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Largou emprego para abrir estúdio de tattoo para mulher; fatura R$ 250 mil

A tatuadora Jéssica Franco é fundadora da La Femme Tattoo, em São Paulo
A tatuadora Jéssica Franco é fundadora da La Femme Tattoo, em São Paulo Imagem: Divulgação

Durante mais de uma década, Jéssica Franco conciliou empregos no mundo corporativo com seu trabalho como tatuadora no estúdio de outras pessoas. Em 2019, ela abriu mão da carteira assinada para criar seu próprio espaço. Com o tempo, percebeu que as mulheres buscavam algo além da tatuagem —elas queriam se sentir acolhidas. Foi assim que focou o negócio no público feminino, com a criação da La Femme Tattoo, que faturou R$ 250 mil, em 2024.

Muitas mulheres chegam com histórias de superação, de recomeço, de dor. E estamos ali para tatuá-las, mas também para acolhê-las. Afinal, tatuar uma mulher é um ato de escuta, de respeito e de empoderamento. Jéssica Franco

Do pré à cicatrização

Estúdio de tatuagem foi aberto em 2019, em São Paulo. Jéssica, 39, investiu cerca de R$ 5 mil no negócio. "O início foi bem desafiador. Aluguei uma pequena sala, comprei equipamentos parcelados e comecei a atender as primeiras clientes", conta.

Focar no público feminino foi o 'pulo do gato'. "Percebi que as mulheres queriam se sentir acolhidas e seguras, com local, serviço e profissionais. A experiência e a confiança contam muito porque as minhas clientes voltam praticamente todo ano para novo atendimento e indicam outras mulheres."

Hoje, 98% do seu público é feminino. "Às vezes, abrimos exceção para amigos, clientes antigos, filhos, maridos das clientes e parentes, mas esses atendimentos acontecem em dias só para homens. Em geral, eles vêm com a esposa, que já é minha cliente."

Atendimento do pré até a cicatrização. Segundo Jéssica, o primeiro atendimento é pelo WhatsApp, para uma conversa sobre o tipo de desenho, tempo necessário e orçamento. "Separamos uma hora do atendimento para fazer a arte juntas e criar conexão com a cliente. Além da arte, a gente quer sentir se a pessoa tem certeza de que quer mesmo fazer aquela tatuagem. No pós, monitoramos toda a cicatrização da tattoo e avaliamos se precisa de algum ajuste ou retoque. Pedimos até fotos", diz Jéssica. A cliente também recebe um link de avaliação do Google para preencher.

Tudo é pensado para proporcionar uma experiência completa: o primeiro contato já estabelece vínculo e confiança, a arte é criada em conjunto, e cada cliente recebe acompanhamento durante todo o processo de cicatrização.
Jéssica Franco, fundadora da La Femme Tattoo

Cliente tatuou fênix para cobrir cicatriz

Rosana Ambrósio fez uma tatuagem de fênix na La Femme Tattoo
Rosana Ambrósio fez uma tatuagem de fênix na La Femme Tattoo Imagem: Divulgação

Tatuagem para cobrir cicatrizes. Rosana Ambrósio, 43, fez uma tatuagem com a Jéssica, para cobrir cicatrizes deixadas pela fístula (acesso vascular usado para hemodiálise) em seu braço esquerdo. Ela tatuou uma fênix (ave símbolo do renascimento). "A fístula é por onde eu podia sobreviver. Mas não gostava dessas cicatrizes. Eu olhava para elas e lembrava da minha dor. Por isso, acabei fazendo a tatuagem para cobrir as marcas."

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Tattoo em homenagem à irmã. Sua próxima tatuagem na La Femme Tattoo será uma homenagem à sua irmã Regina, que lhe doou o rim. "Quero que todo mundo saiba que doar órgãos salva vidas."

Jéssica me acolheu nestes últimos anos. Ela teve paciência, entendeu o meu tempo, conversava sempre comigo, esperou eu estar pronta para fazer as tatuagens. Me senti totalmente acolhida e segura. Rosana Ambrósio

Borboletas, florais e felinos

Jéssica não faz tatuagem de nomes. "No máximo, tatuo apenas a inicial do nome, porque é fácil de cobrir em caso de arrependimento. Só tatuo nome se for de filho. O índice para cobertura de nome de filho é zero. Geralmente, elas reformam, mas cobrir, nunca."

Quais são as tattoos mais pedidas? Segundo ela, depende muito da moda. No momento, as mais pedidas são de borboletas, florais e felinos.

Cobertura de cicatriz. Jéssica diz que a maioria das mulheres quer fazer uma nova tatuagem. "Em segundo lugar, estão as mulheres que querem cobrir alguma tattoo. Algumas vêm para cobrir uma cicatriz. Até por isso, preferem vir a um estúdio exclusivo feminino porque sabem que vão reviver aquela dor."

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Jéssica é especializada em cobertura de tatuagem. Outras duas tatuadoras trabalham com ela no estúdio. "Tenho uma equipe fixa desde 2019. Não mudo as profissionais, pois elas se tornam de confiança para as clientes."

Preços são variados. Uma tatuagem nova custa a partir de R$ 350. Para fazer retoques, o preço começa em R$ 200 e, para cobertura de uma tattoo, em R$ 600.

Em 2024, a empresa faturou R$ 250 mil. O lucro foi de 60%. Para este ano, a projeção é faturar entre R$ 280 mil e R$ 300 mil.

Largou emprego para abrir estúdio

Trabalho no mundo corporativo. Por 13 anos, de 2005 a 2018, Jéssica trabalhou em escritórios, laboratórios e call centers. Tinha carteira assinada. "Mas minha paixão sempre foi desenhar. Na adolescência, já comprava revistas de tatuagens e de desenhos na banca."

Em 2007, ela começou a tatuar em estúdios de outros tatuadores. "Paguei e aprendi com um tatuador. Na época, não havia escolas ou cursos online como hoje. O requisito é ser desenhista", diz. A primeira pessoa que Jéssica tatuou foi ela mesma. "Fiz um gatinho na perna. Mas ficou mal feito e tive que recorrer a outra profissional para arrumar."

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Apenas em 2019, ela criou coragem para abrir o próprio estúdio. "Percebi que o mercado das tatuagens estava evoluindo e o preconceito, diminuindo. Isso trouxe um aumento da demanda na área."

Concorrência é forte no setor

Nicho específico de mulheres é ponto alto. Vera Ruthofer, consultora de negócios do Sebrae-SP, diz que um dos maiores diferenciais do estúdio La Femme Tattoo é justamente o acolhimento e a dedicação às mulheres. "Ela [Jéssica Franco] construiu uma proposta de valor diferenciada com foco na experiência do seu público feminino, do pré ao pós atendimento. O atendimento acolhedor, personalizado e baseado na confiança e na sua habilidade artística fez do negócio dela algo sólido."

Ao fazer uma tatuagem para esconder uma cicatriz, por exemplo, a mulher tem necessidade desse acolhimento emocional. Isso é forte e traz segurança, representatividade e uma autoestima elevada. Vera Ruthofer, consultora de negócios do Sebrae-SP

Fidelização da clientela. Para Vera, a reputação positiva do negócio propicia a fidelização dos clientes. "Principalmente, pelo boca a boca, que ajudou nesse 'pulo do gato' do negócio. Afinal, é um negócio de tatuagem, que requer recomendação de um profissional competente. O fato de ela ter uma boa reputação de acolhimento junto às mulheres fortalece essa questão de confiança no trabalho dela. Ela não depende somente das redes sociais para atrair novos clientes."

Gestão de agenda e treinamento de outros profissionais. Vera diz que, quando Jéssica quiser expandir o negócio, abrindo outra unidade, ela precisará, inicialmente, ter uma gestão de agenda impecável para atender em dois lugares diferentes. "Depois, vale pensar em treinar profissionais para integrar sua equipe, mas sempre com o olhar de acolhimento das mulheres", diz. Para isso, a seleção desses profissionais deve ser muito criteriosa. "O critério seletivo deve ser a qualidade. Senão, ela corre o risco de deixar degringolar a marca que construiu."

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Pesquisa de mercado para avaliar localização do estúdio. Segundo Vera, existe um boom de estúdios de tatuagem no mercado. Portanto, a concorrência é alta. "Todo mundo procura o tal do 'oceano azul'. Por isso, antes de abrir qualquer negócio desse tipo, vale fazer pesquisas de mercado para avaliar o seu potencial, localização e até público-alvo, e conhecer seus concorrentes."

Boa administração financeira. Vera diz que vale guardar 10% dos ganhos para investir no próprio negócio. "Sem ter uma boa gestão financeira, o empreendedor pode acabar não tendo recursos para comprar equipamentos novos, melhorar o ambiente e fazer capacitações."

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