Carla Zambelli fala na Câmara

Crédito, Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Legenda da foto, Zambelli teve mandato cassado na Câmara e aguarda audiência de extradição na Itália

Há 23 minutos

A Câmara dos Deputados decidiu pela manutenção do mandato de Carla Zambelli (PL-SP) na noite desta quarta-feira (10/12). Foram 227 votos a favor da cassação e 110 contrários.

Eram necessários 257 para que fosse aprovada a perda de mandato da parlamentar, que foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e está presa na Itália.

O resultado da votação, que se estendeu até depois de meia-noite, contraria a recomendação feita mais cedo pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara ao plenário da Casa.

Os membros da CCJ rejeitaram, por 32 votos a 27, as conclusões do relator original do processo, deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), que havia defendido a manutenção do mandato de Zambelli.

Ela foi condenada a dez anos de prisão e à perda de mandato por invadir sistemas de mandados judiciais do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o auxílio de um hacker. A deputada sempre negou as acusações.

Zambelli foi presa na Itália em 29 de julho. A deputada está no país desde o início de junho e afirmou ser uma "exilada política" que seria alvo de uma suposta "perseguição".

Após pedido da Procuradoria-geral da República (PGR), a prisão da parlamentar foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, depois que ela deixou o país.

Em outubro, o Ministério Público da Itália emitiu parecer favorável à extradição de Zambelli. A audiência que decidirá se a ex-deputada federal será extraditada para o Brasil está marcada para 18 de dezembro.

Zambelli já afirmou que enfrenta problemas de saúde e que "não sobreviveria à prisão".

A deputada pediu licença de seu mandato no início de junho, quando já era considerada foragida.

O acórdão do STF que condenou a deputada determinou que seu mandato fosse cassado — entretanto, a decisão precisava ser validada pela Câmara dos Deputados, onde cassação era alvo de disputas políticas.

Em junho, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), chegou a declarar que determinaria o fim do mandato de Zambelli sem submeter o processo à aprovação da Câmara.

Após pressão da bancada bolsonarista, Motta recuou e encaminhou o processo à CCJ.

Por que Carla Zambelli foi condenada?

Carla Zambelli foi acusada pela PGR de planejar e coordenar, com o auxílio do hacker Walter Delgatti, uma invasão ao sistema do CNJ no início de 2023.

Segundo a denúncia, o objetivo da deputada era incluir alvarás de soltura falsos e um mandado de prisão forjado contra o ministro Alexandre de Moraes.

Delgatti, que confessou o ataque, foi condenado a oito anos e três meses de prisão. Ele afirma ter feito a invasão a mando da deputada.

Os dois foram condenados pela Primeira Turma do STF em maio.

Delgatti gesticulando enquanto fala; ele está sentado em sala

Crédito, Geraldo Magela/Agência Senado

Legenda da foto, Defesa de Zambelli argumentou que evidências contra ela se baseiam apenas nos depoimentos de Delgatti

Moraes, relator do caso, votou por sua prisão e foi acompanhado de forma unânime pelos ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.

No voto que embasou a condenação, Moraes afirmou que Zambelli atuou de forma "premeditada, organizada e consciente", com a intenção de desacreditar as instituições do Estado democrático de Direito.

"Como deputada federal, portanto representante do povo brasileiro e jurada a defender a Constituição, utilizou-se de seu mandato e prerrogativas para, deliberadamente, atentar contra a credibilidade do Poder Judiciário", escreveu o ministro.

A pena, segundo ele, foi agravada pelo "comportamento social desajustado ao meio em que vive a acusada" e pelo "desrespeito às instituições e à democracia".

Zambelli negou envolvimento nos crimes e afirmou que não há provas que a conectem diretamente à invasão.

Ela também acusou Delgatti de ser um "mentiroso patológico" que alterou sua versão dos fatos em pelo menos seis depoimentos.

"A própria Polícia Federal, quando esteve na casa dele, o classificou como mitômano, que mente e inventa histórias", afirmou.

A defesa da parlamentar argumentou que a condenação se baseou exclusivamente nos depoimentos de Delgatti, que seriam contraditórios e imprecisos.

Ela também tem uma segunda condenação na Justiça, pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. Neste caso, foi fixada pena de 5 anos e 3 meses de prisão, em regime inicial semiaberto, além do pagamento de multa.

A decisão também determinou a perda do mandato parlamentar, que ainda aguarda o trânsito em julgado (quando não há mais possibilidade de recurso).