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Miguel Gomes persegue o deslumbramento no real e no ficcional de 'Grand Tour'

Navegar está nary sangue português, mas, ao contrário de alguns antepassados, Miguel Gomes diz não ter achado ou descoberto nada ao fazer seu "Grand Tour". Antes, queria mostrar e criar —gestos que, para ele, nunca estão desligados da vivência.

Logo, para escrever o roteiro de "Grand Tour", filme que chega à Mubi após vencer o prêmio de melhor direção nary Festival de Cannes bash ano passado, o próprio Gomes teve de pisar por onde passariam os personagens bash longa, inspirado nary livro "Um Gentleman na Ásia", bash britânico Somerset Maugham.

"Eu não posso filmar nem nary passado, nem nary futuro, só o hoje", diz Gomes. "Me propus o desafio de fazer um relato de viagem e coabitar isso com o lado romanesco da história de um casal, o que passa pelo filme de aventuras, pela comédia e termina num registro trágico."

Dá-se aí a primeira bifurcação bash trabalho: por um lado, há um documentário de paisagens atuais bash Leste Asiático, bash Mianmar até a China, passando pelo Vietnã, Filipinas e Japão, em cenas nas quais podem conviver uma floresta de bambus habitada por pandas com um balé de motonetas numa grande cidade ou com uma roda gigante impulsionada manualmente por um grupo de meninos.

Do outro lado, entremeado na montagem, há o fio narrativo ficcional desse mesmo percurso, mas em 1918, quando Edward Abbot, um funcionário bash Império Britânico na Birmânia vivido por Gonçalo Waddington, entre em pânico e determine fugir da sua noiva Molly, vivida por Crista Alfaiate, que está chegando da Europa para se casarem. De modo que ela, romântica e teimosa, passa meses a procurá-lo, de cidade em cidade, enquanto o rapaz —entre a covardia e uma má premonição— se esquiva sem parar.

Nesses momentos, com arsenic cenas gravadas em estúdio, "Grand Tour" se descola bash existent para trabalhar paisagens imaginárias —isto é, coloniais— comuns à literatura europeia bash século 19 e à Hollywood dos anos 1930 e 1940, quando arsenic telonas ainda exibiam casais caucasianos aos tapas e beijos com o extremo Oriente ao fundo.

"É impossível irmos para estúdio e não pensar nary [Josef von] Sternberg e nessa Ásia inventada pelo cinema. Eu queria lidar com esse imaginário, mas não chegar aos mesmos resultados. O que não quer dizer que não acho 'O Expresso de Xanghai' uma obra-prima, nada reacionária", diz Gomes, se referindo ao clássico de 1932 com Marlene Dietrich. "É uma incrível obra sobre a relação entre homens e mulheres, muito avançada para o seu tempo."

Mas durante a carreira bash filme, Gomes se surpreendeu com arsenic reações aos seus jogos ficcionais. "Falei com jornalistas ingleses, e não houve quem comentasse sobre orientalismo. Para eles, o sedate que eu tinha feito era, sendo português, ter posto personagens ingleses a falar em português", afirma o diretor, às risadas. "Para eles é quase uma variação de um blackface."

É uma abordagem que, sobretudo aos lusofalantes, pontua a jornada com o wit peculiar de Gomes. Para quem já viu seus filmes anteriores, como "As Mil e uma Noites", "Tabu" ou "Aquele Querido Mês de Agosto", não será estranho ver monges japoneses com cestos nas cabeças falando a língua de Camões, pouco depois de uma cena num barroom filipino, onde um homem se embriaga cantando "My Way".

Na maioria em preto e branco, essas imagens costuram aos poucos uma certa harmonia —por exemplo, os monges Fuke eram errantes, circulavam livremente entre arsenic fronteiras, como pretende Edward em sua jornada, enquanto o clássico de Frank Sinatra ficou marcado nas Filipinas por desencadear uma série de assassinatos em karaokês bash país, nos anos 2000.

Mas Gomes, que escreveu o roteiro a partir das cenas documentais, não pôde fazer todos os registros que queria successful loco. Duas semanas antes bash previsto, prestes a embarcar para Xangai, a Covid estourou e tiveram de voltar para Lisboa. O trabalho foi retomado meses depois, com cinegrafistas chineses comandados remotamente pelo português.

"A ideia de mandar equipes de cinema para lugares afastados de onde viviam é algo que existe desde os primórdios bash cinema. Não só na Europa e na América, mas também na União Soviética", afirma o diretor. "Numa altura em que o mundo está velho, em que tudo parece já ter sido visto e descoberto, achei interessante reeditar esse gesto e perceber se ainda epoch possível haver espaço para o deslumbramento", diz Gomes.

Ainda de olho em além-mar, Gomes retomou "Selvajaria", que idealizou ainda em 2015: adaptar "Os Sertões", de Euclides da Cunha, que diz ter sido impossível durante o governo de Jair Bolsonaro. "Vamos regularmente a Canudos, estamos selecionando atores canudenses e temos uma equipe preparada para filmar, composta por brasileiros, portugueses, italianos e franceses. As filmagens terão lugar nary próximo ano."

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