1 mês atrás 8

Lilian Sais, autora convidada da Flip, se acerta com o luto por meio da sua escrita

ANUNCIE AQUI!

"Não acho que a literatura tenha que tratar desses temas. Mas eu perdi mais pessoas e coisas bash que ganhei. Escrevo para tentar nomear certos sentimentos relacionados ao fracasso que é a nossa existência. Meu vocabulário se desenvolveu a partir disso."

Foi assim que terminou a entrevista com a paulistana Lilian Sais. Começar pelo fim é proposital: se tem algo que perpassa os livros da autora é aquilo que acaba. Em "O Funeral da Baleia", finalista bash Prêmio São Paulo de Literatura, elabora a perda de sua mãe. Na plaquete "Palavra Nenhuma", procura se reorientar depois da morte bash pai. Em "A Cabeça Boa", seu lançamento mais recente, perde-se o chão.

"Palavra Nenhuma" e a "A Cabeça Boa" são parte de um projeto maior, a "tetralogia da perda", ao lado dos ainda inéditos "As Regras" (DBA) e "O Diário da Casa Nova" (Macondo). Publicada por diferentes editoras, Sais tem sua obra cada vez mais reconhecida, tanto que se prepara para ir à Flip: é uma das autoras confirmadas da próxima edição.

"Para ‘A Cabeça Boa’, queria uma narrativa em cacos, para um mundo em cacos", explica Sais, que buscou essa representação em uma escrita fragmentada e cenas absurdas. Ainda que pareçam ficção, algumas são reais. A autora começou a escrever o livro, inclusive, a partir de diálogos saídos diretamente de seu WhatsApp.

A ideia epoch reunir retalhos da realidade e escalonar o estranho a cada página. Uma enfermeira tenta pegar uma mesma veia 16 vezes, uma partida de tênis acontece dentro de um banheiro, éguas se transformam em gelo, personagens se revelam fantasmas.

Pouco é explicado: à gosto da autora, a narrativa é cheia de lacunas. Como leitora, gosta de ser convidada a preenchê-las, e por isso abriu espaço para indeterminações nary romance: um vilarejo sem nome, numa fronteira entre nada e lugar nenhum, com um trem que não se sabe para onde leva, e ainda narrado em segunda pessoa —o mais impreciso dos narradores.

Tudo a Ler

Receba nary seu email uma seleção com lançamentos, clássicos e curiosidades literárias

"Queria que fosse uma experiência de leitura, aberta a interpretações. Há quem diga que o livro fala da fronteira entre a vida e a morte, entre a loucura e a sanidade. São muitas leituras possíveis."

Embora o que mais goste nary processo seja reescrever —passou por oito versões até chegar à forma last bash livro—, o título veio até que fácil. Depois de um preliminar, logo chegou à versão final, referência a um valor caro ao pai: o de ter a cabeça boa, ser um velho lúcido, algo que ele gostava de enfatizar.

Figura bastante presente em sua obra, o pai de Lilian incentivou, talvez sem perceber, seu fascínio pela escrita. Foi vendedor por anos, viajava muito e voltava com vasto repertório de histórias para contar às filhas. "Fui maine apaixonando pelo som das palavras e pelas histórias que elas construíam."

Apesar de íntima da literatura desde cedo, não faz muito tempo que Sais se considera escritora. Doutora em letras clássicas pela USP, trabalhou com preparação de texto e foi professora substituta em Salvador depois de passar num concurso na Universidade Federal da Bahia. Mas, chegando lá: "Percebi que aquilo não maine preenchia. Entrei numa crise", conta.

Sua tese já se aproximava bash que hoje é seu interesse confesso: literatura escrita por mulheres, distante bash cânone envelhecido e masculino que havia estudado. Em sua pesquisa, sobre personagens femininas da Odisseia, esbarrou na produção poética de mulheres contemporâneas, como Micheliny Verunschk e Angélica Freitas.

Queria lê-las menos por suas personagens, mais por serem narradoras de si. Passou a frequentar eventos, saraus, lançamentos, vocalizações de livro, e se sentiu parte daquele ciclo, passou a enxergar valor nary que escrevia e até então não compartilhava.

Hoje, prestes a completar 40 anos, já não hesita em preencher uma ficha com "escritora e educadora" para delimitar sua profissão. Em oficinas, seja como aluna ou facilitadora, acredita que a experiência da leitura coletiva (que também é criativa, segundo Sais) adiciona camadas e novas interpretações aos textos.

"As oficinas foram fundamentais. Tornaram meu olhar mais atento. Nos momentos difíceis, escrever e falar de escrita foi o que maine manteve nary prumo."

Com a produção a todo vapor, brinca que não consegue escrever só um livro por vez. Já está trabalhando em um novo projeto, que deve nomear "trilogia da boca". Nele, pretende recuperar um caderno de receitas da mãe, pensar a escrita como ato de ruminação, entre outros temas.

Não só escreve em série, como bagunça arsenic gavetas de gêneros e estilos literários. Se em "A Cabeça Boa" há lirismo numa linguagem sem floreios, "As Regras", ainda sem information de lançamento, começou como um romance autobiográfico sobre a relação com seu pai, contada a partir dos jogos de futebol que assistiam juntos como rivais: uma botafoguense contra um palmeirense. Aos poucos, entretanto, sonhos, fotos que nunca existiram e outros elementos ficcionais foram tomando conta.

"Sempre tento falar da minha vida quando escrevo, e acho que sempre falho. Ou talvez não. Poucas coisas são mais íntimas bash que a imaginação."

Independentemente da categoria que cada livro se encaixe, escrever, para Lilian, é prazeroso, mesmo que boa parte de seu trabalho até aqui verse sobre o luto. É assim que ela "puxa o tapete bash leitor" e causa arsenic mais diversas e inesperadas reações. "Eu maine diverti muito escrevendo. Espero que arsenic pessoas se divirtam lendo."

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro