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B3 marca para 2026 voo solo de sistema com tecnologia do bitcoin

Está no horizonte adaptar os sistemas para negociações que eventualmente ocorram 24 horas por dia e sete dias por semana e para um momento em que o casamento entre os mundos financeiro e de criptoativos esteja consumado. Tudo isso passa por uma migração para nuvem e terá em 2026 um marco importante: a operação de um dos sistemas cruciais da B3 rodando exclusivamente na tecnologia de registro que fez o bitcoin famoso, conta à coluna o vice-presidente de tecnologia, Rodrigo Nardoni.

A filha mais nova de um amigo meu do mercado financeiro perguntou para ele: 'Pai, por que que a bolsa não abre no final de semana? Por que eu não posso comprar ou vender uma ação hoje? [era sábado]' As pessoas se acostumaram a fazer tudo a qualquer momento. Se você olhar para os mercados de criptomoedas, não existe abertura e fechamento. É impossível saber o preço de fechamento de um dia. [Na B3] Estou me preparando para uma volumetria muito maior, para atender a uma sofisticação de mercado e para um mercado que eventualmente não abre nem fecha
Rodrigo Nardoni, vice-presidente de tecnologia da B3

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Ainda que tenham sido aposentados há 20 anos, os barulhentos pregões presenciais levam as pessoas a crer que a B3 negocia apenas ações de empresas. Mas a aposta tecnológica da principal bolsa de valores da América Latina encampa outros negócios, como as negociações de balcão, já que:

  • Essa modalidade, onde são comercializados ativos não registrados em bolsa, como títulos do governo, CDBs, LCIs e debêntures, passa por uma dupla mudança. De um lado, uma nova plataforma, mais rápida, modular e voltada a títulos públicos e alguns privados, já opera LCDs (Letras de Crédito de Desenvolvimento). Em breve, a Trademate deve receber as CCBs (Cédulas de Crédito Bancário). Por outro lado...
  • ... Um novo sistema para as outras negociações de balcão está sendo construído e, por ora, o que Nardoni adianta sobre ele é que a B3 busca um novo nome --o atual é chamado de Sistema de Balcão. Segundo ele...
  • ... As mudanças nessa área buscam tentam equilibrar, ao mesmo tempo, as exigências de clientes tradicionais, como grandes bancos, e dos "nativos digitais" do mundo financeiro: "um, os mais tradicionais, é mais focado em processamento em lote; os 'nativos digitais' é mais evento a evento".

A gente não está mais numa posição de falar, 'olha, eu tenho essa solução e todo mundo que me siga'. Não existe mais isso. A gente acredita na centralidade no cliente. E, se eu tenho os 'nativos digitais' e outro cliente com perfil tradicional, eu entrego soluções para os dois"
Rodrigo Nardoni, vice-presidente de tecnologia da B3

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  • Enquanto as transações de balcão geram maior volume, por lidarem com renda fixa, as negociações dos ativos listados são as mais vistosas, rendem recordes e é para onde o investidor olha na hora de ver se a Bolsa subiu. A compra e venda de ações se apoia em três sistemas, que também estão sendo atualizados, mas separadamente...
  • ... No de negociação, que registra as ordens, a infraestrutura está sendo simplificada e migrada para a nuvem de modo a permitir ampliar a capacidade de operação quando for preciso. A meta também é reduzir a latência --o tempo de resposta de uma ação é crucial para os HFTs (Negociadores de Alta Frequência, na sigla em inglês). Se era de 1,2 milissegundo, em 2023, caiu para os atuais 250 microssegundos. O objetivo é chegar a 150 microssegundos, um patamar internacional. Seguindo...
  • ... Na clearing, etapa de liquidação das transações (compras e vendas são "casadas" para obrigações serem cumpridas), a arquitetura está sendo trocada para ser baseada em microsserviços e rodar de forma nativa na nuvem. Mas isso tem sido feito aos poucos, e a primeira entrega foi a parte que gerencia o risco das transações na B3. No entanto...
  • ... A mudança mais radical é feita na central depositária de renda variável. Em parceria com a sueca Vermiculus, a B3 está migrando essa infraestrutura, onde as ações são armazenadas, para a DLT (Tecnologia de Registro Distribuído, na sigla em inglês). Guardadas as nuances técnicas, essa forma de manter registros distribuídos em rede é a tecnologia que sustenta o bitcoin e outros ativos criptográficos --no caso das moedas, pode chamar de blockchain. Na B3...
  • ... A adoção tem ocorrido em fases. Na primeira, concluída em janeiro, replicaram no DLT o que a plataforma atual faz. Na segunda, a blockchain alçará voo sozinha, enquanto a antiga fica de backup; Isso está programado para ocorrer em 2026. Na terceira e última, o sistema anterior é eliminado completamente.
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Para Nardoni, a modernização, apoiada em parcerias com Oracle e Microsoft, é crucial para "potencializar o crescimento do mercado brasileiro". De um lado, diz ele, a B3 se prepara para uma sofisticação e uma possível exigência de operar ininterruptamente, trazidas pela tokenização de ativos.

Imagina um mercado onde eu possa fazer num banco central a liquidação de ativos usando moedas digitais. Isso vai acontecer no ambiente DLT. Estou me preparando para quando essa onda chegar e oferecer novas soluções

Eu não sei se a stablecoin vai voar ainda ou se a tokenização de ação vai ser alguma coisa que faça sentido. Será que há outros mercados onde esse uso pode ser mais trivial? Por exemplo: será que, em real estate, a gente pode ter edificações tokenizadas dentro de uma DLT? Aqui eu tenho necessariamente mais perguntas do que respostas. Mas quero ter uma infraestrutura preparada para responder a tudo isso
Rodrigo Nardoni

De outro lado, a B3 se moderniza para se colocar em pé de igualdade com bolsas internacionais, como as do CME Group e da Eurex. Na prática, o objetivo é garantir que investidores qualificados, como os HFTs, tenham no país um ambiente de negociação equiparável ao de outras localidades. Sem essa preparação, o temor é que ocorra uma fuga desses players para bolsas mais preparadas para a altas demandas.

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Mas e inteligência artificial generativa? Tema incontornável para empresas de qualquer segmento, a tecnologia é abordada de maneira pragmática na B3. Nardoni explica que a aplicação de IA Generativa em sistemas críticos (negociação, clearing e depositárias) é feita com cautela, porque os resultados gerados por ela são probabilísticos, não determinísticos, como esses ambientes exigem. "Eu não posso errar de jeito nenhum."

No entanto, diz o executivo, a adoção de IA internamente já está ocorrendo. Para outras áreas de negócio, a implantação precisa seguir uma regra: "Não é a tecnologia pela tecnologia, tem que fazer sentido". Exemplo disso é o um chatbot criado para corretoras que, inicialmente, responde perguntas ("Quais ordens estão descasadas?"), mas que, futuramente, realizará ações de forma automática ("Case as ordens para fechar o dia").

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