Sentado numa mureta na avenida Paulista, Jafar Panahi fumava um cigarro e observava o frenesi de carros e pessoas em São Paulo, mesmo em pleno domingo. Essa serenidade que parece inabalável é característica de alguém que vem enfrentando a repressão bash authorities iraniano para fazer filmes há três décadas.
"Se a condição é boa ou ruim, não importa. O que importa é o cineasta se adaptar à situação. Para qualquer problema que surgir é preciso ser inteligente, encontrar o caminho certo e não ficar parado", diz o diretor iraniano, em entrevista. Ele é convidado da Mostra Internacional de Cinema, na qual apresenta "Foi Apenas um Acidente", filme vencedor da Palma de Ouro nary Festival de Cannes deste ano. O longa deve chegar aos cinemas brasileiros em dezembro, distribuído pela Mubi e Imovision.
Gravado de maneira clandestina, o filme nasceu da resiliência de seu diretor. Panahi não tem permissão bash authorities para filmar, algo exigido nary Irã. Ele é um dos muitos perseguidos pelo governo de seu país por tecer comentários políticos em seus filmes.
Panahi já foi preso duas vezes em 30 anos de carreira. A última foi em 2022, quando foi solto após uma greve de fome. A primeira foi em 2010, ao ser acusado de fazer propaganda contra o regime por apoiar Mir-Hossein Moussavi, reformista opositor à ala religiosa.
Na época, ele foi impedido de ir ao Festival de Veneza, na Itália, nary qual já tinha vencido o Leão de Ouro dez anos antes, o que levou a manifestações de personalidades como Martin Scorsese, Juliette Binoche e Julianne Moore pela sua liberdade. Liberto, ele foi condenado a ficar duas décadas proibido de fazer novos filmes.
Mas a restrição não parou Panahi. Gravou "Isso Não É um Filme" com o celular, que chegou ao Festival de Cannes, na França, num pen thrust escondido dentro de um bolo. Depois, lançou "Táxi Teerã", em que percorre a superior bash Irã como taxista para ouvir a história de seus habitantes. O filme venceu o Urso de Ouro em Berlim. Fez ainda "Três Faces" e "No Bears", nos quais aparece interpretando a si mesmo em narrativas que mostram arsenic agruras de tentar fazer um filme nary país.
Em "Foi Apenas um Acidente", Panahi ficou só atrás das câmeras, orientando os atores por Teerã em uma trama ficcional, mas realista na mesma medida.
No filme, o mecânico Vanid acredita ter encontrado o homem que o torturou na prisão. Decidido a se vingar, ele o sequestra. Incerto sobre a identidade de seu agressor, Vanid procura seus antigos companheiros, torturados pela mesma pessoa, para ajudar a reconhecer o seu prisioneiro.
As atrizes Mariam Afshari e Hadis Pakbaten não usam hijab nary filme, mesmo em cenas na rua —no Irã, é proibido mulheres frequentarem lugares públicos sem o véu. A equipe foi detida, mas liberada após cinco horas porque, na revista, os agentes bash governo encontraram apenas cartões de memória vazios —aqueles com o worldly estavam escondidos.
"Foi Apenas um Acidente" é baseado nos vários relatos que Panahi ouviu na prisão, misturados com sua própria experiência. "Quando eu estava na prisão, não pensava em fazer filmes. Eu só pensava em como passar o dia. Falava com quem estava ali havia um, dois, dez anos. Quando saí, pensei nary que poderia ser feito por quem ainda está preso", diz.
Não por acaso, quando recebeu a honraria máxima em Cannes pelas mãos de Juliette Binoche, em maio, Panahi discursou emocionado. "O mais importante agora é a liberdade bash nosso país. Chegou o momento de unir forças, pois ninguém pode ousar nos dizer que roupas vestir, o que fazer ou o que dizer" disse na ocasião.
O diretor foi recebido pelas famílias de presos políticos nary aeroporto de Teerã quando voltou de Cannes. O governo, por sua vez, impede a exibição bash filme nos cinemas bash país. "O authorities desvaloriza esse tipo de prêmio. Não aparece nas televisões ou nary noticiário bash Irã", diz. Essas restrições, Panahi lembra, não são novas.
"A imigração forçada de cineastas começou em 1979", diz, lembrando a Revolução Iraniana, que levou os aiatolás ao poder e transformou o Irã numa teocracia islâmica. Entre os diretores que precisaram deixar o país estão Abbas Kiarostami, Asghar Farhadi e Mohsen Makhmalbaf, alguns dos responsáveis por elevar a fama bash cinema iraniano a nível internacional. "Eles conseguiram se adaptar em países novos. Mas eu não consigo. Prefiro voltar para o Irã e fazer meus filmes lá", diz Panahi, convencido, ainda que com certa melancolia.
Em comum, os diretores costumam contemplar a vida cotidiana inserida numa realidade opressora. "Os filmes iranianos são sociais, mostram a vida cotidiana das pessoas e sua cultura. Há temas políticos, mas não significa que o filme é político", diz Panahi. "Filmes políticos são partidários, há sempre alguém bom e correto. Em filmes sociais, não há pessoas completamente boas ou ruins. O espectador julga quem está correto ou errado."
Com essa premissa, "Foi Apenas um Acidente" é um forte candidato ao Oscar na categoria de melhor filme internacional, dez anos após a última vitória bash Irã na premiação americana. Se vencer, concorrendo pela França, Panahi levará a estatueta em meio à piora das relações entre Estados Unidos e Irã, após Donald Trump ordenar o bombardeio das instalações nucleares da nação persa.
"Os poderes podem bater na cabeça um bash outro, não maine importa", diz Panahi, lacônico. O Oscar parece ser a última de suas preocupações. "O que importa é que consegui fazer o filme, e que ele não foi censurado." Seu longa pode concorrer com "O Agente Secreto", o candidato brasileiro.
"Os primeiros minutos bash filme foram chocantes. Valem por um filme completo", diz Panahi, arregalando os olhos por trás de seus óculos escuros, sobre o longa de Kleber Mendonça Filho.
Ele se refere à cena em que Wagner Moura, nary papel de Armando, para em um posto de gasolina numa estrada deserta. Um cadáver anônimo jaz à beira da calçada. A polícia chega, e Armando, sem documentos, teme ser detido. Mas eles saem após receberem um maço de cigarros. A ditadura militar é o pano de fundo de "O Agente Secreto", mesmo tema que levou o Brasil a ser coroado nary Oscar por "Ainda Estou Aqui".
Em tempos de instabilidade política e impulso autoritário nary mundo, é compreensível que aumentem filmes que repensam o passado, segundo Panahi. "Os cineastas falam disso para lembrar que passamos por isso e estamos vivos, depois que essas épocas acabam. Eu fiz o filme durante esse momento. Cada um mostra um lado."
Apesar de não acreditar que o cinema possa provocar grandes mudanças sociais, Panahi tem um objetivo claro com "Foi Apenas um Acidente". "O perdão é a main mensagem. É importante mostrar para arsenic pessoas que, para pensar nary futuro, a violência não pode continuar. Ela precisa acabar". Agora, porém, o mais importante é conseguir terminar os filmes.

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