As gravações feitas diretamente de Israel ou da Faixa de Gaza mostram, além da destruição, os barulhos marcantes de gritos, bombas, tiros e do desespero de quem se vê preso em meio a um conflito armado.
O g1 reuniu os sons de alguns dos episódios mais traumáticos da guerra, até então. Entre as vítimas, são barulhos tão traumáticos que repercutirão por anos, com potencial de causar gatilhos ao longo de toda a vida —para isso, basta escutar qualquer som que possa remeter ao de um tiro ou de uma explosão de bomba, por exemplo.
Para quem está longe da guerra os sons incomodam e trazem mal-estar.
A psicóloga clínica Sofia Débora Levy, pós-doutora em Memória Social e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia, explica que todos esses sons registrados podem deixar marcas em quem está vivenciando o conflito.
Esse tipo de impacto varia de pessoa para pessoa. Os civis, segundo a professora, podem sofrer uma marca mais intensa. Isso acontece porque eles não têm a mesma vivência que um militar ou, até mesmo, um terrorista, que estão treinados e são acostumados com barulhos do tipo.
Os sons podem representar diferentes formas de estímulos. No caso das sirenes para alerta de ataque em Israel, Sofia explica que esse barulho já faz parte do cotidiano de quem mora no país.
Neste caso, em meio aos ataques, as pessoas podem ficar tensas e apreensivas. No entanto, os moradores costumam passar por treinamentos e aprendem que aquele som é um alerta de proteção.
No entanto, Sofia explica que os avisos da sirene precisam ser diferenciados dos ataques terroristas lançados.
Quando se fala do impacto a longo prazo dos sons de uma guerra, Sofia explica que há uma série de fatores que precisam ser avaliados. Enquanto algumas pessoas podem criar certa resistência com o passar do tempo, outras continuarão sofrendo o impacto como se fosse a primeira vez.
"O que vai fazer a diferença é a capacidade, que varia de pessoa para pessoa, para criar estrutura de enfrentamento daquele mesmo tipo de estímulo. No caso de uma guerra, isso é muito difícil, porque é um risco de vida iminente, principalmente de população civil desarmada", diz.
Isso não significa que o barulho de uma explosão, por exemplo, deixará de criar uma sensação ruim ou de pânico. O que acontece, segundo a psicóloga, é que algumas pessoas podem entrar em um processo de adaptação.
Por outro lado, esse mesmo barulho pode gerar uma memória traumática que, futuramente, poderá despertar gatilhos. Como exemplo, a pós-doutora cita uma sobrevivente do holocausto entrevistada por ela.
A entrevistada, que nasceu na Romênia e teve a cidade tomada por nazistas quando criança, contou que os barulhos das sirenes de ataque provocaram impactos que duraram por toda a vida dela.
Em relação à saúde mental, ainda é muito cedo para dizer quais serão os impactos que os envolvidos no conflito poderão sofrer. Isso porque, além de a guerra ainda estar em andamento, algumas pessoas podem levar mais tempo para demonstrar sintomas.
Um exemplo é um caso de assalto a mão armada. A vítima, que corre risco de vida, reage diante do criminoso da forma como pode. Mesmo após o fim do momento de susto e violência, a pessoa leva um tempo para se recuperar.
A psicóloga Sofia Débora Levy diz que algumas pessoas podem evitar passar pela região do crime, por exemplo, até conseguir processar tudo o que aconteceu. Por outro lado, o trauma também pode gerar outras consequências psicológicas.
"Atualmente, em termos de diagnóstico, temos o que chamamos de estresse pós-traumático. É um conjunto de sintomas de alterações psicológicas e fisiológicas que a pessoa pode sentir mesmo após o fim do estímulo que causou esse trauma", explica.
Esses sintomas podem incluir insônias, pesadelos, insegurança, instabilidade emocional, falta de concentração, sensação de vazio existencial, estado depressivo, entre outros.
Mesmo que a situação traumática seja extremamente grave, como no caso de uma guerra, falar sobre o problema — inclusive com tratamento profissional — pode ajudar o paciente a conviver com as lembranças negativas.
O conflito entre Israel e o Hamas
Israel declara guerra após ataque do Hamas; entenda
▶️ Como começou o conflito? O confronto se iniciou após o grupo terrorista Hamas lançar centenas de foguetes contra Israel a partir da Faixa de Gaza, em 7 de outubro.
- Por terra, ar e mar, com motos e parapentes, homens armados invadiram o território israelense pelo sul do país.
- Houve relatos de que os invasores atiraram em pessoas que estavam nas ruas e sequestraram dezenas de israelenses (incluindo mulheres e crianças), levados como reféns para Gaza.
▶️ Como foi a resposta de Israel? Diante da ofensiva do Hamas, o governo israelense iniciou uma retaliação.
- "Estamos em guerra e vamos ganhar", disse o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, logo após o ataque. "O nosso inimigo pagará um preço que nunca conheceu."
- Ainda em 7 de outubro, Israel lançou bombas em direção à Faixa de Gaza.
▶️ O que é e onde fica a Faixa de Gaza? É o território palestino localizado em um estreito pedaço de terra na costa oeste de Israel, na fronteira com o Egito.
- Marcado por pobreza e densidade demográfica, tem 2 milhões de habitantes morando em um território de 360 km².
- Para se ter uma ideia desse tamanho em comparação com cidades brasileiras, o território é um pouco maior que o da cidade de Fortaleza (312,4 km²) e menor que o de Curitiba (434,8 km²).
- Tomada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e entregue aos palestinos em 2005, Gaza vive um bloqueio de bens e serviços imposto por seus vizinhos de fronteira.
▶️ Qual é o histórico do conflito na região? A disputa entre Israel e Palestina se estende há décadas e já resultou em inúmeros enfrentamentos armados e mortes.
- Em sua forma moderna, remonta a 1947, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs a criação de dois Estados, um judeu e um árabe, na Palestina, sob mandato britânico.
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