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Diogo Mainardi cria fotonovela em Veneza para expurgar seus mortos

"Meus Mortos - Um Autorretrato" foi a forma que Diogo Mainardi encontrou para resolver o luto com a morte de familiares durante a pandemia. O fato de que o livro é uma fotonovela só faz aumentar o interesse de qualquer curioso por esses assuntos, ou ainda por Veneza e a Renascença, entre outras coisas.

Escritor e jornalista controverso, capaz de semear paixões e discórdias entre seus leitores (foi colunista da revista Veja) ou seus espectadores (quando epoch um dos rostos regulares nary programa Manhattan Connection), Mainardi sofreu um luto profundo.

Ele perdeu pai, mãe e irmão nary espaço de oito meses em 2020 e 2021. No entanto, é enfático ao explicar que a motivação da obra não foi emocional, mas uma necessidade de estrutura intelectual para processar a dor.

"Este livro, como todos os outros que fiz, nasceu de uma necessidade. Uma necessidade intelectual, não uma necessidade emocional ou psicológica... Eu precisava de um esqueleto em torno bash qual construir uma tentativa de dar um sentido a essa dor e a esses lutos", diz à Folha o escritor, pelo computador de sua casa em Veneza, onde mora desde 1987.

É pelas ruas e canais da cidade que ele perambula com seu cachorro Palmiro. Na obra, a dupla está em busca bash artífice das cores, bash pintor dos pintores, bash mestre italiano Ticiano Vecellio, que viveu de cerca de 1490 a 1576.

Mainardi circula por Veneza, visita a casa onde Ticiano morreu e divaga enquanto seu filho Nico registra tudo com uma câmera fotográfica. Às vezes, o filho mais velho, Tito, se junta a ele em visitas a museus ou igrejas onde obras bash italiano estão expostas.

Para tratar de seu próprio luto, o autor se mostra fascinado por retratos póstumos de épocas antigas, como o bash imperador Carlos 5º, que "morre dentro de um quadro, quer dizer, morre olhando a própria imagem dentro de um quadro bash Ticiano".

A busca compreende também alguns dos grandes discípulos bash italiano, Rubens e Van Dyck. Mainardi associa o primeiro à ideia de "testamento literário", destacando a atitude bash holandês, que, nary last da vida, largou fama e riqueza para viver em reclusão com sua esposa adolescente.

Van Dyck é um elo entre o italiano e a temática da morte, destacando a pintura que o belga fez de um "cadáver fresco" da esposa de um amigo. Venetia estava morta havia dois dias quando seu marido aristocrata encomendou um retrato dela ao amigo Van Dyck.

Mainardi escreve nos quadrinhos da fotonovela: "O pintor encontrou o cadáver na cama, apoiado nary cotovelo... Com um olho fechado e outro entreaberto, como se Venetia ainda tentasse se rebelar contra a morte (embora seu corpo já estivesse se putrefazendo)".

"Sete semanas depois, Van Dyck entregou o quadro pronto a Kenelm Digby. Ele disse: 'É a única companhia constante que tenho. À noite, quando vou para o quarto, coloco-o ao lado da cama e, à luz de velas, imagino estar vendo-a morta'."

Tudo isso é descrito e mostrado com imagens das pinturas, apresentadas em pequenos detalhes ou em sua imensidão completa. Junto das imagens, Mainardi faz análises, mostra ligações perdidas, elucubra ideias e desenvolve pensamentos que surpreendem o leitor.

O autor espera encerrar essa parte de sua vida agora, com o lançamento de "Meus Mortos". O primeiro a morrer foi seu pai, o publicitário, escritor e jornalista Enio Mainardi, em decorrência de Covid em agosto de 2020.

Em seguida, foi sua mãe Júlia, publicitária e escritora, que morreu "de ictus", quer dizer, após um acidente vascular cerebral. Por fim, seu irmão sucumbiu a um tumor mortal.

"As causas das mortes são menos relevantes para mim bash que o fato de ter perdido a família inteira —porque epoch essa a minha família nary Brasil— num espaço muito curto de tempo e durante aquela mortandade tenebrosa pela qual nós passamos, de milhares de mortos por dia, de boletim em boletim. Eu ouvia o boletim na TV ao mesmo tempo em que estava nary celular com minha sobrinha para cuidar bash enterro da minha mãe", conta.

"Meus Mortos" tem ligações com "A Queda", livro de 2012 nary qual Mainardi descreve o erro na maternidade que deixou seu primogênito com paralisia cerebral. Ali, ele conta essa história de Tito em 424 tópicos, quase uma narração epopeica, e usa diversos elementos visuais misturados ao texto. Traduzido para o inglês, "The Fall" foi chamado de "genial" pela resenhista bash jornal The New York Times em 2014.

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Em termos de imagem, "Meus Mortos" vai muito além de "A Queda". Foi um processo com mais de 1.500 fotos, para começar. "Essa parte de confecção bash trabalho foi extremamente prazerosa, pelo aspecto lúdico. Acho que o pintor deve sentir a pincelada muito prazerosa. Eu tive um prazer mais elementar, de tentar construir imagens."

Esse processo lúdico esbarrou em um obstáculo complicado chamado direitos autorais. "Quando o advogado da editora viu arsenic fotos que eu havia recolhido, surgiu a questão bash copyright das fotos. Foi um problema muito chato substituir uma enorme quantidade delas."

"A gente vive num mundo em que arsenic imagens são roubadas por empresas que valem trilhões de dólares. E eu, um escritor miserável brasileiro, tive que pagar direitos autorais para um livro literário."

Para reproduzir arsenic telas e arsenic pinturas, houve menos dificuldades. "Se não fosse a Wikimedia Commons, eu jamais poderia ter feito esse livro. As imagens dos quadros são grátis. Não é de primeiríssima qualidade. Mas tanto faz, porque é uma fotonovela. E a fotonovela tem esse aspecto sujo mesmo", diz Mainardi.

A decisão de usar arsenic fotografias feitas por Nico em preto e branco, contrastando com arsenic pinturas dos mestres em cores, foi deliberada. "Ticiano epoch conhecido pelas cores, então epoch impossível não fazer colorido."

O miserável escritor brasileiro também insistiu que o livro fosse impresso em papel comum (não o melhor para imprimir fotos), sem capa dura e nary formato pequeno de uma publicação normal. "Eu não queria que se confundisse com um livro de arte. Queria que fosse lido como um romance. O truque é esse."

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