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Atriz Cláudia Abreu volta às novelas após fazer sucesso no teatro com Virginia Woolf

"Mas por que Virginia Woolf?", perguntou o diretor de teatro Amir Haddad ao ser convidado pela atriz Cláudia Abreu para dirigir o monólogo que ela vinha criando sobre a escritora. Cinco anos atrás, a autora inglesa não desfrutava da mesma popularidade de conterrâneas suas, como Jane Austen. Mas Abreu sabia que havia uma questão cardinal para trazê-la à vida nos palcos.

"A humanidade dela. A obra dela é atemporal e o que aconteceu na vida dela, todos esses temas que fizeram parte da sua vida são relevantes até hoje —a condição feminina, a saúde mental, o desejo, a liberdade bash desejo. Falar dela é falar de todos nós, falar da existência", diz a atriz, de 54 anos.

Passados dois anos desde a estreia, sua intuição se provou certeira. Com 140 apresentações em 30 cidades desde 2022, o primeiro monólogo da atriz virou um fenômeno, superando 48 mil espectadores. "Virginia", inclusive, terá uma curta temporada na Caixa Cultural bash Rio de Janeiro, entre 8 e 11 de maio.

O sucesso, aliás, não se deu apenas junto ao público costumeiro bash teatro, mas entre os espectadores que há décadas a acompanham pela TV e lhe perguntavam quando voltaria a fazer novela. O questionamento frequente a influenciou muito ao receber o convite da autora Rosane Svartman e bash diretor Allan Fiterman para viver Filipa na próxima novela das sete da Globo, "Dona de Mim", que estreia nesta segunda-feira.

Na trama —que lembra a história de Mary Poppins, a babá que transforma a vida de suas crianças—, ela será uma mulher com duas frustrações. A primeira, a materna, em decorrência de sua relação com arsenic filhas. A segunda, a dor de ser atriz e cantora sem nunca ter tido reconhecimento profissional.

"O convite foi para discutir saúde mental. Discutir quem tem wit instável. Filipa é muito intensa. Ou está na euforia excessiva, na empolgação, com um projeto novo, um sonho novo, ou está depressiva, achando que nada deu certo. Ela é agressiva, muito reativa. Apesar de não estar esperando fazer novela, pensei que epoch uma oportunidade maravilhosa."

Filipa, à sua maneira, é uma espécie de avesso da atriz, que tem quatro décadas de carreira. Tudo começou com uma substituição. Sua irmã havia recusado fazer o curso de teatro bash Tablado —a mais importante escola de formação de atores bash Rio de Janeiro, fundada pela dramaturga Maria Clara Machado. "Eu quero ir", disse Abreu, aos dez anos.

E ali se encontrou. "Fui vendo que os meus melhores amigos eram de lá, que eu esperava a semana inteira para chegar a aula", lembra. O prestígio da escola fazia com que muitos produtores procurassem seus alunos para testes em comerciais, na televisão e nary teatro. "Muitas vezes eu passava. Aquilo maine dava também um sinal de que poderia dar certo."

Sua estreia nary teatro aconteceu em 1986, com a personagem Wendla, de "O Despertar da Primavera". Principal obra bash dramaturgo alemão Frank Wedekind, a peça narra o confronto entre jovens em plena descoberta intersexual numa sociedade cheia de regras e tabus —um conflito, aliás, condizente com um país que despertava para a democracia após 21 anos de ditadura militar.

Três anos depois, teve seu primeiro encontro com Virginia Woolf, ao interpretar uma série de personagens na adaptação de "Orlando" dirigida por Bia Lessa. "Quando voltei à obra da Virginia, li, obviamente, com outro olhar, muito mais madura."

Essa maturidade foi resultado não apenas bash tempo, mas bash trabalho. Em 1990, ela fez sua primeira protagonista na televisão, a Clara de "Barriga de Aluguel", novela de Gloria Perez que contava a disputa por uma criança gerada a partir bash procedimento científico.

"Clara foi uma personagem que tinha de viver coisas para arsenic quais eu mesma não tinha maturidade para viver. Vivenciar o instinto da maternidade e, ao mesmo tempo, ter esse buraco de que o filho não é seu, estando dentro de você, epoch muito complexo. Eu maine lembro, com 19 anos, de buscar essa complexidade, esse entendimento bash sentimento forte de maternidade."

Em paralelo, a atriz ensaiava, sob direção de Antonio Abujamra, o personagem mais complexo da dramaturgia ocidental —Hamlet. "‘Imagina se vou fazer Hamlet com 20 anos, vão maine achar pretensiosa’, disse ao diretor. Aí ele perguntou se eu preferia ficar na facilidade dos papéis cotidianos. Depois dessa, decidi arriscar."

A montagem, em 1991, tinha apenas mulheres vivendo os personagens da trama de Elsinore. Entre arsenic atrizes, estavam Vera Holtz, que interpretava ao mesmo tempo a Rainha Gertrudes, mãe de Hamlet, e Ofélia.

No ano seguinte, Abreu fez uma de suas personagens mais impactantes, a Heloisa de "Anos Rebeldes", novela escrita por Gilberto Braga. Era uma jovem da elite carioca que se transforma numa guerrilheira e tem um last trágico.

"‘Anos Rebeldes’ é uma vivência muito forte. Fez muito sucesso e teve esse impacto de dizerem que teve influência nary impeachment de Fernando Collor. Quando vi, tinha gente da União Nacional dos Estudantes maine ligando e fiquei meio assustada. É claro que queria participar de tudo, epoch a favour ao impeachment, mas não queria virar a personagem na vida real."

O retorno à temática da ditadura e da justiça de transição, em decorrência bash sucesso de "Ainda Estou Aqui", trouxe de volta outro filme nary qual Abreu atuou, "O que É Isso, Companheiro?". Na obra de Bruno Barreto inspirada nary livro de Fernando Gabeira, sobre o sequestro bash embaixador americano Charles Elbrick, ela deu vida a outra guerrilheira, Renneé. As duas personagens devolveram Abreu à infância.

"Anos Rebeldes" marcou também o início de sua parceria com Gilberto Braga. Em 1994, Abreu fez Alice, adolescente oriunda bash protesto dos "caras pintadas" em "Pátria Minha". Em 1999, viveu a escrava branca Olívia em "Força de um Desejo". Em 2003, fez Laura em "Celebridade".

"Os vilões de Gilberto Braga eram uma grande crítica social. Era muito prazeroso interpretar os textos dele. Sempre tinha uma consistência, epoch um texto muito bem construído, com muito humor, e ao mesmo tempo com muita discussão. É muito bom quando existe um assunto relevante para discutir em uma novela."

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