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Retrospectiva 2023: não vire o ano sem ler os destaques da Repórter Brasil

(Ilustração: Tai)

Ainda sob a polarização política que marcou as mais acirradas eleições desde a redemocratização, o ano de 2023 foi bem movimentado para a Repórter Brasil. 

Temas que costumamos acompanhar com lupa tiveram bastante repercussão ao longo dos últimos 12 meses: do trabalho escravo nas vinícolas da Serra Gaúcha ao chamado “marco temporal” das terras indígenas em discussão no Congresso Nacional, passando pela aprovação da lei que afrouxa o controle sobre agrotóxicos.

Também seguimos firmes e fortes no mapeamento de compradores de mineradoras e produtores rurais envolvidos em violações socioambientais.

Dito isso, convidamos vocês a revisitar algumas das nossas principais coberturas de 2023. E aproveitamos a oportunidade para desejar um feliz ano novo.

Boa leitura! 

Trabalho Escravo: recorde na Lista Suja e caso Starbucks

Trabalhadores que prestavam serviço para a Cervejaria Kaiser, do grupo Heineken, estava em condições precárias (Foto: Inspeção do Trabalho)

Publicamos em primeira mão a informação de que a “Lista Suja” bateu recorde histórico de empregadores responsabilizados por trabalho escravo. Publicada em outubro, a última atualização do cadastro chegou a 473 nomes. Dentre eles, aparecem a Cervejaria Kaiser, do grupo Heineken, além de cinco pecuaristas fornecedores da JBS, maior produtora de proteína animal do planeta.

Em outra reportagem de grande repercussão internacional, trouxemos à tona o envolvimento da Starbucks – a mais conhecida rede de cafeterias do mundo – com produtores flagrados com trabalho escravo e infantil.

Também mostramos como a vinícola Aurora, flagrada com trabalho escravo em Bento Gonçalves (RS), era uma das empresas certificadas com o selo “Great Place to Work” (em tradução livre, um “ótimo lugar para trabalhar”).

Água contaminada com agrotóxicos e ‘PL do Veneno’

Ativistas do Greenpeace protestam contra projeto de lei que afrouxa regras para aprovação de novos agrotóxicos (Foto: Bárbara Cruz/Greenpeace)

Nos últimos anos, a Repórter Brasil se consolidou como uma das principais fontes de informação sobre agrotóxicos no país. Ao longo de 2023, publicamos reportagens de fôlego denunciando os impactos da larga utilização de pesticidas sobre o meio ambiente e a saúde.

Revelamos que o Brasil continua comprando milhares de toneladas de agrotóxicos banidos na Europa por matarem abelhas, tema de grande interesse público. Além disso, chamamos atenção para a presença de substâncias nocivas em quantidade acima do limite considerado seguro pelo Ministério da Saúde na água tratada que sai da torneira de 28 municípios.

Também focamos a cobertura no Projeto de Lei 1459/2022, aprovado pelo Congresso Nacional e conhecido como “PL do Veneno” por afrouxar a legislação de agrotóxicos. Mostramos como servidores do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), além da comunidade científica, insurgiram-se contra a nova legislação, que concentra as decisões no Ministério da Agricultura e esvazia a competência dos dois órgãos federais para aprovação e reavaliação de agrotóxicos no país.

Questão indígena

Atrofia muscular é um dos sintomas da contaminação por mercúrio (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)

Outra cobertura cara à linha editorial da Repórter Brasil diz respeito à questão indígena, mostrando os impactos causados pela mineração ilegal e os interesses por trás do “marco temporal”.

Demos visibilidade a uma verdadeira tragédia humanitária entre os Munduruku, no Sul do Pará. Nossa reportagem mostrou como a contaminação por mercúrio, usado no garimpo ilegal de ouro na região, é a principal suspeita de causar malformações e atrasos no desenvolvimento de crianças indígenas. Não à toa, os Munduruku são os que mais solicitam cadeiras de rodas às autoridades.

Também nos debruçamos sobre a discussão do “marco temporal”. Considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e posteriormente aprovada pelo Congresso Nacional como uma espécie de “recado” à suprema corte, a tese encampada pela bancada ruralista determina que terras indígenas só podem ser demarcadas a partir da comprovação da presença de povos originários em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.

Em diferentes investigações, demonstramos como o lobby dos produtores de soja foi uma das principais forças operando em Brasília para a aprovação desse entendimento. Também descrevemos as estratégias de lideranças indígenas para levar o assunto novamente ao STF e tentar impedir a aplicação da tese ruralista.

Ouro de tolo? ‘Narcogarimpos’ e garimpos fantasmas

Área de garimpo na TI Yanomami (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Em um especial jornalístico resultado do mergulho em 17 mil páginas de documentos de dez diferentes operações da Polícia Federal (PF), desvendamos as conexões entre traficantes, garimpeiros, policiais e empresários suspeitos de envolvimento com os chamados “narcogarimpos”.

Esse modelo foi adotado por cartéis de drogas na Amazônia para lavagem de dinheiro por meio da exploração de ouro – um mercado com notórias falhas de fiscalização e brechas para práticas criminosas.

Em outra minuciosa análise sobre as fragilidades desse setor, contamos como o empresário Dirceu Frederico Sobrinho, apelidado de “Rei do Ouro”, usou garimpos apontados como “fantasmas” pelo Ministério Público Federal (MPF) para liberar parte de uma carga de 67 kg de ouro apreendida pela Polícia Militar do Mato Grosso.

Agronegócio: os impactos da pecuária e da plantação de grãos 

No auge da safra da soja, os portos de Itaituba recebem 1.500 caminhões por dia (Foto: Mariana Greif/Repórter Brasil)

Cumprindo nossa missão de seguir o dinheiro envolvido com a devastação de nossos biomas, detectamos que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou produtores rurais autuados por desmatamento ilegal de áreas de floresta.

Também expusemos os laços comerciais de três gigantes do agronegócio de grãos – Cargill, Amaggi e Cofco – com uma família de produtores de soja que tem área interditada pelas autoridades por infrações ambientais. Após a publicação da reportagem, a Cargill não só suspendeu o contrato como adiantou a meta de “desmatamento zero” em sua cadeia de 2030 para 2025.  

Em outra frente, rastreamos o gado do pecuarista Bruno Heller, apontado pela PF como o “maior devastador da Amazônia”. Descobrimos que ele usou fazendas de sua família sem autuações ambientais para vender animais a um frigorífico fornecedor do Carrefour. A matéria teve repercussão internacional, após ser citada pelo diário francês Le Monde.

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