Essa persistência do real desvalorizado com inflação alta pode significar que a política de juros do BC está perdendo a eficácia. "Sim, a polícia monetária perdeu a eficácia. Estamos precisando de juros cada vez maiores para colocar a inflação na meta. Se as taxas caminharem como o mercado projeta, estamos com juros reais, aqueles acima da inflação, indo para 10%", diz Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM.
Se o Brasil perder mesmo o controle sobre a inflação, entrará de vez em dominância fiscal. "Dominância fiscal é uma situação na economia em que não adianta o Banco Central subir os juros porque não consegue segurar a inflação", explica Emerson Marçal, professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV. "Se o governo perder credibilidade, o investidor vende seus títulos do tesouro, o governo não consegue financiar a dívida e aí não adianta subir juros. Foi o que aconteceu nos anos 80, quando o governo perdeu a credibilidade e viveu a hiperinflação."
Hoje, o perigo está no descontrole do gasto público. A partir de 2014, o Brasil passou a gastar muito além do que arrecada. Nesse período, os déficits primários somaram R$ 1,6 trilhão. "Temos déficits nas contas há muito tempo, e a relação dívida/PIB é alta para um país como o nosso", diz Alexandre.
O resultado é a disparada da dívida brasileira: ela passou de R$ 2,2 trilhões (51,3% do PIB), em 2011, para R$ 9,1 trilhões em 2024, ou 77,7% do PIB. A dívida aumentou R$ 1 trilhão em comparação com 2023, quando ela somava R$ 8 trilhões e equivalia a 74,3% do PIB. "Um país emergente, de renda média como o nosso, ter uma relação de dívida/PIB em torno de 80% é inviável no longo prazo", diz Alexandre, para quem essa proporção deveria girar em torno de 65%. "Para isso, precisaríamos fazer superávits primários e não déficits recorrentes."
Para ele, o país está à beira da dominância fiscal. "Não creio que já estejamos, mas não se pode descartar a possibilidade. Diria que estamos na antessala", diz. "Se não corrigirmos esse quadro no curto prazo, fazendo ajustes críveis, reformas e cortes de gastos significativos, a chance aumenta muito."
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