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Democracia brasileira nos surpreende, diz Wisnik no lançamento de 'A Palavra e o Poder' em Lisboa

—"A democracia brasileira vai várias vezes para o fio da navalha, a ponto de desmoronar completamente, e de repente nos surpreende, nos ensina como lidar com autoritarismos e ameaças de golpe", afirmou o ensaísta e compositor José Miguel Wisnik no lançamento do livro "A Palavra e o Poder - uma Travessia Crítica por 40 anos de Democracia Brasileira" em Lisboa nesta quarta (26).

Wisnik chamou a atenção para a sincronicidade entre o lançamento da publicação e as notícias que chegam do país. "O Brasil não coube no abismo que foi o golpe tentado e que está sendo punido."

Parceria da Folha e do grupo editorial Record, o livro reúne 41 textos publicados no jornal ao longo de 40 anos de democracia, contextualizados e comentados por jornalistas e personalidades relevantes no debate público brasileiro.

O lançamento aconteceu na Fundação Calouste Gulbenkian, marco simbólico da redemocratização portuguesa. Foi lá que, em 1975, instalou-se o quartel-general das apurações da primeira eleição do país após o fim da ditadura salazarista.

A mesa de lançamento reuniu os brasileiros Wisnik e Milena Britto, dois dos três curadores da exposição "Complexo Brasil", em cartaz na própria Gulbenkian; os portugueses Capicua e Rodrigo Tavares, ela rapper e escritora, ele idealizador e um dos organizadores do livro (ao lado dos jornalistas da Folha Flavia Lima e Naief Haddad); e a jornalista Mafalda Anjos, mediadora da conversa.

O editor-executivo da Folha, Vinicius Mota, foi responsável pela fala de abertura.

Milena Britto, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), falou sobre política e cultura, fazendo a ponte entre o livro "A Palavra e o Poder" e a exposição da qual é uma das curadoras. "A gente vive festejando o lado luminoso da democracia, mas há também o lado sombrio. Há quem acione os princípios democráticos para fins que não são necessariamente democráticos", disse.

"Neste momento muitas vezes somos salvos pela arte e pela cultura, pelas palavras que vêm das ruas e se transformam em luta e resistência."

Capicua afirmou que o Brasil é um manancial de produção cultural e de manifestações da sociedade civil. "Sinto-me privilegiada de falar a mesma língua e ter acesso a tudo isso", disse.

Segundo ela, "na democracia brasileira, é entusiasmante acompanhar o crescimento de manifestações como o feminismo, especialmente o feminismo negro brasileiro".

Rodrigo Tavares, professor da Universidade Nova de Lisboa, comparou os processos de redemocratização do Brasil e de Portugal. "Os dois países vieram de ditaduras muito longas e tentaram desde o começo criar direitos sociais em suas constituições —não tínhamos SUS no Brasil nem seu similar, o SNS, em Portugal."

De acordo com ele, "Brasil e Portugal têm também imaginários semelhantes, os dois oscilam entre o atraso e a vontade de ser uma potência, Portugal olhando para o passado, o Brasil para o futuro".

Em sua intervenção, Vinicius Mota lembrou que o texto publicado na Folha sobre a Revolução dos Cravos, em abril de 1974, foi escrito pelo jornalista português Victor Cunha Rêgo, uma influência na formação de Otavio Frias Filho, o responsável, nos anos 1980, pela modernização e profissionalização do jornal.

"O jornalismo se distancia dos sectarismos e se aproxima do público quando submete todos os poderosos, a despeito de suas inclinações ideológicas, ao mesmo crivo da crítica", disse Mota, relembrando uma crença comum de Frias Filho e Cunha Rêgo.

Em sua fala final, Tavares ressaltou a força da sociedade civil brasileira como um dos motores da redemocratização do país. Nos anos 1970, em plena ditadura e de forma pioneira, a Folha abriu suas páginas a protagonistas da sociedade civil, que criticavam o regime no papel de colunistas e colaboradores.

Seguiu-se de forma natural o protagonismo do jornal na campanha das Diretas Já, com o slogan "use amarelo pelas Diretas". Tavares apontou o texto de Ulysses Guimarães produzido no calor dessa campanha, em 25 de janeiro de 1984, como um dos destaques do livro.

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