O Rio Grande do Sul fechou julho de 2025 com 428,2 mil empresas negativadas, número 18,3% maior que o registrado no mesmo mês do ano passado. O crescimento supera a média nacional, que foi de 15,9% no período, e coloca o Estado em quinto lugar entre os que mais acumulam CNPJs inadimplentes no País, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná
O Indicador Serasa Experian mostra que, nos últimos 12 meses, o RS adicionou mais de 66 mil empresas à lista de inadimplentes. O movimento foi constante: em janeiro, eram 366 mil, número que avançou mês a mês até o recorde atual. Só entre junho e julho, houve alta de 3,3%, acima da média nacional de 2,6%.
“Esse crescimento mais acelerado revela que as empresas gaúchas enfrentam um ambiente ainda mais desafiador que o do restante do País”, analisa a economista da Serasa, Camila Abdelmalack.
No Brasil, o cenário também é preocupante: são 8 milhões de empresas com contas em atraso, maior patamar da série histórica. Destas, 7,6 milhões correspondem a micro e pequenas empresas, justamente as que mais sofrem com juros elevados e crédito restrito.
“Desde o início do ano vimos recorde atrás de recorde. Hoje, um CNPJ inadimplente acumula em média sete negativações no País, o que mostra a dificuldade de voltar à adimplência. Além disso, o valor médio das dívidas cresceu acima da inflação, indicando um endividamento estrutural maior por parte das empresas”, explica Camila.
Segundo a economista, o segundo semestre pode trazer novos obstáculos. “As projeções de desaceleração da atividade econômica devem pressionar ainda mais a margem de lucro, principalmente das empresas menores. O Rio Grande do Sul, por ter forte peso industrial e por carregar os efeitos das enchentes e estiagens, pode sentir esse impacto de forma mais intensa”, continua.

O Indicador Serasa Experian mostra que, nos últimos 12 meses, o RS adicionou mais de 66 mil empresas à lista de inadimplentes
Agro e enchente puxam os efeitos no Estado
A pressão é visível nos números. No RS, cada empresa negativada carrega em média dez dívidas, três a mais que o cenário nacional. A dívida média subiu de R$ 28,4 mil para R$ 31,7 mil em um ano, enquanto o tíquete médio passou de R$ 2.799,13 para R$ 3.137,99.
O recorte setorial mostra que o setor de Serviços concentra mais da metade das empresas inadimplentes, seguido por Comércio e Indústria. No caso gaúcho, segmentos como turismo, restaurantes e lazer têm sofrido retração, com reflexos também na indústria metalmecânica.
“Quando as pessoas cortam gastos com viagens ou restaurantes, a cadeia inteira sente. Essa queda do consumo chega rapidamente ao comércio e depois à indústria”, avalia a economista da Serasa.
Para a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), o agravante local está no agro. “Se o produtor deixa de consumir, a indústria não vende e o comércio também sente. Vivemos uma bola de neve em ritmo acelerado”, afirma Douglas Ciechowicz, vice-presidente de micro e pequenas empresas da entidade. Além disso, ele lembra que a maioria dos pedidos de crédito do projeto Estímulo (parceria entre a Federasul e o o Fundo de Impacto Estímulo), não foi para investimento, mas para quitar dívidas caras contraídas após a enchente histórica de 2024.
Ciechowicz alerta para as consequências imediatas de uma negativação. “A empresa perde acesso ao crédito, não consegue renovar estoque, pagar frete ou recolher tributos. Isso trava a cadeia inteira e aumenta o risco de fechamento de negócios e demissões.” Segundo ele, olhando para o futuro, o agro, responsável por grande parte da atividade econômica do Estado, pode ser tanto a alavanca da recuperação quanto o gatilho de uma crise prolongada.
“O risco é grande para a safra de 2026 se nada for feito. O produtor não pediu perdão de dívidas, apenas o alongamento delas, mas recebeu novos empréstimos com juros altos. O que se precisa é crédito subsidiado que permita quitar dívidas antigas e garantir o novo plantio”, diz.
Apesar do quadro, a avaliação é de que há espaço para reação. No curto prazo, medidas de recuperação fiscal e parcelamentos podem trazer alívio, mas apenas reformas estruturais - como a administrativa e a política - terão força para criar um ambiente de negócios mais saudável: “Precisamos ser otimistas. O povo gaúcho é trabalhador, mas é preciso que os governos não atrapalhem quem quer empreender”, conclui Ciechowicz.

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU) 




:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)










Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro