Durante a manifestação mais recente, que aconteceu no último domingo (28), houve confronto entre a polícia e os manifestantes, deixando vários feridos, danos materiais e a sensação de um mal-estar crescente em um movimento que começou entre os estudantes e agora se espalha para outros grupos.
Os trabalhadores do setor de transportes, por exemplo, se queixam de estar à mercê da criminalidade que assola o país.
Desde o início das manifestações, foram vistas muitas faixas e cartazes com a letra Z, em alusão à Geração Z — nascidos entre 1995 e 2010.
As manifestações evidenciaram um amplo descontentamento no Peru, onde todas as pesquisas apontam para uma rejeição popular esmagadora à presidente Dina Boluarte e à coalizão de forças no Congresso que a apoia.

Protestos da Geração Z contra o governo do Peru têm confronto com a polícia e feridos
Os protestos começaram como um movimento sem liderança centralizada e parecem ter respondido a convocações espontâneas na internet.
Aos poucos, grupos mais organizados, como associações de estudantes universitários, começaram a se juntar.
Mas os motivos desse mal-estar não são apenas econômicos.
"Há uma grande rejeição à presidente Boluarte e seus aliados no Congresso devido ao crescente autoritarismo que vem sendo imposto no Peru."
Grupos de jovens encabeçam protestos no centro de Lima; o mais recente aconteceu no último domingo (28) — Foto: EPA via BBC
E alguns acontecimentos internacionais parecem ter incentivado as manifestações.
Coronel também percebe a influência.
"No Peru, já fazia um tempo que as pessoas não se atreviam a protestar pelo alto custo que isso teve na onda de manifestações de 2023, que deixou dezenas de civis mortos. Mas o exemplo do Nepal parece ter ensinado que é possível conquistar mudanças, até mesmo em contextos mais autocráticos que o peruano, por meio de mobilizações."
Os coletivos estudantis estão entre os mais ativos em uma onda de protestos que cresce, mas também jovens não universitários têm participado.
Coronel explica que, nos símbolos usados durante os protestos, percebe-se a marca da geração Z, cujos integrantes são considerados "nativos digitais" porque não conheceram o mundo antes da revolução da internet.
A bandeira do One Piece esteve presente em outras manifestações protagonizadas por jovens nas últimas semanas ao redor do mundo, desde a França até o Nepal, Paraguai e Marrocos.
A bandeira pirata de um desenho animado japonês é um dos emblemas dos manifestantes — Foto: REUTERS
Os primeiros protestos surgiram em resposta à reforma do sistema previdenciário aprovada pelo Congresso peruano.
A nova lei obriga os trabalhadores autônomos a contribuir com o sistema público de aposentadorias, mas limita ao mínimo o valor que os menores de 40 anos podem sacar antecipadamente.
A reforma irritou muitos jovens em um país onde os políticos de diferentes partidos protagonizam escândalos de corrupção dia após dia.
Jorge trabalha como professor em uma escola enquanto completa seus estudos e sente que a situação no Peru se tornou inaceitável.
Embora os líderes parlamentares tenham anunciado rapidamente que os pontos mais polêmicos da reforma seriam eliminados, a lei continua em vigor e os manifestantes pedem pela revogação.
Um grito contra a falta de segurança
À reclamação inicial contra a reforma do sistema previdenciário se somaram outras.
Uma das principais questões é a falta de segurança e as extorsões a pequenos negócios e no setor de transportes.
Ataques a tiros contra veículos de transporte público e assassinatos de motoristas são registrados no Peru quando as empresas se negam a ceder às chantagens.
O setor de transporte já realizou várias paralisações para exigir do governo uma solução.
Segundo a Associação Nacional de Integração do Transporte, 46 motoristas foram assassinados nos últimos meses.
Diante dessa situação, o sindicato do transporte se juntou à geração Z no último protesto em Lima.
"Se deixar de ser apenas um movimento jovem e se tornar um movimento transversal, isso pode se transformar em um problema mais sério para o governo", disse o jornalista peruano Martín Riepl à BBC.
Os trabalhadores do setor de transporte têm se unido aos manifestantes para exigir mais segurança — Foto: Getty Images via BBC
Rejeição à polêmica anistia
Também há oposição à polêmica Lei da Anistia promulgada em agosto, que beneficia os militares, policiais e membros dos Comitês de Autodefesa processados por crimes contra os direitos humanos cometidos durante a guerra do Estado peruano contra as guerrilhas de esquerda Sendero Luminoso e o Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) entre 1980 e 2000.
Esse fator também tem levado muitas pessoas às ruas, que conecta diferentes gerações de opositores do governo Boluarte.
O que exigem os manifestantes?
Os manifestantes não apresentam um objetivo concreto ou definido além da revogação da lei da reforma da previdência.
Enquanto isso, o governo optou por ignorar os protestos em suas declarações públicas.
Mas, à medida que o movimento ganha adeptos, parece estar se tornando mais ambicioso.
Jorge, que pretende continuar participando das manifestações, afirma que "o que se busca é derrubar o governo e o Congresso e promover uma reforma no país".
O que pode acontecer agora?
Depois das imagens de domingo, quando foram registrados confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes — que tentaram chegar à sede do Congresso — poucos acreditam que os protestos vão perder força imediatamente.
Pode até ser que a ação da polícia sirva para alimentá-los.
O Conselho da Imprensa Peruana, uma organização civil dedicada à defesa do jornalismo, denunciou que ao menos 20 profissionais da imprensa foram "agredidos" pelos agentes enquanto cobriam a última manifestação.
Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostrou como um policial golpeou com seu cassetete o rosto de um homem idoso quando ele se retirava do local, causando um ferimento e hemorragia.
Após os comentários de indignação, a polícia anunciou a abertura de uma investigação disciplinar por suposto "uso arbitrário da força".
Os manifestantes tentaram invadir a sede do Congresso no Peru — Foto: REUTERS
O que começou como um grito de jovens parece ter tomado outro rumo com a incorporação dos sindicatos de transporte e outros coletivos.
"No próximo ano há eleições no Peru e essa é uma das chaves", destaca Coronel, que acredita que os protestos não vão diminuir de um dia para o outro, mas duvida que consigam todos os seus objetivos.
Jorge, contudo, vê "cada vez mais pessoas nas manifestações". E acrescenta: "É preciso seguir em frente. O descontentamento é generalizado e nós, jovens, tomamos consciência disso".

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1 mês atrás
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