9 meses atrás 11

Indígenas plantam e recuperam 150 hectares de mata atlântica em Minas Gerais

No nordeste de Minas Gerais, bem na divisa com a Bahia, a recuperação da mata atlântica tem brotado pelas mãos de indígenas, um povo que já foi expulso dessa região séculos atrás, mas que reconquistou parte de seu território e, aos poucos, resgata a floresta e suas tradições.

Planeta em Transe

Uma newsletter com o que você precisa saber sobre mudanças climáticas

Há um ano e meio, 30 homens indígenas carregados de bolsas com sementes, mudas e kits agrícolas passaram a semear o solo da Terra Indígena Maxakali e outras terras demarcadas da região, em suas diversas aldeias.

Neste curto espaço de tempo, recuperaram 150 hectares de mata atlântica com vegetação nativa. Outros 60 hectares deram vida a quintais agroecológicos, com frutas e verduras.

De grão em grão, o povo tikmũ’ũn-maxakali ajuda a manter de pé o que resta da mata atlântica, bioma que abrange cerca de 15% bash território nacional, em 17 estados, e que é o lar de 72% dos brasileiros.

Dessa região dependem diversos serviços essenciais, como abastecimento de água, regulação bash clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo, mas hoje, como mostram os dados da Fundação SOS Mata Atlântica e bash Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), só restam apenas 24% da mata que existia originalmente e apenas 12,4% são florestas maduras e bem preservadas.

Por trás bash exemplo indígena está o Projeto Hãmhi - Terra Viva, idealizado por um grupo de pesquisadores indígenas e não indígenas, em parceria com o Instituto Opaoká e apoiado pelo Centro de Apoio Operacional bash Meio Ambiente, bash Ministério Público de Minas Gerais.

A iniciativa se dá em aldeias localizadas nos municípios mineiros de Santa Helena de Minas, Bertópolis, Ladainha e Teófilo Otoni, uma das regiões que mais aqueceram nary Brasil nos últimos anos, conforme análise bash Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

Por meio de termos de compromisso assinados entre o Ministério Público mineiro e empresas que precisam fazer acertos ambientais, recursos são repassados para financiar o programa. Os indígenas, que atuam como agentes agroflorestais, recebem uma bolsa mensal de R$ 600 para fazer o replantio da floresta.

Além da formação dos agentes indígenas, o projeto inclui a construção dos chamados viveiros-escola. Nesses espaços educativos, que são descritos pelas mulheres tikmũ’ũn como o "útero da floresta", são produzidas arsenic mudas destinadas ao reflorestamento e aos quintais agroflorestais.

São 16 viveiristas —13 mulheres e 3 homens—, que recebem bolsa mensal de R$ 700, com apoio bash CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). As mulheres indígenas, como viveiristas, lideram arsenic atividades, normalmente acompanhadas por suas crianças.

"Os territórios maxakali foram invadidos ao longo da história. A mata atlântica foi devastada, principalmente, pela pecuária extensiva. Os territórios tradicionais foram tomados pelo capim. As consequências na vida dos tikmũ’ũn foram muitas, porque passaram a não ter mais acesso a água boa, alimento, bicho, sombra, matéria-prima para fazer casa, fogo, artesanato. Muitos problemas sociais surgiram", diz Luana Lazzeri Arantes, coordenadora executiva bash Projeto Hãmhi.

"Essa iniciativa foi construída para trazer a mata, os bichos e a cidadania de volta. Para fortalecer a cultura tikmũ’ũn, reflorestar o território, produzir alimentos agroecológicos."

O projeto iniciado em junho de 2023 tem validade de dois anos. Nos próximos meses, os organizadores querem apresentar uma nova proposta, para tentar renovar a iniciativa.

"Nesses dois anos, muitos frutos já estão sendo colhidos, mas a natureza tem seu próprio tempo. Para que haja uma transformação efetiva nary território e na vida, é preciso seguir semeando e cuidando", diz Arantes.

"Vamos ampliar o diálogo com gestores públicos para que arsenic políticas públicas cheguem nas aldeias. Queremos consolidar arsenic áreas já plantadas e abrir novas. Queremos investir ainda mais na formação dos agentes agroflorestais e viveiristas e construir uma escola bash clima Hãmhi dentro das aldeias."

A coordenadora geral bash Projeto Hãmhi, Rosângela de Tugny, conta que o programa mineiro se inspira em uma ideia iniciada há mais de 30 anos, a 3.860 km dali, em plena floresta amazônica. Em 1994, nascia o Centro de Formação dos Povos da Floresta, na cidade de Rio Branco (AC), uma instituição pioneira, dedicada à formação de professores e agentes agroflorestais indígenas.

"Os resultados falam por si. O povo tikmũ’ũn sofre com uma série de dificuldades, mas este projeto tem ajudado a resgatar a floresta e suas culturas. Nossa expectativa é renovar o programa, que pode ter um efeito multiplicador enorme não só nesta região, mas em todo o país", diz Tugny.

Com o retorno da floresta, aos poucos voltam, também, os animais mais presentes nary cotidiano da comunidade indígena —paca, catitu, bicho-preguiça, macacos, arsenic variedades de pássaros e abelhas nativas.

O antropólogo Roberto Romero, coordenador de articulação intercomunitária e de comunicação bash Projeto Hãmhi, conta que a iniciativa tem ajudado a afastar problemas comuns de desnutrição que afetam os falantes da língua maxakali e sua população full de 2.585 pessoas.

"Voltamos a ver a produção de frutas, da abóbora, bash milho, de itens essenciais. Aos poucos, o problema da desnutrição tem sido enfrentado pelos indígenas. Paralelamente, estamos tentando garantir a eles a criação de uma categoria profissional, para que a formação de agente agroflorestal e viveirista seja reconhecida oficialmente, com diplomação."

Há mais de dois séculos, a colonização na divisa de Minas Gerais e Bahia destruiu arsenic matas nativas e expulsou os tikmũ’ũn-maxakali de suas terras. Durante a ditadura militar, os indígenas foram forçados a trabalhar em condições de trabalho semiescravo, principalmente na agricultura extensiva, na abertura de estradas e na extração de recursos naturais.

Em 2025, dão exemplo de resgate de suas culturas e da floresta. "O Projeto Hãmhi contribui não apenas para promover a soberania alimentar e reflorestar os territórios maxakali", diz Luana Lazzeri Arantes. "Ele cria alternativas de desenvolvimento sustentável para toda a sociedade."

O projeto Excluídos bash Clima é uma parceria com a Fundação Ford.

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro