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'Maduro é problema da Venezuela, não do Brasil', diz Lula após escalada de hostilidades

Lula avaliou que não pode ficar se "preocupando" com a Venezuela e que Maduro é um "problema" do país sul-americano. Ele defendeu, ainda, que cabe à população cuidar do chefe do governo venezuelano.

As declarações — registradas em uma entrevista à RedeTV!, concedida na última quarta-feira (6) e veiculada neste domingo (10) — quebram um jejum de falas do petista sobre o tema.

"Eu aprendi que a gente tem que ter muito cuidado quando a gente vai tratar de outros países e de outros presidentes. Eu acho que o Maduro é um problema da Venezuela, não é um problema do Brasil", disse o petista.

Na entrevista, o presidente brasileiro respondeu a um questionamento do senador Jorge Kajuru (PSB-GO). O parlamentar havia perguntado se estava na "hora" de Lula começar a "ignorar" Maduro.

"Eu quero que a Venezuela viva bem, que eles cuidem do povo com dignidade. Eu vou cuidar do Brasil, o Maduro cuida dele, o povo venezuelano cuida do Maduro, e eu cuido Brasil. E vamos seguir em frente. Porque também não posso ficar me preocupando. Ora brigar com a Nicarágua, ora brigar com a Venezuela, ora brigar com não sei com quem. Tenho é que tentar brigar para fazer esse país dar certo", declarou Lula.

À época, em meio aos questionamentos de opositores sobre os resultados, o governo brasileiro, em conjunto com a Colômbia e o México, cobrou a divulgação de atas eleitorais — uma espécie de boletim das urnas. Também defendeu que a soberania popular fosse respeitada com uma "apuração imparcial" dos votos.

"O que nós fizemos lá foi a gente acompanhar o processo eleitoral. E, no dia que terminou as eleições, o meu ministro, que era meu enviado lá, o Celso Amorim, perguntou pro Maduro se ele poderia mostrar as atas da votação. Perguntou pra ele e perguntou pro candidato da oposição. Os dois disseram que iriam mostrar. A verdade é que os dois não mostraram", relembrou Lula.

"Nós fizemos uma nota, junto com a Colômbia, dizendo da nossa inquietação de você não ter uma prova do resultado eleitoral. Ele [Maduro] deveria ter mandado a nota para o Conselho Nacional Eleitoral, que foi criado por ele próprio, que tinha dois membros da oposição e três do governo. Ele não mostrou. Foi direto pra Suprema Corte. Eu não tenho o direito de ficar questionando a Suprema Corte de outro país, porque eu não quero que nenhum outro país questione a minha Suprema Corte", prosseguiu.

Após oito anos, Nicolás Maduro veio ao Brasil para encontro com Lula e reunião com outros líderes sul-americanos — Foto: EPA

O governo venezuelano atribuiu a ausência a um veto do Brasil, classificado como uma "agressão inexplicável". Segundo apuração da TV Globo, o governo brasileiro fez pressão política para que Venezuela e Nicarágua não entrassem na lista.

Venezuela volta a subir o tom contra governo brasileiro

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Relembre abaixo alguns dos episódios que mostram momentos de maior proximidade entre Lula e Maduro e momentos de maior distância:

  • 29 de maio de 2023: Maduro faz visita ao Brasil e é recebido com honras de chefe de Estado;
  • 29 de maio de 2023: Lula defende Maduro e diz que venezuelano precisa construir a própria "narrativa" sobre cenário no país;
  • 29 de junho de 2023: Brasil defende publicamente a entrada da Venezuela no Mercosul;
  • 17 de outubro de 2023: Lula envia Celso Amorim a Barbados para mediar acordo eleitoral na Venezuela;
  • 29 de janeiro de 2024: Corina Machado, opositora de Maduro, é inabilitada e não pode disputar eleição;
  • 1º de março de 2024: Lula e Maduro se reúnem em São Vicente e Granadinas e discutem processo eleitoral;
  • 26 de março de 2024: Substituta de Maria Corina Machado, Corina Yoris não consegue registrar candidatura;
  • 26 de março de 2024: Itamaraty manifesta "preocupação" com desenrolar do processo eleitoral na Venezuela (com opositores sendo impedidos de participar do pleito);
  • 24 de julho de 2024: Maduro não apresenta provas e mente ao dizer que o Brasil não tem eleições auditáveis;
  • 28 de julho de 2024: Eleição presidencial da Venezuela;
  • 29 de julho de 2024: Conselho Nacional Eleitoral reconhece vitória de Maduro nas eleições;
  • 30 de julho de 2024: Lula cobra divulgação das atas eleitorais pelo governo Maduro;
  • 22 de agosto de 2024: Suprema Corte da Venezuela declara Maduro vencedor e proíbe divulgação das atas eleitorais;
  • 23 de outubro de 2024: Brics se reúne e barra entrada da Venezuela após articulação do Brasil;
  • 24 de outubro de 2024: Venezuela chama veto do Brasil de 'agressão inexplicável' e diz que governo Lula reproduz 'ódio de Bolsonaro'
  • 28 de outubro de 2024: Maduro cobra explicação pública de Lula sobre episódio envolvendo o Brics;
  • 29 de outubro de 2024: Assessor de Lula diz que houve "quebra de confiança" entre os dois países.
  • 30 de outubro de 2024: Governo da Venezuela convoca o embaixador em Brasília para retornar ao país;
  • 31 de outubro de 2024: Polícia venezuelana publica foto com bandeira do Brasil e a legenda "quem se mete com a Venezuela se dá mal";
  • 1º de novembro de 2024: Governo brasileiro responde a ataques e define como "ofensivo" o teor das declarações dadas pelo presidente Nicolás Maduro;
  • 2 de novembro: Venezuela diz que Brasil pratica "agressão descarada e grosseira" contra Maduro;
  • 3 de novembro: Lula recusa responder à imprensa sobre a relação com a Venezuela: "Hoje o assunto é o Enem".
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