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'Estamos todas na mesma luta': Gisèle Pelicot, dopada por ex-marido e estuprada por 70, sai aplaudida de tribunal após condenação de culpados

Ao sair da corte, ela leu à imprensa um pronunciamento. Nele, Pelicot agradeceu o apoio do público e disse que, apesar de o julgamento ter sido "uma provação muito difícil", nunca se arrependeu de ter tornado o caso público.

"Para quem tem uma história desta nas sombras, estamos todas na mesma luta. O apoio das pessoas realmente me tocou e me deu a força para vir ao tribunal e dar a cara", disse, ao sair do tribunal. 'Eu nunca me arrependi desta decisão".

Pelicot, de 52 anos, afirmou também ter pensado em seus netos para tomar a decisão de seguir no caso. "Foi também por eles que eu liderei essa luta". Questionada por um jornalista sobre o que achou das sentenças, disse respeitar a decisão da Justiça.

Após falara com a imprensa, ela foi ovacionada por manifestantes que aguardavam na porta do tribunal, em Avignon.

Gisèle Pelicot fala na saída do tribunal em 19 de dezembro de 2024 após anúncio das condenações de 51 pessoas por estupros contra ela. — Foto: REUTERS/Manon Cruz

Gisèle Pelicot fala na saída do tribunal em 19 de dezembro de 2024 após anúncio das condenações de 51 pessoas por estupros contra ela. — Foto: Reuters

Dominique Pelicot, o homem acusado de drogar a ex-mulher para estuprá-la com estranhos, foi condenado a 20 anos de prisão, pena máxima, pela Justiça da França nesta quinta-feira (19). O julgamento ganhou repercussão internacional após a vítima, Gisèle Pelicot, tornar o caso público.

Com isso, Dominique deve sair preso da audiência. Ele foi considerado culpado pelo tribunal em todos os crimes pelos quais foi processado. O homem era acusado de estupro agravado contra Gisèle e outros crimes relacionados, como ter sedado a esposa, tê-la entregado a dezenas de homens para estupros filmados, e também por ter filmado sua filha, Caroline Daian, e sua enteada nuas.

Todos os outros 50 réus acusados de estuprar Gisèle também foram considerados culpados pelo tribunal francês. As penas pedidas pela promotoria para esses homens variam de 4 a 18 anos de prisão. Durante o julgamento, Dominique havia se declarado culpado pelos crimes dos quais foi acusado.

Um grande público compareceu à frente do tribunal na manhã desta quinta para acompanhar o anúncio da sentença. Os apoiadores da vítima soltaram gritos de celebração quando as notícias dos primeiros veredictos de culpabilidade começaram a circular.

O julgamento começou no dia 2 de setembro em Avignon, no sul da França. Segundo a acusação, Dominique dopou a mulher durante 10 anos e convidou mais de 70 homens para estuprá-la. Ao todo, quase 200 estupros foram registrados. Entenda mais sobre o caso aqui.

O réu e a vítima foram casados por 50 anos. Gisèle só descobriu os estupros após Dominique ser preso em 2020 por ter importunado sexualmente três mulheres em um mercado.

Francesa drogada pelo marido para ser estuprada por estranhos acompanha julgamento

Francesa drogada pelo marido para ser estuprada por estranhos acompanha julgamento

À época, a polícia mostrou para Gisèle fotos e vídeos encontrados no computador de seu marido nos quais ela aparecia sendo estuprada por diferentes homens.

Ao longo de três meses e meio de audiência, Dominique confessou o crime e pediu perdão à família. Outros 50 homens, que também são réus no caso, também prestaram depoimento. Alguns afirmaram que não sabiam que Gisèle havia sido drogada.

Gisèle Pelicot compareceu a quase todas as audiências do julgamento iniciado em setembro — Foto: Reuters

De acordo com as investigações, Dominique pedia para que os homens não acordassem Gisèle. Além disso, os estupradores tiravam a roupa na cozinha, para evitar que elas fossem esquecidas no quarto do casal.

"Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro. Dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício", disse Gisèle durante uma entrevista em setembro.

O processo aponta ainda que Dominique participava dos estupros e filmava os crimes. Ele não pedia dinheiro em troca. Ao longo de 10 anos, mais de 70 homens com idades entre 21 e 68 anos participaram dos estupros. Destes, 22 não foram identificados.

Alguns dos acusados afirmaram que não sabiam que a vítima estava drogada e alegaram que pensavam estar participando de uma fantasia sexual do casal.

Por outro lado, Dominique disse que todos sabiam que a mulher estava inconsciente.

Dominique Pelicot compareceu ao tribunal nesta quarta, visivelmente fraco — Foto: Benoit PEYRUCQ / AFP

O julgamento de Dominique Pelicot começou no dia 2 de setembro, em Avignon, no sul da França. Durante as audiências, Caroline, filha dele, também descobriu que o pai guardava fotos dela nua.

Segundo a imprensa local, ao saber das imagens, Caroline abandonou a sala de audiência tremendo e chorando. Ela foi amparada pelos dois irmãos e só retornou 20 minutos depois.

As fotos em questão foram encontradas no computador de Dominique, em uma pasta com o nome “Em volta da minha filha, nua”.

Outro caso que chamou a atenção durante as audiências foi o relato de Jean-Pierre Marechal, um amigo de Dominique. Ele disse que copiou o método usado pelo acusado para estuprar a esposa.

Durante o depoimento, Marechal afirmou que Dominique também estuprou a esposa dele. Ele disse estar arrependido do crime. O amigo do acusado também se tornou réu no caso, apesar de não ter abusado de Gisèle.

Gisèle Pelicot deixando tribunal — Foto: REUTERS/Antony Paone

Na última audiência do julgamento, na segunda-feira (16), Dominique pediu perdão à família e disse que admirava a coragem que Gisèle teve para tornar o caso público.

"Todos aqui, apesar da presunção de inocência, são culpados, assim como eu", disse.

A promotora Laure Chabaud pediu a pena máxima possível por estupro agravado, de 20 anos de prisão, e a Justiça acatou o pedido.

A maioria dos outros 50 réus também foi acusada de estupro agravado. A promotoria havia pedido penas entre 10 e 18 anos de prisão para os investigados.

Os demais réus também tiveram oportunidade de falar no último dia de audiências. Alguns voltaram a pedir desculpas para Gisèle, enquanto outros negaram os crimes.

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