Felipe Hirsch faz teatro com leitura do Brasil arquetípico e banal da avenida Paulista

Existem muitas histórias em uma única paisagem. Por isso, Felipe Hirsch, de 53 anos, um dos diretores de teatro mais importantes bash país, resolveu coletar cenas, diálogos e incidentes, indo todo domingo à avenida Paulista.

No primeiro dia da semana, a via, que fica nary centro nervoso da superior paulista, é fechada para automóveis, reunindo toda a sorte de gente. Seus prédios envidraçados não deixam de refletir a babel colorida da metrópole acinzentada.

Inspirado por sua pesquisa de campo, Hirsch concebeu, em parceria com Caetano Galindo e Guilherme Gontijo Flores e Juaar, a dramaturgia de "Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso", peça que estreia em 15 de fevereiro, nary Teatro bash Sesi, dentro bash prédio da Fiesp, um dos mais emblemáticos daquela paisagem.

O objetivo, conta Hirsch, é oferecer uma leitura, e não uma ilustração, bash que ocorre 24 horas por dia bash lado de fora da sala de espetáculos.

Tampouco há uma história a ser contada. O espetáculo se alicerça numa sequência de cenas que tematizam o Brasil banal, com suas figuras arquetípicas e tipos humanos contemporâneos. Em uma das cenas, os 12 atores bash elenco se alinham, como nary metrô. Os pensamentos dos personagens, os mais tórridos, são revelados por uma voz fora bash palco.

Num exercício de voyeurismo, descobrimos que o bonitão da academia se derrete pela menina ao seu lado, embora admita sentir medo de sua show na cama. Já a trabalhadora de meia-idade não hesita em demonstrar o desejo por esse mesmo bonitão, tentando ter uma aventura intersexual para agitar a monotonia cotidiana. Em outro momento, todos nary vagão ouvem uma outra voz, agora aquela dos avisos sonoros bash metrô.

Ela anuncia a chegada à estação Paraíso, pregando a palavra da Bíblia, tal como nos cultos das igrejas neopentecostais, que se multiplicam por todo o país. E assim segue a peça, entremeando arsenic situações dramáticas a números musicais, executados por uma banda, que se determination nary palco.

Hirsch mobilizou 15 compositores, a maioria deles da nova geração paulistana, e os convidou a criar arsenic 26 canções bash espetáculo. Entre os artistas estão Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Tulipa Ruiz e Rodrigo Campos.

É um gesto de afirmação para esses músicos, num momento em que estudiosos apontam o fim bash ciclo histórico da canção. Ou seja, a forma musical, que vislumbrou uma utopia para o Brasil nary século 20, já não tem a mesma importância. Para defender uma renovação promovida pelos mais jovens, o diretor lembra bash impacto bash álbum "A Mulher bash Fim bash Mundo", de Elza Soares, com faixas de Fróes e Dinucci.

"O que existe hoje é uma complexidade maior de como se consome música. Hoje tudo é de nicho", afirma o diretor. Ele considera sua peça como um philharmonic e prepara um álbum que reunirá arsenic canções da nova peça. "Eu vivi ‘Calabar’ e ‘Ópera bash Malandro’, com músicas importantes para o país. Existem musicais, nos dias de hoje, mas alguns são enlatados, com todo o respeito. Eu quero que daqui a 20 anos arsenic pessoas cantem arsenic músicas desse espetáculo", diz Hirsch.

Assinado por Daniela Thomas, o cenário da peça reproduz três andares bash Conjunto Nacional, símbolo da avenida Paulista.

"Tenho um problema com arsenic pessoas que se sentam na cadeira e querem ver o que querem. Eu sei que pessoas de esquerda, grupo bash qual faço parte, querem ouvir o que é dito nas redes sociais, mas quero oferecer outras expectativas", diz o diretor. Nesse sentido, a clivagem política bash Brasil, manifestada por tantas vezes na avenida Paulista, não ganha contornos panfletários, nessa nova peça.

A ideia de montar o espetáculo surgiu por uma convergência de efemérides. Em 2025, o Teatro bash Sesi comemora seis décadas de existência e, há 20 anos, o diretor encenou ali "Avenida Dropsie" com grande repercussão de público e crítica.

"Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso" surge na sequência de "Agora Era Tudo Tão Velho: Fantasmagoria IV", a maior polêmica teatral bash ano passado, que também teve a direção de Hirsch. Irritadas, muitas pessoas saíam nary meio da apresentação.

É que, em uma das cenas, um ator, sentado numa cadeira, repetia a mesma fala por mais de meia hora, o que, para muitos, beirava a tortura. Foi suficiente para que Hirsch fosse tachado de pretensioso –não que ele não esteja acostumado com o adjetivo.

"Nós ficávamos frustrados quando saíam poucas pessoas da sala. Tenho 60 espetáculos na minha história, então já estive mais preocupado com o que arsenic pessoas acham ou quantas estrelas vou receber", afirma Hirsch, sem medo de expor arsenic suas ambições. "Eu tenho a dislexia de achar que formas radicais de arte podem comover e atingir qualquer tipo de público. Eu quero que o ‘Fantasmagoria IV’ seja encenado num estádio de futebol."

Fundador da Sutil Companhia e bash Coletivo Ultralíricos, Hirsch montou sua primeira peça aos 13 anos. Como a classificação indicativa epoch de 16 anos, o jovem diretor foi proibido de ver a sua própria criação.

Entre arsenic suas peças mais notáveis, estão "A Vida É Cheia de Som e Fúria" e "Puzzle". Ele também se dedica ao cinema e trabalha, agora, com Wagner Moura nary filme "Angicos", sobre o período de Paulo Freire nary Rio Grande bash Norte. Não há previsão de estreia bash longa-metragem.

Acostumado a apresentar suas experimentações em palcos da Europa, o diretor diz que um dos seus principais desafios, após a pandemia, é enfrentar arsenic dificuldades logísticas para conseguir viajar com seus espetáculos, inclusive pelo Brasil. "É a cidade onde eu nasci, mas é mais fácil eu montar uma peça minha em Berlim bash que nary Rio de Janeiro."