros.
Entre aquelas de maior impacto estão o aumento de tarifas para produtos importados, a redução de impostos domésticos, o apoio à indústria norte-americana e a oposição a incentivos para a transição energética.
- 🏭Tarifaço e apoio à indústria norte-americana
Parte dos efeitos, segundo especialistas, viria principalmente das medidas que envolvem as relações comerciais entre o Brasil e os EUA, com impactos diretos e indiretos na inflação e na indústria brasileira.
A intenção de Trump, de aumentar as tarifas para produtos importados, pode atingir os exportadores brasileiros. A proposta inicial é impor uma alíquota de 10% a 20% sobre todas as importações, o que afetaria todos os parceiros comerciais dos EUA.
Embora a ameaça tarifária seja considerada uma estratégia antiga do republicano para beneficiar os EUA em negociações bilaterais, a possível implementação da medida ainda não está descartada.
De um lado, há o impacto na balança comercial brasileira. Em 2024, os EUA compraram mais de US$ 40 bilhões em produtos brasileiros, ficando atrás apenas da China (US$ 94 bilhões). Um aumento das tarifas pode tornar os produtos brasileiros menos competitivos, reduzindo as exportações.
Assim, caso o bloqueio se concretize sob Trump, a inflação brasileira pode sofrer nova pressão, tanto pela menor entrada de dólares no país quanto pelo possível repasse de preços pelos produtores devido ao aumento dos custos com um câmbio desfavorável.
Além disso, o professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Lucas Pereira Rezende, aponta os impactos indiretos da medida, por meio da sobretaxação dos produtos chineses. Trump propõe impor tarifas de 60% ou mais sobre os produtos importados da China.
O professor explica que essa medida poderia levar a China a buscar outros mercados, encontrando no Brasil uma saída para seu comércio exterior, afetando nossa indústria e varejo.
- ✂️ Cortes de impostos domésticos
Outro ponto de atenção, segundo especialistas, é a promessa de Trump de reduzir ou limitar os impostos domésticos para incentivar a indústria e a atividade econômica nos EUA.
Esse cenário pode reduzir a arrecadação do país e, dependendo de como for implementado, gerar novas preocupações no mercado financeiro sobre a capacidade de os EUA de cumprir com o pagamento de sua dívida.
Na prática, isso pode levar os investidores a exigir um prêmio maior (em suma, juros mais altos) e pressionar o Federal Reserve (Fed) voltar a aumentar as taxas americanas. Os países emergentes, como o Brasil, ficam menos atrativos, o que pode ser mais um gatilho de saída de dólares do país.
- ⚡ Mudanças no mercado de energia
Por fim, outra medida preocupante é o fim das restrições para o mercado de petróleo, gás natural e carvão, além do aumento da produção de energia em todas as fontes, incluindo a nuclear.
Para especialistas, essa intenção dos Estados Unidos pode trazer oportunidades para o Brasil, mas também preocupações sobre os mecanismos internacionais para a transição energética.
Por outro lado, há preocupações sobre possíveis alterações nas políticas comerciais, como o aumento de tarifas sobre importados, e uma menor colaboração internacional.
Segundo Rezende, da UFMG, o governo Trump pode dificultar mecanismos internacionais de transição energética, como o mercado de carbono.
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Mas será que o Trump conseguirá implementar tudo o que deseja?
Segundo especialistas, muitas das propostas do plano econômico do republicano são parte de uma retórica política, mas é preciso considerar que Trump está mais poderoso em um segundo mandato, ajudado pela nova “onda vermelha” vista nas eleições do ano passado.
“Esse domínio republicano traz implicações significativas para a economia global”, completa o executivo.
Na prática, isso significa que as políticas propostas por Trump podem ter um apoio maior por parte do Congresso, facilitando a aprovação dessas medidas.
O professor acrescenta que o republicano pode tentar passar boa parte das medidas impopulares já em 2025, aproveitando a popularidade das eleições, que ainda está bastante recente no país. “Só então o Brasil vai conseguir se reposicionar e entender o que de fato lhe impactará diretamente”, completa.
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