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Mãe diz que vai mudar de casa após filho ter dedos decepados em escola de Portugal: 'Vou ter que reconstruir minha vida por xenofobia'

Por receio, ela decidiu deixar a casa onde morava, a cinco minutos da Escola Básica de Fonte Coberta, em Cinfães, no Distrito de Viseu — onde aconteceu o caso — e mudar-se para outra cidade, a aproximadamente uma hora dali.

"Meu receio é que lá é uma cidade pequena, como se fosse uma região bem interiorana do Brasil. E as pessoas todas se conhecem. E como os pais dos agressores têm família e amigos na região, eu não sei o que eles podem fazer. Eu não sei a maldade deles", afirmou Nívia.
  • Segundo a mãe, o episódio ocorreu na segunda-feira (10), quando José havia acabado de entrar no banheiro e foi seguido por dois colegas, que teriam fechado a porta sobre seus dedos, pressionando-a até a amputação. Ela relata que o menino tentou abrir a porta, mas não conseguiu devido à dor, e precisou se arrastar para pedir ajuda.
  • A professora da turma, Sara Costa, telefonou para a família dizendo que José “estava brincando” e “amassou o dedo na porta”, o que, segundo Nívia, minimizou a gravidade da situação.
  • O menino passou por uma cirurgia de três horas e perdeu a primeira parte do indicador e do dedo maior (na área da unha, especificamente).
  • "O dedo maior ficará sem unha, e o segundo ficará com apenas a metade", afirmou a mãe.

Criança brasileira tem dois dedos decepados em escola de Portugal, diz mãe — Foto: Arquivo pessoal

Desde a agressão, a família de Nívia está temporariamente na casa dos sogros. Ela está dormindo na sala com o marido, João Vitor da Silva, enquanto o filho divide o quarto com a cunhada, Rayssa, de 12 anos.

Eles só estão retornando para a casa no Distrito de Viseu para alimentar o gato da família, Shelbinho, de 2 anos. Nos últimos dias, ela decidiu se mudar definitivamente por temer novas represálias.

A mudança será feita em um único dia, com apoio de familiares, que irão encaixotar todos os pertences e entregar a chave ao proprietário. Por segurança, Nívia preferiu não informar o novo destino.

Sem ajuda do governo, vai com o próprio bolso

Após o ocorrido, a família não acionou diretamente a Embaixada do Brasil, mas parentes procuraram órgãos governamentais, que, segundo Nívia, não ofereceram nenhuma ajuda até o momento. Dessa forma, segundo ela, por estar sem ajuda do governo, vai precisar se mudar com o dinheiro que tiver no bolso.

Ela está buscando um emprego, assim como seu marido, que precisou largar o posto de soldador em uma obra para cuidar do enteado, José Lucas.

Além disso, a família precisará matricular José em outra escola, mas todos temem novos episódios de preconceito. Segundo a mãe, o menino sofreu as agressões por ser brasileiro, preto, gordo e recém-chegado à instituição — este era o primeiro ano letivo dele no local.

"Muitas regiões de Portugal são racistas e xenofóbicas", afirmou Nívia.

O menino José Lucas, de nove anos, teve dois dedos amputados por colegas em uma escola de Portugal na última segunda-feira (10) — Foto: Arquivo pessoal

Ela informou que, por ora, a única ajuda que recebeu de entidades partiu do hospital, que após a cirurgia de três horas em José, acionou uma assistente social. A profissional notificou a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, responsável por zelar pelos direitos de menores em Portugal. O órgão abriu uma investigação.

A assistente social aconselhou a mãe a retirar o menino da escola. “Eles continuam afirmando que aquilo foi uma brincadeira. Se puder mudar de escola e de cidade, faça isso”, disse à família.

A mãe também afirmou que procurou a polícia local, mas ouviu deles que se tratava de um acidente, conforme informado pela escola, e que deveria se contentar com essa versão. Ela contou ainda que buscou auxílio na segurança social, mas foi informada de que o atendimento poderia levar de cinco a seis meses.

A Direção do Agrupamento de Escolas de Souselo, instituição de ensino que une várias escolas da região, informou que abriu uma investigação interna. O g1 contatou o Itamaraty, a professora Sara Costa, o Ministério Público de Portugal e a polícia local, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.

Página da mãe contando sobre o caso — Foto: Reprodução/Instagram

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