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Ditador Bashar al-Assad deixou a Síria e instruiu 'transição pacífica de poder', diz Rússia

Algum avião deixou a Síria nas últimas horas?

Segundo a agência de notícias Reuters, um avião da Syrian Air decolou do aeroporto de Damasco no momento em que houve a ocupação dos rebeldes. A aeronave inicialmente teria voado em direção à região costeira da Síria, um reduto da seita alauita de Assad, até fazer uma curva brusca e prosseguir na direção oposta. Minutos depois, sumiu do mapa, mostra o site Flightradar.

"O avião desapareceu do radar, possivelmente o transponder [transmissor de rádio na cabine do piloto] foi desligado, mas acredito que a maior probabilidade é que a aeronave tenha sido derrubada,” disse uma fonte síria à Reuters, sem entrar em maiores detalhes.

Até a última atualização desta reportagem, não havia a confirmação de quem estava a bordo.

O único voo rastreável partindo da Síria, visível após a meia-noite nos sites de monitoramento aéreo, deixou Homs em direção aos Emirados Árabes Unidos. A decolagem ocorreu horas depois de os rebeldes capturarem a cidade, afirmam agências internacionais.

Quem falou com Assad mais recentemente?

De acordo com o "The New York Times", o primeiro-ministro da Síria, Mohammad Ghazi al-Jalali, afirma que conversou por telefone com o ditador Assad no último sábado (7), mas não conseguiu mais entrar em contato com ele desde então.

A Rússia, sem dar maiores detalhes, informa que Assad deixou a Síria e ordenou uma transição pacífica de poder.

Qual a reação da população na Síria?

Segundo testemunhas, milhares de pessoas, a pé e em carros, reuniram-se na praça principal de Damasco, acenando e gritando "Liberdade" após o domínio da capital.

Em um pronunciamento ao vivo na TV local, os rebeldes comemoraram o que chamaram de "queda de Assad" e afirmaram estar libertando pessoas que foram injustamente presas durante o regime do ditador.

Ainda há chance de o regime de Assad sobreviver?

Segundo a Reuters, o primeiro-ministro sírio afirmou que estava disposto a apoiar a continuidade do governo, mesmo após a fuga de Assad.

Por outro lado, segundo a Rússia, o próprio Assad já teria instruído, após fugir do país, que a transição do poder fosse feita de forma pacífica.

O líder da oposição síria, Hadi al-Bahra, baseado na Turquia, anunciou à Al Jazeera que representantes do grupo se reunirão com países árabes e europeus e com a ONU para discutir e definir a próxima fase do processo político na Síria.

O que diz o líder dos rebeldes?

Abu Mohammed al-Golani, líder do grupo rebelde que afirma ter derrubado o ditador sírio, afirmou neste domingo (8), em pronunciamento lido pela TV estatal, que "o futuro é nosso".

"Não há chance de voltar atrás, estamos determinados a continuar o caminho que começamos em 2011", diz o texto, em referência ao início da revolta contra o ditador.

Nos últimos doze anos, al-Golani trabalhou para reformular sua imagem pública, afastando-se de seu parceiro de longa data, o grupo terrorista al-Qaeda. O líder tenta, aos 42 anos, aprimorar sua reputação e obter o apoio de governos internacionais e de minorias religiosas e étnicas no país, por meio de um discurso de pluralismo e de tolerância.

Como os Estados Unidos se posicionaram?

De acordo com o jornal "The New York Times", um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional afirmou que o presidente americano Joe Biden está "monitorando de perto os eventos extraordinários na Síria".

Mais cedo, antes da fuga de Assad, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que tomará posse em janeiro, disse que o país não deve se envolver no conflito.

França: comemoração pela queda

A França “saúda a queda do regime de Bashar al-Assad” depois de “mais de 13 anos de repressão extremamente violenta contra o seu próprio povo”, reagiu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Christophe Lemoine .

No X, o presidente Emmanuel Macron postou: "O estado de barbárie caiu. Finalmente. Presto homenagem ao povo sírio, à sua coragem, à sua paciência. Neste momento de incerteza, desejo-lhe paz, liberdade e unidade. A França continuará comprometida com a segurança de todos no Oriente Médio."

Israel: preservação das fronteiras

As Forças de Defesa de Israel disseram, neste domingo (8), que não interferirão nos conflitos internos da Síria, mas que protegerão a região das Colinas de Golã, adjacentes ao país e conquistadas pelos israelenses em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias.

“Não serão toleradas ameaças perto da fronteira israelense”, disse o exército israelense em comunicado.

Irã: invasão de embaixada

Segundo a TV estatal do Irã, a embaixada do país em Damasco foi invadida por um grupo armado que "agora controla a maior parte da Síria [ou seja, o Hayat Tahrir al-Sham - HTS]".

Os meios de comunicação árabes e iranianos compartilharam imagens do interior das instalações da embaixada, onde os agressores vasculharam móveis e documentos, além de danificar algumas janelas.

Turquia: reflexão sobre oportunidade perdida

O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, diz que o governo do ex-líder Bashar al-Assad deveria ter aproveitado uma pausa nos combates para “reconciliar-se” com o povo sírio, relata a Al Jazeera.

De acordo com a Reuters, o governo do Egito "apela a todas as partes da Síria para preservar o estado e as instituições nacionais". O comunicado diz ainda que o país acompanha a situação com muito cuidado e "está ao lado do povo sírio, para apoiar sua soberania."

Brasil: monitoramento de brasileiros na Síria

Em nota divulgada pelo Itamaraty no sábado (7), o governo brasileiro afirma que "acompanha, com preocupação, a escalada de hostilidades na Síria. Exorta todas as partes envolvidas a exercerem máxima contenção e a assegurarem a integridade da população e da infraestrutura civis".

O Itamaraty, por meio da Embaixada em Damasco, diz que monitora a situação dos brasileiros na Síria e recomenda que deixem o país.

🔴CONTEXTO: QUEM É ASSAD E COMO COMEÇOU O CONFLITO

Rebeldes contrários ao regime de Bashar al-Assad na Síria se lançaram sobre a cidade de Aleppo, sem grande resistência — Foto: EPA/Via BBC

  • A família Assad é alauita, uma minoria religiosa xiita na Síria.
  • Nascido em 11 de setembro de 1965, em Damasco, Assad estudou medicina e se especializou em oftalmologia. Em Londres, cursou uma pós-graduação.
  • Em 1994, Basil, seu irmão mais velho e sucessor natural de Hafez, morreu num acidente. Com isso, Bashar tornou-se o herdeiro do poder na família.
  • Em 10 de junho de 2000, ele foi declarado presidente pelo parlamento após um referendo popular no qual recebeu uma aprovação de 97,29%. Naquele momento, Bashar tinha 34 anos.
  • Em 2007, renovou seu mandato por outros sete anos em um referendo no qual obteve 97,62% dos votos. Em 2014, foi reeleito para um terceiro mandato de sete anos. A guerra civil síria já estava em curso e a votação foi realizada nas áreas controladas pelo governo.

A família Assad governava a Síria há mais de cinco décadas.

Quando o conflito começou?

Entenda o que está acontecendo na Síria, que tem avanço de grupo rebelde

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A guerra civil na Síria começou em 2011, durante a Primavera Árabe, e, nos últimos quatro anos, parecia estar adormecida. Após um período sangrento de confrontos, que deixaram cerca de 500 mil mortos e causaram um enorme êxodo de sírios, Assad conseguiu manter o controle sobre a maior parte do território graças ao suporte da Rússia, do Irã e da milícia libanesa Hezbollah.

No entanto, atualmente, a Rússia está em guerra com a Ucrânia, e o Irã vive um conflito com Israel. O Hezbollah, por sua vez, perdeu seus principais comandantes neste ano, mortos em ataques israelenses.

Para os analistas, essa situação faz com que nem Putin nem o regime iraniano estivessem dispostos a "entrar de cabeça" em mais uma guerra.

Um porta-voz do governo da Ucrânia disse que a escalada do conflito na Síria mostra que a Rússia não consegue lutar em duas guerras ao mesmo tempo.

Informações publicadas no sábado indicam que o Hezbollah e o regime iraniano estão retirando tropas que mantêm na Síria.

Assad e o presidente russo, Vladimir Putin, em foto de 2017 — Foto: Mikhail Klimentyev/Sputnik via Reuters

Como foi a tomada de Damasco?

Rebeldes extremistas chegam à terceira maior cidade da Síria e avançam em direção à capital

Rebeldes extremistas chegam à terceira maior cidade da Síria e avançam em direção à capital

A capital Damasco foi palco dos momentos decisivos na Síria, no processo que levou à fuga do ditador Bashar al-Assad.

Segundo relatos de moradores da cidade, membros das forças rebeldes circularam pelos arredores da cidade, enquanto tiroteios ocorriam em alguns pontos.

No sábado (7), o governo sírio acusou os insurgentes de espalharem informações falsas sobre o conflito para aterrorizar a população e criar instabilidade.

O ministro do Interior havia dito que teria um "cordão militar" para proteger Damasco. Até então, não havia informações sobre o paradeiro de Assad. Durante a semana, a imprensa americana noticiou que Egito e Jordânia haviam recomendado que ele saísse do país.

Em uma ofensiva iniciada há apenas 10 dias a partir do Norte, forças lideradas pelo movimento extremista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), ou Organização para a Libertação do Levante, conquistaram as cidades de Aleppo e Homs e marcharam rumo à capital, que está mais ao sul. Outras frentes opositoras partiram do Sul e do Leste, numa tentativa de fechar o cerco a Damasco.

Por onde passaram, os rebeldes derrubaram estátuas que homenageiam Hafez al-Assad, pai do atual presidente e fundador da dinastia que está no poder há 50 anos, e tomaram bases militares.

Estátua de Hafez al-Assad é derrubada por manifestantes anti-governo

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Rebeldes da Síria dizem ter tomado base militar do exército próximo a Hama

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