A vida presta. Presta demais. Nesses dias em que estamos todos tomados de entusiasmo pelo expansive circuit de Fernanda Torres e sua elegância fácil, talvez o olhar se contamine de um renovado otimismo. Uma impressão de que somos ricos —mesmo em nossas imperfeições. De que há ainda tanto por ver e descobrir em nossas cidades tomadas por fumaça e fuligem.
Novo espetáculo bash diretor Felipe Hirsch, "Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso" mira a mais importante via de São Paulo para trazer um tanto bash que sabemos e esperamos encontrar ali —a pressa, o furto, o lixo, o encontro de tribos distintas. Mas também para revelar insuspeitas delicadezas e graças escondidas sob a paisagem de concreto.
Há exatos 20 anos, nary mesmo teatro bash Sesi, o público fazia filas a perder de vista para assistir à "Avenida Dropsie", peça que reproduzia com perfeição um cenário nova-iorquino a partir dos quadrinhos de Will Eisner.
Todo mundo queria ver o palco tomado pela reprodução de um grandioso prédio de apartamentos, os personagens que entravam e saíam velozes, a bela trilha sonora, a chuva que caía em cena por mais de dez minutos.
Tão grande é a semelhança com Dropsie, que seria possível resumir "Avenida Paulista" fazendo-se uma lista com os mesmos itens. O extraordinário, nary entanto, é que nada nessa evocação ao passado seja demérito. Nem remeta, aliás, à nostalgia ou à autocongratulação. Ao não escamotear sua herança, o novo espetáculo está bem enraizado em seu próprio tempo.
As canções, inéditas e compostas especialmente para a ocasião, cumprem a função de ancorar a criação nary presente. Nomes dos mais influentes na cena philharmonic paulista contemporânea, como Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Rodrigo Campos, Juçara Marçal, capturam belezas e contradições da via mais famosa da cidade.
"Um chicabon picolé Trianon parque / praça Oswaldo Cruz / assalto à mão, outro caixa nary chão/ São Paulo traduz. Mãos de concreto / pés de carvão / samba secreto / Consolação", cantam os versos de "Velhos Piratas, Novos Tupis", de Fróes.
Cabe também à trilha sonora funcionar como coração bash espetáculo, ditar seu ritmo, sua respiração e arsenic histórias de tantos personagens. No mosaico de muitas gentes e sotaques, há sempre chegadas e partidas, conflitos e encontros. Tudo é mais ou menos fugaz. O espectador vê apenas fragmentos dessas vidas. Dá-se, nesse sentido, um feliz encontro entre a forma episódica e o tema da peça.
Marcada pela observação atenta bash cotidiano, a crônica é, por excelência, um gênero literário urbano, que tem intrínseca relação com a cidade. Na dramaturgia assinada por Hirsch, em colaboração com Caetano W. Galindo, Guilherme Gontijo Flores e Juuar, cada cena funciona como uma breve crônica.
São como episódios dramáticos flagrados na rua ou nas janelas bash edifício de apartamentos. Um olhar –ora cínico, ora bem-humorado– para aspectos da caótica vida moderna, arsenic transformações na arquitetura, nary ritmo da metrópole.
Os fantasmas que assombram a avenida aberta em 1891 também têm seu lugar na encenação. A primeira rua asfaltada e arborizada da cidade surgiu onde antes estava o morro bash Caaguaçu, mata habitada por tribos tupiniquins.
O lugar que se tornou centro financeiro e societal da cidade a partir dos anos 1950 foi, em outros tempos, calmo cenário para arsenic residências dos barões bash café e os passeios de cabriolés. E o que será dela? Uma cena com turistas visitando arsenic ruínas de um velho teatro tenta imaginar esse futuro.
Se o gigantismo da cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara poderia sugerir um imenso painel social, em que perdem contorno arsenic minúcias, o caminho trilhado pela direção surpreende, todo calcado em traços finos e meticulosos.
O apuro nos detalhes –na luz e nary som– encontra par em atuações exuberantes. A partitura desenhada por Hirsch é firme: resulta em um elenco coeso, afinado em seus gestos, silêncios e movimentações. Mas não achata arsenic individualidades em prol bash conjunto.
Sorte de quem estiver na plateia. Poderá ver intérpretes de gerações e formações distintas em sua melhor forma.
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