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Argentina enfrenta piora na economia, mas mantém melhores índices sociais que o Brasil; compare

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Qualquer que seja o candidato eleito, ele deve encontrar uma economia deteriorada que pode afetar os bons indicadores sociais do país, segundo o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Márcio Bobik.

Hoje, a Argentina apresenta uma inflação acumulada no ano de cerca de 120%, com pouco mais de 40% da população dentro da linha da pobreza, segundo os dados mais recentes do governo.

“O Brasil está até relativamente bem por conta da sua relativa estabilidade macroeconômica. Estamos com a inflação sob controle, ainda que o governo tenha problemas de déficit, tem aí uma pauta de reforma caminhando. Mas a Argentina não tem, então realmente é bem complicado, a questão social tende a piorar lá, sem dúvida”, afirmou Bobik.

A inflação acumulada neste ano na Argentina é de 120%, segundo o último boletim divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), do Ministério da Economia argentino. Já no Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 3,75% em 2023, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A inflação está relacionada ao poder de compra das pessoas. Se ela aumenta, o poder de compra diminui. Esse impacto é maior para quem recebe salários menores, já que os preços dos produtos e serviços aumentam sem que o salário acompanhe o crescimento.

O risco-país é um indicador que mede a confiança do investidor, que tende a buscar países com maior credibilidade.

Na Argentina, esse risco hoje é de 4.177,5 pontos. Em 2022, a média foi de 2.061,8 pontos. Já o Brasil apresenta um risco de 157,7 pontos atualmente, contra 254,42 em 2022. Os dados são do economista Victor Beyruti, da Guide Investimentos, a pedido do g1.

O Produto Interno Bruto (PIB) argentino foi de US$ 632,7 bilhões em 2022, segundo dados do Banco Mundial. O resulta apresenta uma recuperação da atividade econômica que retornou a um patamar semelhante a 2017, quando foi de US$ 643,63 bilhões.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. Na Argentina, o indicador apresentou quedas sucessivas em 2018, 2019 e 2020, recuperando-se em 2021 e 2022.

Já o PIB brasileiro foi de US$ 1,92 trilhão em 2022. O indicador teve pico em 2011, quando somou US$ 2,62 trilhões. A crise econômica de 2015 e a pandemia de 2020 derrubaram o PIB a US$ 1,8 trilhão e US$ 1,48 trilhão, nessa ordem.

Javier Milei, candidato da extrema direita à presidência da Argentina, defende dolarizar a economia — Foto: Agustin Marcarian/Reuters

A Argentina tem várias cotações de dólar, como o dólar turista para viajantes argentinos que compram no exterior ou o dólar vaca muerta para o setor de petróleo e gás natural.

Segundo levantamento do economista Victor Beyruti, a cotação média do dólar em 2022 foi de 130,65 pesos para US$ 1, contra 261,94 pesos para US$ 1 na média em 2023. Já a cotação no Brasil foi de R$ 5,01 em 2023 e de R$ 5,17 em 2022, em média.

O Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas o PIB per capita é 34% menor que o da Argentina. De acordo com dados do Banco Mundial, o Brasil registrou PIB per capita de US$ 8.917,7 em 2022, contra US$ 13.686 da Argentina.

“Na verdade, é até uma contradição. Olhamos a economia argentina em crise, mas quando olhamos os indicadores sociais em relação a Brasil particularmente a gente percebe que a Argentina está na frente em vários indicadores. [...] O PIB per capita fica abaixo da Argentina, a Argentina acumulou um crescimento ao longo da sua história, com problemas talvez distributivos e sociais menores que os do Brasil”, explicou Bobik.
  • População abaixo da linha da pobreza

Contudo, a crise econômica argentina tem elevado o número de pessoas abaixo da linha da pobreza. Em setembro, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina (Indec) apontou aumento de 0,9% entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro de 2023.

Ao todo, aproximadamente 11,8 milhões pessoas estão abaixo da linha da pobreza, o que representa 40,1% da população do país. No Brasil, esse percentual é de 29,4%, segundo dados de 2021 do IBGE.

“Se a economia não cresce e você tem problemas fiscais, o Estado perde a capacidade de tentar minimizar esses problemas sociais”, afirma Bobik.

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  • Índice de desenvolvimento humano, analfabetismo e mortalidade

O Brasil ocupa a 87° posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2022.

O país tem um IDH de 0,754, enquanto a Argentina permanece trinta posições acima, em 47° lugar com IDH de 0,842. O relatório de desenvolvimento é baseado em critérios de saúde, educação e renda.

O país vizinho tem indicadores melhores de expectativa de vida, mortalidade de recém-nascidos e analfabetismo, por exemplo.

Lá, as pessoas vivem em média 75 anos, enquanto no Brasil a expectativa é de 73 anos, segundo informações de 2021 do Banco Mundial. A taxa de mortalidade é de 6% a cada 1.000 recém-nascidos na Argentina, contra 13% no Brasil.

Embora esteja desatualizado, o percentual de analfabetismo é baixo, de 1,9% da população, segundo dados do censo de 2010. No Brasil, em 2022, 5,6% da população era considerada analfabeta de acordo com o IBGE.

Para o professor da USP, o processo de formação econômico e social dos dois países explicam a diferença nos indicadores sociais.

“Também ao longo de sua história, houve uma preocupação do estado em prover educação e isso melhora os indicadores sociais. Então, isso explica essa aparente contradição. Mas também tem outra questão: os indicadores do Brasil são muito ruins”, explicou Bobik.
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