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Ricardo Amorim aponta 'grande oportunidade' para varejo vender mais

Lojista que está tentando descobrir como vão ser os últimos três meses e meio de 2025 e ainda se motivar vai gostar de saber o que diz um dos economistas mais populares do BrasilRicardo Amorim fechou a 2ª Convenção Estadual Lojista com otimismo. Tem o ingrediente político do julgamento e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro? Tem. O tarifaço imprevisível do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump? Tem. Mas tem mais investimentos externos, real valorizadojuros declinando em 2026 e inflação descendo do patamar mais alto. Amorim falou a língua dos varejistas, que terão de caprichar na eficiência e acertar os pontos com os clientes usando Inteligência Artificial (IA), todos temas da convenção comandada pela Federação Varejista do RSem Gramado. A seguir, o que disse o economista:    

Minuto Varejo - Qual é o teu olhar sobre a economia após julgamento de Bolsonaro, tarifaço de Trump e bota mais coisas aí?

Ricardo Amorim - Pós-tudo. (risos) Aproveitando a deixa que você está me dando, costumava dizer que, no Brasil, sempre foi com emoção ou com muita emoção. Aquela história de você pode escolher: com emoção ou sem, só na duna do Nordeste, não é na economia brasileira. Só que agora é assim no mundo inteiro. O que está acontecendo é que: primeiro, o Trump expandiu o tarifaço para o mundo inteiro. As coisas acontecem no dia, no seguinte muda e no outro dia muda de novo o que já tinha mudado. Para completar, o cenário geopolítico está mais complicado do que nunca. De três anos para cá, a gente teve guerra de Rússia e Ucrânia, Israel e Hamas, Israel e Irã, Índia e Paquistão, Camboja e Tailândia. O cenário está pegando fogo. O maluco é que, no meio disso tudo e com todos os problemas que o Brasil tem e que não são poucos, faz cinco anos que o País cresce todo ano mais do que todo mundo acha. É assim todo santo ano.

MV - Por que isso está acontecendo?

Amorim - Em primeiro lugar, o cenário geopolítico conturbado transformou o Brasil na única opção de grande mercado emergente com risco geopolítico baixo. São 165 países considerados emergentes, mas grande é quase nenhum. São quatro: Brasil, Rússia, Índia e China. A Rússia está em guerra, e a China quebrando o pau com os Estados Unidos. Com isso, estão tirando o dinheiro dos dois para levar a outros dois: Índia e Brasil. Mas, há um mês, os indianos entraram em guerra também. Desde então, o Brasil está ganhando de W.O. Aí, chega o tarifaço dos EUA. Qual é a preocupação? Achavam que iam tirar o dinheiro do Brasil, mas  aconteceu o contrário. De lá para cá, o Real vem sendo a moeda mais forte do mundo, ou seja, a que mais se apreciou. Isso mostra que o dinheiro não está saindo, mas entrando. E por que está entrando no meio dessa confusão toda? Simplesmente, porque, com todos os problemas brasileiros, as outras opções (economias) estão piores. Costumo dizer que não é mérito do Brasil, mas demérito do resto. Por conta disso, já faz cinco anos que está entrando bastante investimento de empresas estrangeiras. Com mais investimento dessas companhias, tem mais emprego. Com mais emprego, tem mais renda. Com mais renda, tem mais consumo. Com mais consumo, tem mais venda. Quando tem mais venda, as empresas contratam mais. Quando elas contratam mais, o salário sobe mais, e o poder de consumo sobe. A gente está num círculo virtuoso sem ser por mérito próprio. Costumo dizer que é 'apesar do Brasil, não por causa do Brasil'.

MV - Os números da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, mostram vendas mais fracas e em queda ... 

Amorim - O varejo passou há poucos anos por um momento muito complicado. Quando teve o problema da Arapuã (anos 2000 a 2020 entre recuperação judicial e falência), instituições financeiras se preocuparam que outros varejistas pudessem ter problemas parecidos, e secou o crédito para o setor. Sem crédito, a vida fica bem complicada. De lá pra cá, a gente vê uma virada quase que generalizada. Ao olhar as vendas dos diferentes subsetores do comércio, vemos uma recuperação praticamente generalizada em todos eles, mas com um detalhe. Por conta do tarifaço do Trump, produtos feitos para os EUA e que não estão sendo vendidos estão sendo comercializados aqui. O que isso está fazendo? Os preços estão caindo internamente. Por isso, o dado da inflação (agosto), na verdade, uma deflação, com preços caindo em vez de subir, foi o mais baixo nos últimos três anos. Por que isso importa? Os juros no Brasil estão estratosféricos para segurar a inflação. Quando o índice de preços deixa de ser problema, os juros vão cair. É o que vai acontecer entre o finalzinho desse ano e o começo do ano que vem. Quando caem as taxas, a quantidade de crédito aumenta, o que aumenta consumo e venda no varejo. Isso (redução dos juros) não vai acontecer rápido, mas ao longo do ano que vem, com isso, vamos ver a economia acelerando.

MV - O que fazer para não deixar mais essa oportunidade passar?

Amorim - Falam que o Brasil é o país do voo da galinha. Discordo. Acho que o Brasil é o país do voo da pipa. Qual é a diferença? A galinha voa com as próprias asas, voa pouco e não aguenta voar muito, pois voa com as próprias asas. A gente voa, enquanto o vento favorável externo está batendo. Quando ele para de bater, a pipa vai para baixo e para de voar. A gente não está controlando o processo. Para controlar, precisaríamos resolver um monte de problemas estruturais internos. Primeiro, a qualificação da mão de obra, que exige educação de qualidade, começando pelo Ensino Básico. Segundo, precisa mais mecanização, robotização e automação para aumentar a produtividade dos trabalhadores. Terceiro, temos de ter mais acesso a capital, e só tem um jeito: com taxa de juros muito mais baixa. Para ficarem baixinhas como no resto do mundo, o governo tinha de parar de tomar tanto dinheiro emprestado. Se o governo reduzisse gastos e, por consequência, acertasse as contas públicas, os juros cairiam muito.

MV - E o ingrediente eleitoral?

Amorim - O grande ponto é que o atual governo não parece ter comprometimento nenhum com a agenda de corte de gastos públicos. E o próximo (governo)? Ninguém sabe qual vai ser. Dependendo do resultado da eleição, é possível ter alguém com um comprometimento fiscal maior e, se acontecer, a perspectiva de crescimento é ainda maior. O meu grande ponto é: com o que temos hoje é suficiente para tudo aquilo que falei acima? Se, eventualmente, quem ganhar a eleição tiver um comprometimento - fizer reformas (administrativa profunda e da Previdência) -, e usar o dinheiro poupado para reduzir dívida e imposto, reduz o custo que as pessoas pagam. Com isso, elas podem comprar mais. Mas não tenho a menor ideia do que vai acontecer depois da eleição.

MV - Qual é o efeito da reforma tributária em tudo isso?

Amorim - A reforma tributária tem impactos diferentes em setores diferentes. Para a indústria, é extremamente positiva porque acaba com o imposto em cascata. O setor vai pagar muito menos imposto. Já os serviços e o agronegócio vão pagar mais no longo prazo, porque a reforma começa a ser implementada no ano que vem, mas só vai estar completamente implementada em 2033. Nos próximos 10 a 20 anos, vamos  ter uma mudança no padrão de crescimento da economia. Os serviços devem crescer menos porque vai pagar mais tributos, e a indústria vai crescer mais (depois de 40 anos de estagnação) porque vai pagar muito menos. O Brasil vai crescer mais por conta da reforma? Não. O grande objetivo da reforma é simplificar, mas só em 2033. Antes de simplificar, vai complicar.

MV - O que os varejistas devem fazer diante desses cenários?

Amorim - Tem duas situações mais importantes. A primeira: vamos passar pela maior transformação tecnológica já vista. Depois da energia elétrica, o resto é fichinha, incluindo os smartphones. Tudo é pequeno perto da inteligência artificial (IA). Quem souber usar a IA vai ter vantagem gigantesca em todos os setores, incluindo no varejo. A segunda é que estamos hoje na fase de mais oportunidades. Não que esteja tudo maravilhoso  - está muito longe disso -, mas porque está melhor do que a maioria acha. Por que oportunidade não é quando está tudo maravilhoso? Porque quando está tudo maravilhoso e todo mundo já viu, todos querem aproveitar a mesma condição. Então, o que era oportunidade vira uma arapuca. Chamo isso de efeito paletas mexicanas. Quando começa alguma coisa a dar certo, todo mundo quer entrar no mesmo caminho. O que era oportunidade já não tem mais gente suficiente querendo comprar. É como o morango do amor, que entrou na moda e todo mundo passou a vender. Agora, como a maioria está pessimista com o Brasil - é difícil achar um otimista -, o que acontece? Todo mundo está retraído. Não tem ninguém, de fato, indo com tudo atrás dos clientes. Mas quem for, vai nadar sozinho. É a grande oportunidade.

MV - As empresas estão mesmo ligadas no impacto da IA?

Amorim - É difícil achar qualquer líder empresarial que não saiba que precisa da tecnologia. A maioria sabe que precisa usar, mas não sabe como e nem para que usar. A dica é: começa do jeito mais fácil para ir se familiarizando. Depois disso, vai perceber usos que desconhecia. Criei um programa no YouTube chamado MetamorfoseZ, com Z maiúsculo de tão grandes que são as mudanças. A primeira temporada foi exatamente com quem está criando IA no Brasil e quem está usando muito bem IA. A ideia é inspirar as pessoas vendo gente que está usando bem para começar a usar também. O Brasil é um dos países onde a adoção de IA está sendo mais rápida. Outro aspecto: essa tecnologia é intensiva em demanda de energia elétrica, e o Brasil tem uma vantagem gigante em geração e energia barata e renovável, que será essencial para os datacenters rodarem IA. A gente está com a oportunidade na mão. É o país do futuro.

MV - O Brasil vai deixar de ser eternamente o país do futuro?

Amorim - Diria que ele foi do futuro do pretérito que não chegava. Temos mais uma vez uma chance de transformar esse futuro em presente, em realidade. Mas depende de ações. Até agora, fomos premiados por um monte de sortes. Costumo brincar que a gente é bom em queimar o bilhete premiado da loteria. Não podemos mais fazer isso. Neste sentido, o resultado da próxima eleição e, principalmente, das políticas públicas, seja quem for que estiver lá (Brasília), vão ser importantes. 

 O SindilojasPOA faz o Café com Lojistas com a provocação é direta: "Bora Vender". O tema vai estar em pauta no Café com Lojistas, evento do Sindilojas Porto Alegre, programado para dia 16, a partir das 8h30min no centro da Capital. Quem vai guiar os participantes é Fabi Nunes, consultora, com larga experiência em ações para elevar o desempenho de times de vendas. Fabi também é empreendedora, fundadora da Brizza, loja digital que comercializa joias de segunda mão (second hand), e desenvolve projetos com clientes entre grandes varejistas de diferentes setores.As inscrições são pelo link.  O Café é na rua dos Andradas, 1234, 9° andar, no Centro Histórico. Associados do sindicato têm duas vagas gratuitas. A partir da terceira vaga, a inscrição é R$ 30,00. Não associados pagam R$ 50,00.

 Uma das maiores cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) e conhecida como Capital do Calçado vai reativar sua tradicional campanha de descontos na largada do ano. Sim, o Liquida Novo Hamburgo volta com tudo em fevereiro de 2026, segundo decisão recente da CDL Novo Hamburgo. A última edição da campanha na Capital do Calçado foi em 2021, um ano após a eclosão da pandemia de Covid-19, que começou em março de 2020 no Brasil.  

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