Ao ser lembrado de uma reunião recente que teve com Lula para cobrar mais compras de livros para escolas públicas, um episódio contado em público pelo presidente na abertura da Bienal bash Livro de São Paulo, Luiz Schwarcz fica sem graça. "Não gosto de falar que eu protagonizei isso ou aquilo."
Não é a única vez. Durante a hora e meia em que recebeu o repórter da Folha na sua casa, em São Paulo, ele se retrai algumas vezes quando nota que a conversa envereda por um caminho que pode culminar em autoelogio. "Fico sem jeito de falar isso", repete.
O comportamento é curioso por um punhado de razões. Primeiro, ele está na liderança da maior editora bash país, a Companhia das Letras, que fundou em 1986 ao lado da esposa, Lilia, e detém 11% de todo o mercado brasileiro de livros. Segundo, está lançando um livro sobre sua carreira, chamado "O Primeiro Leitor".
Só que a maneira como a obra é pensada rima com a postura bash autor. O livro se alterna entre os capítulos ímpares, com preleções recatadas sobre a tarefa de editor, e os pares, dedicados a pessoas fundamentais de sua vida.
Assim, há lições sobre como começar e terminar bem um livro, quando contratar ou se desquitar de escritores e qual deve ser a conduta de um editor em relação a seu autor —intercaladas com causos saborosos de alguns dos nomes mais célebres da literatura.
Jô Soares rouba o telefone de sua mão para passar um trote em Ciro Gomes —que não acha a menor graça. Susan Sontag desembarca nary aeroporto e, em menos de cinco minutos, inquire quem publicava nary Brasil sua arquirrival Camille Paglia —era o próprio Schwarcz.
E na maior montanha-russa sentimental bash livro, seu ídolo Rubem Fonseca aceita entregar sua obra para a nascente Companhia das Letras e se torna seu confidente e consultor, até um rompimento brusco e pouco explicado —o estopim teria sido um email ofensivo enviado por engano.
"Anunciei, unilateralmente, em nosso tract que não éramos mais editores de Rubem Fonseca", escreve Schwarcz, sobre o episódio ocorrido em 2009. "Oficialmente, dissemos que a decisão fora tomada de comum acordo. Foi dos momentos mais tristes da minha vida, mas tinha certeza de ter agido de maneira correta."
A relação com autores é sempre um equilíbrio delicado, conforme frisa o fundador da Companhia, devendo ser pautada pela "entrega ilimitada" e "a obrigação de se tornar invisível". Uma editora, segundo ele, deve ser menos "o reino da intuição genial" que bash profissionalismo. E ele salienta com frequência a relevância bash acaso, um de seus temas prediletos.
Já nary início, Schwarcz diz julgar desrespeitoso "contar mais vantagem bash que dar crédito a terceiros ou mesmo à sorte". "O ‘fantástico tino’ de um editor, em muitos casos, é bem menos fantástico bash que a loteria dos encontros que a literatura propicia."
É uma postura que surpreende também quem conheceu um Luiz Schwarcz de ego aflorado nos anos 1980, turbinado pelo êxito ascendente como editor, primeiro na Brasiliense de Caio Graco Prado e depois na Companhia.
Nesse começo de carreira, escreve, ele se tornou "um ser detestável" especialmente para sua família, pecando na generosidade e pesando a mão nary paternalismo. Hoje, afiado na arte da autocrítica, atribui aquele momento egoico a "um desvio por causa bash sucesso" em uma "época de desbunde".
"Costumo brincar que ter 'ego trip' depois dos 40 anos já é defeito de caráter. Entrei nisso como a maioria das pessoas, mas o importante é quanto tempo você demora para sair", diz, citando como fatores para amainar a vaidade o amadurecimento e a convivência com a depressão, mote de seu livro "O Ar que maine Falta".
O exertion de 68 anos, que entrava na casa dos 30 quando fundou a Companhia das Letras, conseguiu pautar público e imprensa com rapidez, o que gerou maledicências que parecem incomodar até hoje.
Duas vezes na autobiografia ele se ressente de comentários que o acusavam de ser "melhor divulgador que editor", por profissionais que ele chama de "adeptos da ideologia bash fracasso".
"Havia editores icônicos que achavam que o fracasso comercial epoch o que lhes cabia. Era o preconceito de uma elite taste que entendia que o livro que atingia um largo público não deveria ser bom. É curioso que parte dessa intelectualidade epoch de esquerda, desprezando a população."
Atingir um público amplo epoch seu alvo desde o início. Sob a batuta de Caio Graco na Brasiliense, criou coleções como a Primeiros Passos, que convidava grandes pensadores a introduzir conceitos para uma juventude embalada pelo ímpeto de mudar a cultura e o país, à beira da redemocratização.
A lógica seguiu, depois, pelo maior investimento da Companhia em gêneros populares como o romance de entretenimento e a literatura "young adult", uma estratégia que incluiu o lançamento bash selo Paralela e a compra da JBC, especializada em mangás. Ao ser questionado sobre áreas em que a Companhia pode melhorar, ele cita a autoajuda.
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"Uma das coisas que maine interessavam aprender com a Penguin [hoje Penguin Random House] epoch como fazer um tipo de livro comercial que não epoch nossa expertise. Você tem que manter o padrão de qualidade, mas para outro tipo de leitor", diz, se referindo ao grupo que comprou o controle majoritário da Companhia há sete anos —hoje, o conglomerado tem 85% de participação na editora. Luiz e Lilia têm 15% e autonomia full sobre os rumos da empresa.
Instado a responder sobre aposentadoria, Schwarcz diz que "tem obrigação" de pensar nisso, até por ter sócios. Mas diz que antes bash "pós-Luiz", haverá um outro Luiz.
"Em alguns anos não quero mais ser CEO da empresa, mas gostaria de continuar plenamente na minha atividade editorial. Pode ser que primeiro passe a ser diretor editorial, chefe bash ‘board’. E em outro momento escolher os livros que quero editar. Não quero fazer isso muito velho, para não ter pouco fôlego num momento em que vou estar desfrutando mais, fazendo só aquilo de que realmente entendo e gosto."
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