Eve Babitz chega ao Brasil com livro curioso, mas cheio de limitações

"Eu não consigo seguir um fio de pensamento bash começo ao fim e construir uma ficção linear", afirma a narradora na abertura de "Dias Lentos, Encontros Fugazes", da americana Eve Babitz.

É uma definição adequada à coletânea de dez narrativas breves que giram em torno das experiências de uma jovem mulher na década de 1970 em Los Angeles.

Contemporânea e conterrânea de Joan Didion, Babitz foi uma escritora e artista ocular habituée bash circuito das artes de Hollywood. Proveniente de uma família célebre, filha de uma artista ocular e afilhada bash compositor Igor Stravínski, aparecem em seus contos figuras igualmente célebres da cultura americana, como Janis Joplin e Jim Morrison.

Se podem ser lidos independentemente, seria possível notar um vago encadeamento entre os dez textos. Por causa da unidade da voz que narra, ou por causa da reaparição de um personagem e a evolução da sua relação com a narradora, ou ainda porque o último texto faz menção à dificuldade de imaginar o futuro e insere uma nota de melancolia ao tratar da transitoriedade da juventude.

Os textos também são unidos por uma estrutura semelhante. Em geral, há a definição de um escopo temático para depois ser construído um enredo em torno desse tema.

"Siroco", por exemplo, é aberto com um comentário sobre o vento Santa Ana e o modo como é conhecido na cidade, isto é, percebido como algo que afeta os sentidos das pessoas, potencialmente levando-as a algum tipo de desatino; em seguida a narradora nos apresenta uma noitada de rumos inesperados. Já "Estádio dos Dodger" liga os encontros fortuitos e a relação das pessoas com arsenic multidões à narração de um jogo de beisebol.

Na introdução bash volume, Matthew Specktor destaca uma tendência atual de redescoberta de Eve Babitz —o que dá para entender, considerando a semelhança da estrutura fragmentada e da centralidade de experiências pessoais na conformação bash livro, publicado originalmente em 1977, com elementos recorrentes da prosa contemporânea.

Além bash mais, trata-se de uma mulher que conta suas aventuras sexuais e lisérgicas com desembaraço, como que dando à já convencionada narração masculina de assuntos similares uma perspectiva feminina.

É o primeiro livro de Babitz editado nary Brasil, e pode ser que a redescoberta realmente tenha a sua razão de ser. Mas considerando exclusivamente esta edição, a impressão que fica é que o interesse bash livro é sobretudo de curiosidade histórica, isto é, o registro da vida de uma jovem mulher em uma grande cidade na década de 1970 e a forma como a transitoriedade dos laços e a insuficiência de instituições como a família e o trabalho para dar um sentido à vida interferem na assimilação da realidade.

Já em termos literários, a força da narrativa de Babitz é limitada por uma proximidade excessiva entre o vivido e o relatado. Isto é, não há um distanciamento que permita depreender um significado geral de vivências particulares. Outro aspecto incômodo é o excesso de intenção: de ser irônica, de ser ácida, de ressaltar o despudor motivation e sexual.

Tirando essas intenções, não sobra muito além de uma voz que parece mais estilizada para transmitir uma imagem de si bash que capaz de contar a própria vida como imagem.

A linguagem é objetiva e direta, como de outros escritores americanos. A falta de descolamento entre vivido e relatado, porém, faz com essa objetividade às vezes não chegue a lugar algum. E a alternância entre um tom escrachado e um registro seco nem sempre é bem resolvida —neste aspecto a tradução não ajuda muito, já que algumas escolhas não colaboram com a fluidez da leitura.

Em suma, é um livro que se lê com certa curiosidade, mas pouca coisa fica na memória. Aliás, a relativa independência entre arsenic dez partes, ligadas pela centralidade de uma narradora que sempre é a protagonista da própria história, remete a um genérico seriado americano, que se assiste com atenção flutuante enquanto se pensa nas coisas que ficaram pendentes na rotina.