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A guerra na Faixa de Gaza reflete-se cada vez mais no outro território palestino: a Cisjordânia.
Um total de 122 palestinos morreram de forma violenta na Cisjordânia desde o início do conflito, em 7 de outubro, segundo o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina responsável por esta região de 5.600 km² (equivalente à área do Distrito Federal do Brasil), onde vivem quase três milhões de pessoas.
A maior parte das mortes ocorreu em ataques das forças israelenses contra supostos membros do Hamas e da Jihad Islâmica — ambas organizações são consideradas grupos terroristas pelos Estados Unidos e pela União Europeia — embora também sejam frequentes os confrontos entre civis de ambos os lados.
O ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro, no qual membros desta organização mataram 1,4 mil pessoas e raptaram mais de 220, gerou uma dura resposta de Israel, que iniciou uma campanha de bombardeamentos em Gaza que já matou mais de 8 mil pessoas.
E isso gera uma repercussão na Cisjordânia, onde a guerra intensifica a tensão: segundo as Nações Unidas, de janeiro até o início de outubro, cerca de 179 palestinos morreram em incidentes violentos. O ano de 2023 já é o mais mortal no território em duas décadas.
Choques constantes
Em Jenin, no norte da Cisjordânia, foram realizados na segunda-feira (30/10) os funerais de quatro membros da Jihad Islâmica, mortos por ataques do exército israelense durante a noite.
Os moradores do local disseram à BBC que um ataque de drone israelense atingiu uma casa no centro do campo de refugiados da cidade. Depois, houve uma trocas de tiros entre soldados israelenses e homens armados palestinos.
Na semana passada, outros quatro palestinos morreram num ataque israelense a Jenin. Além disso, foi registrada uma morte na cidade de Kalkilia, também no norte, e outra em Kalandia, ao norte de Jerusalém.
No caso de Jenin, o exército israelense afirma que “terroristas armados dispararam tiros e atiraram explosivos contra as forças de segurança” do país a partir do sobrelotado campo de refugiados.
Nos outros dois episódios, as tropas de Israel alegaram que abriram fogo contra pessoas que atiraram pedras, coquetéis molotov e explosivos improvisados.
Além das operações militares, há constantes confrontos violentos entre civis israelenses e palestinos.
O caso mais recente é o de Bilal Saleh, um agricultor palestino de 40 anos que morreu no último fim de semana devido a um tiro no peito na cidade de Nablus, ao norte de Jerusalém e Ramallah.
Segundo a versão palestina, um grupo de colonos israelenses atacou o homem quando ele estava com a família no olival onde trabalhava. Ele foi alvo de um tiro antes que pudesse fugir.
Os colonos, por sua vez, alegaram que o atirador agiu em legítima defesa quando foi agredido por um grupo de agricultores palestinos, incluindo Saleh, que atiraram pedras contra ele.
A BBC não conseguiu verificar de forma independente o que aconteceu de fato.
Alegações de ataques de colonos
Multiplicaram-se os relatos sobre incidentes em que colonos israelenses teriam atacado e confiscado terras e gado de cidadãos palestinos em toda a Cisjordânia.
“Hoje, dezenas de colonos da [colônia de] Yitzhar invadiram as terras de Burin [em Nablus], atacaram agricultores, incendiaram veículos e destruíram ou roubaram equipamentos e produtos”, denunciou Yesh Din, uma organização israelense de direitos humanos.
A ONG alegou que “a política israelense que permite e até apoia atos de vingança dos colonos contra palestinos inocentes na Cisjordânia continua”.
Esta questão começou a ser outro motivo de preocupação dentro da grave situação humanitária desencadeada pela guerra atual.
O presidente dos EUA, Joe Biden, pediu ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que “a defesa de Israel e dos seus cidadãos esteja em conformidade com o direito humanitário internacional”.
Biden disse na semana passada que os ataques de “colonos extremistas” apenas contribuíram para “derramar gasolina” nas chamas do conflito.
“Eles têm que ser responsabilizados. Eles têm que parar agora”, disse ele, referindo-se aos ataques dos colonos.
O editor internacional da BBC, Jeremy Bowen, conversou recentemente com representantes de um grupo de ultranacionalistas judeus que dirigem um posto de controle nos arredores de Hebron, no sul da Cisjordânia.
Os seus testemunhos refletem o clima de tensão vivido nas últimas semanas.
"Numa guerra você tem uma arma e um gatilho. E para aqueles que ainda não entendem, estamos em guerra; uma guerra na qual o outro lado não mostra piedade e devemos fazer o mesmo. Não há escolha", disse Meir Simcha, líder do grupo.
Como é a Cisjordânia?
A Cisjordânia é o maior dos territórios ocupados por Israel.
Ela se localiza na margem oeste do rio Jordão, e faz fronteira com Israel ao norte, oeste e sul, e com a Jordânia a leste.
O Hamas governa Gaza. E na Cisjordânia, a Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas exerce um autogoverno limitado desde os Acordos de Oslo assinados em 1993.
Os acordos conferiam à Autoridade Palestina soberania parcial sobre partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que juntamente com Jerusalém Oriental fariam parte de um futuro Estado Palestino.
Abbas foi eleito pela primeira vez em 2005 para um mandato de quatro anos mas, 18 anos depois, ainda não foram realizadas novas eleições no território.
Embora o presidente tenha o apoio do Ocidente, ele é impopular nos territórios palestinos, algo que se agravou desde o início desta nova guerra.
Abbas opôs-se ao Hamas, o movimento islâmico que nega o direito de existência de Israel e que desde o início rejeitou o processo de paz e a solução de dois Estados.
O Hamas assumiu o controle de Gaza em 2007, depois de vencer forças do partido Fatah, de Abbas.
Anos de negociações para uma reconciliação entre os dois grupos não conseguiram qualquer progresso até o momento.
Entretanto, os assentamentos israelenses — que são considerados ilegais pelo direito internacional, mas não por Israel — continuaram a se expandir pela área.
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