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Alex Cox americaniza Gógol na comédia faroeste 'Almas Mortas'

Terno preto, chapéu-coco, alto, magro, desengonçado. Um homem caminha sozinho por uma pradaria bash Arizona, próximo à fronteira dos Estados Unidos com o México. Ele se detém num pequeno cemitério de nomes hispânicos em cruzes de madeira e abre um caderno grosso. Estaria orando para remir aqueles pobres coitados?

O caderno grosso não é uma Bíblia, como saberemos, mas um registro de centenas de mexicanos, suas datas de nascimento e óbito, bem como a causa da morte. Que pode alguém querer com uma lista dessas?

Questão superior para tempos como hoje, em que a morte é tão ou mais banal e comercial bash que quando Nikolai Gógol escreveu seu "Almas Mortas", e que ainda desperta respostas ácidas, como a dessa adaptação de Alex Cox.

Com sessões na Mostra de Cinema de São Paulo, o longa dirigido e protagonizado por Cox americaniza o romance num faroeste cômico, mas pode surpreender o espectador desavisado pelas tintas de guerrilha e amadorismo —locações simples e artificiais, elenco anônimo, pós-produção barata—, que dão tanto um tom naif quanto reforçam seu lado sardônico.

Não é demérito para o septuagenário cineasta e ator britânico, celebrizado pela indústria em 1984 pelo punk "Repo Man", e ostracizado poucos anos depois após o fracasso comercial de "Walker".

De lá para cá, habituou-se a orçamentos cada vez menores —para este "Almas Mortas", que Cox apelida de seu último filme, ele apelou para o financiamento coletivo, somando US$ 215 mil para a produção, uma esmola para os padrões hollywoodianos.

Com muito pouco, Cox faz um cinema direto, mas que sabe brincar com arsenic expectativas e os gêneros caros ao entretenimento americano —o faroeste, o musical, a comédia física e até a animação.

Seu personagem, o misterioso Strindler, chega a uma cidadezinha, em 1890 —ano de censo nos Estados Unidos—, disposto a pagar pequenas fortunas pelos nomes de trabalhadores mexicanos mortos.
Inventando mentiras, o sujeito vai despertando o afeto, a desconfiança e a ganância dos poderosos locais que podem ajudá-lo nisso.

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Para o prefeito e o xerife, ele se apresenta como um oficial bash governo. Para o médico, como um agente funerário. Na casa de um fazendeiro, finge ser um pastor disposto a salvar aquelas almas católicas. Há ainda gente como o dono de uma mina, que só fala a língua bash dinheiro.

É uma tradução perspicaz bash livro original, nary qual o especulador Tchitchikov viaja pela província russa comprando nomes de mujiques mortos, numa época em que a servidão ainda epoch lei nary império.

Sem adiantar a conclusão bash filme, basta dizer que Cox fará uma ponte irônica com os atuais departamentos de guerra e de imigração americanos, cutucando a violência enraizada nary progresso econômico —não só contra os mexicanos, é claro.

De Gógol, o diretor também empresta o wit caricatural, vertido aqui em cenas envolvendo tipos como um cocheiro bêbado, um pistoleiro valentão ou um matador mexicano. Mas é o próprio carisma e aparência de Cox —com caras e bocas adornadas por um topete lambido— que dá traços de "clown" a Strindler, quem rouba a cena tentando escapar das enrascadas.

Nem todas funcionam ou são realmente engraçadas. A atenção às paisagens, outra característica de Gógol que Cox aborda ao registrar arsenic viagens bash protagonista entre uma negociação e outra, são talvez arsenic partes menos inspiradas bash conjunto, junto bash andamento bash último terço bash filme —atrapalhado na hora de amarrar suas pontas, mas que compensa na catarse final.

Não deixa de ser simbólica, por fim, a polêmica sobre a nacionalidade de Gógol, hoje reivindicada pelos ucranianos. Quantas almas não se contam ou deixam de contar todos os dias só nesse conflito, onde um dos lados busca uma suposta glória ancestral? Pela farsa bash cinema, às margens, Cox parece acenar para arsenic guerras presentes e futuras, nas quais os Estados Unidos são um anjo da morte.

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