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Do carvão ao hidrogênio verde: roteiro no Japão mostra mudança nas agendas de governo e empresas

Guilherme Kolling, de Tóquio

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Guilherme Kolling, de Tóquio

Embora existam semelhanças nas agendas entre 2017 e 2024, como a busca de ampliação de parcerias com a Província de Shiga e a prospecção de novos negócios da montadora Toyota no Rio Grande do Sul, o roteiro da comitiva liderada pelo governador Eduardo Leite ao Japão mostra uma grande diferença em relação à missão do governo gaúcho há sete anos em Tóquio: a pauta energética.

Quando o então governador José Ivo Sartori veio ao Japão, a agenda teve todo o primeiro dia dedicado ao carvão, com visita à usina térmica de Hitachinaka, da Tokyo Eletrica Power Company (Tepco), e reunião com a IHI Corporation, que desenvolveu a tecnologia que minimiza emissões na queima do combustível fóssil para produzir energia.

Na época, dizia-se que o carvão gaúcho estava tendo sua última chance – o Rio Grande do Sul detém 90% das reservas do mineral no Brasil. A ideia era que empresas japonesas fizessem o projeto e viabilizassem os recursos de uma mega usina a carvão em Charqueadas, orçada em US$ 2 bilhões.

Sete anos depois, a empreitada não saiu do papel, o carvão perdeu espaço e viabilidade para ser matéria-prima de térmicas que geram energia, e a agenda ambiental ganhou espaço no mundo – de forma mais intensa no Rio Grande do Sul após os eventos climáticos extremos no último ano.

Assim, projetos de hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro, e de grandes parques de energia eólica offshore (no mar) ocuparam boa parte da agenda do governo gaúcho nos primeiros dias de missão ao Japão neste ano, o que inclui assinatura de memorandos e visitas a empresas como Mitsubishi Heavy Industries e Shizen Energy Group.

Dos quase 50 integrantes da comitiva gaúcha em 2024, dois – um secretário de Estado e um empresário – também acompanharam o grupo de 25 pessoas liderado por Sartori em 2017. E, de certa forma, emblematizam a mudança de agenda nesse perído: o chefe da Casa Civil, Artur Lemos, e o diretor-executivo da Arpoador Energia, Roberto Faria.

Há sete anos, Lemos era secretário de Minas e Energia, e estava à frente de diversas iniciativas ligadas ao carvão – além de usina térmica, havia também o projeto do Polo Carboquímico. Agora, articula parcerias com empresas como a Mitsubishi Heavy Industries, da qual conheceu a planta de hidrogênio de Takasago e participou de reunião em Tóquio para mostrar o potencial do Rio Grande do Sul para produzir o combustível.

Em 2017, Roberto Faria era diretor de novos negócios da Copelmi, mineradora responsável por grande parte das reservas de carvão em solo gaúcho e que era peça-chave nos projetos de energia utilizando o combustível fóssil no Rio Grande do Sul. Agora, à frente da Arpoador Energia, tem a transição energética na agenda.

Os dois avaliaram para a reportagem as mudanças nesses sete anos. "Aquele momento (2017) era a última janela de oportunidade (para o carvão gaúcho), a qual acabou não vingando. Depois, os compromissos assumidos têm essa pegada de baixo carbono" compara o chefe da Casa Civil.

Artur Lemos, chefe da Casa Civil do governo do Estado | Mauricio Tonetto/Palácio Piratini/Divulgação/JC

Artur Lemos, chefe da Casa Civil do governo do Estado Mauricio Tonetto/Palácio Piratini/Divulgação/JC

Lemos observa que o Japão ainda tem desenvolvido tecnologias de utilização de combustíveis fósseis com neutralização do carbono, mas destaca que roteiro a Tóquio neste ano está sintonia com o novo momento do Estado, "com seu Plano de Desenvolvimento, com compromissos que assumimos de ser net zero (zerar as emissões de gases do efeito estufa ou equilibrar emissões com a captura desses gases) até 2050". O secretário cita, ainda, que o Estado está alinhado à agenda internacional, que tem a partir do hidrogênio verde, uma nova matriz energética.

Diretor-executivo da Arpoador Energia, empresa fundada em 2019, Roberto Faria observa que o momento é de transição energética, a fim de chegar a emissões líquidas zero até 2050. A empresa já tinha assinado um memorando de entendimento com Mistubishi e o governo do Estado, durante a Expointer, para desenvolver projetos de geração de energia renovável e produção de hidrogênio verde.

Faria vê boas oportunidades no Japão, tanto em relação a tecnologias quanto a financiamentos competitivos. Ele elogia a agenda liderada pelo governador e observa ainda o protagonismo japonês em projetos de hidrogênio verde, metanol verde e amônia verde, apontando que a agenda de descarbonização inclui também a área industrial.

Em relação ao carvão, o empresário avalia que é preciso uma transição energética justa. "Hoje não vai ter expansão de novas usinas a carvão. Mas é preciso trabalhar em como chegar na indústria do carvão em 2050, agregar o sequestro de carbono para que evite a emissão de CO2 e trabalhar outros usos para esse minério, abundante no Estado. Esse é o desafio."

Assinatura de memorando de entendimento com o Shizen Energy Group | Mauricio Tonetto / Palácio Piratini/Divulgação/JC

Assinatura de memorando de entendimento com o Shizen Energy Group Mauricio Tonetto / Palácio Piratini/Divulgação/JC

O governador Eduardo Leite, que na terça-feira assinou memorando de entendimento com a Shizen Energy Grupo para realização de estudos de viabilidade para construção de um parque eólico offshore no Rio Grande do Sul, com potencial de produção de hidrogênio verde, diz que essa mudança global, voltada à descarbonização, tem um componente ambiental, de consciência global, mas também é uma oportunidade econômica para o Estado, já que serão necessários grandes investimentos para implementar essa nova matriz energética.

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