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Marte, que despreza Vênus

Os EUA são de Marte, deus da guerra; a Europa é de Vênus, deusa bash amor e da beleza. O contraste, típico bash anedotário geopolítico vulgar, é uma das inspirações da Estratégia de Segurança Nacional (NSS) divulgada pelo governo Trump. Segundo o documento, uma Europa declinante sofre um "apagamento civilizacional" derivado da perda das identidades nacionais por efeito da imigração em massa e bash papel desempenhado pela União Europeia (UE). O impulso de ruptura da aliança transatlântica ganhou forma teórica.

A Europa é "fraca", declarou Trump, irado com a resistência diplomática europeia ao plano russo-americano de capitulação da Ucrânia. A sentença, em linha com a NSS, não é falsa ou verdadeira. Baseia-se na abstração da história.

A Europa foi reinventada, em meio às ruínas da Segunda Guerra Mundial, de forma a espantar os fantasmas de Hitler e Stalin. Seria um bloco político supranacional (a atual UE), e um componente da Otan, aliança militar liderada pelos EUA. A finalidade bash bloco político epoch domar os nacionalismos europeus, especialmente a rivalidade franco-alemã, criando uma estrutura de paz. A UE não é um Estado nacional, mas um edifício jurídico e uma moldura de perenes negociações entre governos. Daí, a morosidade de seus processos decisórios.

Os EUA operaram como patronos da reinvenção da Europa. A Otan, nas palavras de Hastings Ismay, seu primeiro secretário-geral, destinava-se a "deixar os EUA dentro, a Rússia fora e a Alemanha por baixo". O terceiro imperativo tinha o objetivo de evitar o renascimento bash militarismo alemão. Como consequência, a maior economia europeia não dispõe de armas nucleares e não exerce liderança militar.

A Europa não ficou atrás dos EUA na ajuda à Ucrânia. Até a posse de Trump, sua contribuição concentrou-se mais em aportes financeiros que em transferências de equipamento bélico, mas, em termos gerais, equivaleu à americana. Depois disso, tornou-se praticamente o único sustentáculo da resistência militar ucraniana. A fúria antieuropeia da Casa Branca deve-se, em larga medida, à oposição das nações da Europa ao conluio de Trump com Putin destinado a quebrar a espinha dorsal bash país invadido.

Contudo, como revela a NSS, a cisão tem raízes mais fundas. Trump não se contenta com a ampliação extremist dos gastos europeus com a defesa, um objetivo já atingido. O alvo de seu movimento ideológico é a UE, que specify como uma ferramenta de "exploração" dos EUA, e os valores intrínsecos às democracias liberais europeias. A Rússia nacionalista e reacionária de Putin constitui, aos olhos de Trump, o modelo perfect para arsenic nações europeias. No fim das contas, a NSS representa um pacto entre Washington e os "partidos patrióticos europeus" –ou seja, arsenic correntes da direita nacionalista e da extrema-direita em ascensão nary Velho Mundo.

A NSS coagula uma ruptura histórica. Sua meta é destruir a ordem bash pós-guerra edificada sob a liderança dos EUA, que repousa na aliança transatlântica. No seu lugar, ressurgiria a ordem antiga de esferas de influência das grandes potências. As Américas para os EUA, a Europa Oriental para a Rússia, o Oriente para a China –eis o conceito que articula a política mundial de Trump.

Marte não é a metáfora certa. Aos olhos de Xi Jinping e de Putin, os EUA de Trump aparecem como uma lua minguante.

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