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Chuvas impactam produtores e vinícolas da Serra Gaúcha

Com chuvas frequentes e intensas, além de eventos climáticos como vendavais e queda de granizo, produtores do setor vitivinícola da Serra Gaúcha estão expressando suas preocupações com os estragos que as intempéries vêm provocando nos negócios.

Os danos passam por questões paralelas à produção e pontuais, como danos à infraestrutura, trafegabilidade de estradas e acessos às propriedades. Mas vão além: o impacto que o clima poderá causar na próxima safra de uva e derivados, principalmente o vinho, diz respeito principalmente à quantidade, mas também à qualidade da produção.

Segundo o engenheiro agrônomo Enio Todeschini, da regional da Emater de Caxias do Sul, a redução da safra é certa. “As chuvaradas de setembro, outubro e novembro próximas a uma precipitação de 1.500mm, que é três vezes a média, certamente estão impactando na produtividade das parreiras”, comentou.

Mas o clima como um todo, pontua Todeschini, têm influência sobre a produção, como o inverno com temperaturas mais altas. “A primavera muito chuvosa e o excesso de dias nublados não deixam as plantas expressarem seu potencial produtivo, e isso também interfere em doenças nas parreiras”, explica. No entanto, a qualidade da safra ainda é uma incógnita. “Normalmente isso é definido no último mês antes da colheita. Em dezembro, portanto, a situação pode se complicar, ou até reverter”.

O secretário da agricultura e abastecimento de Caxias, Rudimar Menegotto, confirma a tendência. Apesar de a maior cidade da Serra contar com diversos microclimas e diferentes reflexos do tempo nas propriedades, o secretário pontuou que há variedades com mais chance de sofrerem perdas, como a Niágara e a Bordô, cujas floradas sofreram com a umidade. “Como a uva bordô representa quase 50% da produção do município, certamente haverá prejuízo para o produtor. Algumas estimativas são de colheita de só 50% do que gerou a safra passada”, estima. Com danos estruturais e nas lavouras, Caxias do Sul está avaliando os estragos e prejuízos financeiros e decretou situação de emergência.

O temporal que atingiu a Serra no fim da última semana teve reflexos especialmente graves em municípios como São Marcos e Flores da Cunha, que estão entre os cinco municípios da Serra com maior produção desde 2004, segundo a Associação Brasileira de Enologia.

Outro município com graves perdas no setor vitivinícola é Nova Roma do Sul, que ainda sofre com os estragos de setembro, que levaram a ponte de ferro sobre o Rio das Antas. Entre as 18h e 23h da sexta-feira (17), houve nada menos que três precipitações de granizo, com a queda de 300mm de chuva no intervalo de três horas, segundo conta o prefeito Douglas Favero Pasuch (PP).

“Perdemos três dos quatro acessos ao município”, relata. “Além disso, perdemos pouco mais de um terço da produção de uvas”. Segundo Pasuch, no caso das vinícolas, ainda que o fornecimento de matéria prima possa ser amenizado com a aquisição de produtores em outros municípios, isso acaba diminuindo a arrecadação tributária do município. Segundo ele, a estimativa total de prejuízo, incluindo perdas agrícolas e estruturais, é de R$ 33 milhões. Somente com a uva, a estimativa de perdas entre 12 e 18 de setembro, segundo a Emater, foi de R$ 16,1 milhões.

Vinícolas lamentam prejuízos e preveem safra menor

Com eventos climáticos frequentes, intensos e violentos, os prognósticos não têm sido animadores para as empresas. Em Flores da Cunha, a vinícola Família Bebber enfrenta prejuízos tanto junto aos fornecedores, que tiveram perdas na produção, quanto com danos estruturais diversos na própria vinícola, provocados pela tempestade da semana passada. De acordo com o sócio-proprietário e enólogo Felipe Bebber, isso traz dificuldades justamente no fim do ano, época de maior demanda. “Tivemos perdas significativas no setor de rotulagem e estoque, perdendo inclusive produtos prontos para despachar. A nossa estrutura cedeu e acabou caindo. É uma época de prazos apertados, e ter de fazer essa realocação é bastante desafiador”, estima.

Em Nova Roma do Sul, um dos negócios impactados foi o do empresário João Pedro De Bastiani, proprietário da vinícola De Bastiani. “A queda da ponte já zerou o acesso de turistas. Mas com toda essa chuva e principalmente o granizo, vai haver muito impacto no volume do produto final”, avalia.

De Bastiani estima uma perda de 50% em seus parreirais, e não vê suficiente recuperação no próximo ano. “Mesmo fazendo uma seleção de poda, acho que vou precisar de uns três anos para recuperar aquelas parreiras”, calcula. No caso da qualidade, tudo o que o produtor deseja é sol. “É o que precisamos no momento da colheita, pois 70% do açúcar das uvas vem do sol. Sem isso, haverá uma perda significativa de qualidade”.

A vinícola Catafesta, de São Marcos, aponta que ainda está avaliando o volume de perdas junto a seus fornecedores mais constantes. Apenas 5% da produção da Catafesta é de parreiras próprias e, segundo o consultor administrativo-financeiro da empresa, Clair Martinelli, estas não tiveram prejuízo. Mas o consultor aponta que a próxima safra será bem diferente dos últimos três anos que, segundo ele, contaram com uma “qualidade fantástica”. “Esse ano a gente tem certeza de que isso não irá ocorrer. Só se parar a chuva agora e não voltar mais até a colheita. A tendência é de que, para quem possuir estoque dos anos anteriores, contar com essas garrafas para garantir a qualidade”, prevê.

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