A pecuária leiteira gaúcha passa por uma transformação que preocupa lideranças da agricultura familiar e da indústria. Em pouco mais de uma década, o Rio Grande do Sul viu o número de famílias produtoras despencar de cerca de 80 mil para menos de 30 mil, segundo a Emater/RS-Ascar.
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A pecuária leiteira gaúcha passa por uma transformação que preocupa lideranças da agricultura familiar e da indústria. Em pouco mais de uma década, o Rio Grande do Sul viu o número de famílias produtoras despencar de cerca de 80 mil para menos de 30 mil, segundo a Emater/RS-Ascar.
Só nos últimos dois anos, a retração foi de cerca de 12%. A produção estadual se mantém estável graças à concentração em propriedades maiores e mais tecnificadas, mas o impacto social é evidente em diversos municípios.
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Para Eugênio Zanetti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), a mudança ameaça a sustentabilidade da agricultura familiar. Ele lembra que a atividade garante renda regular em pequenas propriedades, mas vem perdendo atratividade. Jovens herdeiros deixam de ver futuro no campo diante da instabilidade dos preços e do peso dos custos de produção.
“Permanece apenas quem é extremamente profissional, com escala, genética e manejo. Para os demais, a atividade se torna inviável”, avalia.
Recentemente, produtores de leite encerraram seus plantéis e partiram para a produção de soja ou arrendaram suas terras, quando o cereal mostrava valorização de R$ 200 a saca de 60 quilos. Mas quem deixou a atividade dificilmente retorna, porque os investimentos exigidos são altos e a rentabilidade continua pressionada, destaca o dirigente da Fetag.
Marcos Tang, presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando/RS) e da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), destaca o caráter histórico do fenômeno. Ele recorda que, há 15 anos, o Estado reunia em torno de 150 mil famílias ligadas ao leite, número que hoje não passa de 28 mil com emissão regular de nota fiscal.
Segundo ele, as propriedades que permaneceram ampliaram a escala e elevaram a média diária de produção de 100 litros para cerca de 500 litros. Tang também lembra que o Estado enfrentou cinco anos de clima adverso e a concorrência de importados como fatores que dificultaram a vida dos produtores.
Na indústria, a redução preocupa, mas é vista como parte de um movimento mundial. O secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat/RS), Darlan Palharini, observa que saem principalmente as propriedades menos produtivas ou sem sucessão, mas que o processo vem perdendo força.
Ele ressalta, entretanto, o desafio da competitividade: enquanto no RS a média por propriedade é de cerca de 450 litros, na Argentina e no Uruguai estruturas comuns atingem 4 a 5 mil litros. Essa diferença de escala pesa sobre a logística, que no Estado tem custo médio de R$ 0,20 por litro apenas no transporte.
Apesar disso, Palharini afirma que o RS segue superavitário em leite, com capacidade de atender a demanda interna e ainda enviar excedentes a outros Estados. Para sustentar a produção, ele defende investimentos em genética, manejo e assistência técnica, aliados a programas de remuneração por sólidos, que permitem maior conversão industrial.
“O preço ao produtor depende do mercado internacional. Não adianta pagar acima da realidade se não houver competitividade, porque isso abriria ainda mais espaço às importações”, resume.
Os investimentos da indústria reforçam essa linha. Na Expointer, a Lactalis anunciou R$ 400 milhões para ampliar suas plantas no Estado, em iniciativa voltada a aumento de produtividade e diversificação de produtos. Segundo Palharini, esse tipo de movimento pode estimular o crescimento de produtores já integrados a programas de assistência, que registram elevação anual de 10% a 15% na produção.
Do lado das políticas públicas, o deputado Elton Weber (PSB) protocolou na Assembleia Legislativa o projeto que cria o PRÓ LEITE RS – Programa Estadual de Incentivo à Produção Leiteira. A proposta prevê subsídio integral dos juros em financiamentos destinados a agricultores familiares, garantindo, na prática, crédito com juro zero para investimentos em genética, infraestrutura, máquinas e matrizes. A gestão ficará a cargo das secretarias de Desenvolvimento Rural e de Agricultura, com fiscalização e suporte técnico, além de um comitê paritário para definir critérios.
Weber argumenta que a medida busca resgatar a competitividade e tornar a atividade mais atrativa, após a saída de mais de 55 mil produtores em dez anos. “É hora de o Rio Grande do Sul olhar com seriedade para quem produz leite e sustenta boa parte da economia rural do Estado”, afirma.
O cenário mostra que a produção de leite no RS vive um dilema: a concentração garante escala e competitividade, mas deixa vazios sociais no interior. A manutenção de famílias na atividade depende de políticas que combinem crédito, assistência técnica, redução de custos e valorização da qualidade. Sem esse equilíbrio, a tendência é de um setor cada vez mais eficiente em números, mas cada vez menos plural em pessoas.

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