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Secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura prevê que municípios terão que revisar usos de áreas suscetíveis a inundações

Adaptação aos eventos climáticos severos é algo que a secretária estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Marjorie Kauffmann, enfatiza que a humanidade terá que fazer imprescindivelmente nos próximos anos. No caso particular do Rio Grande do Sul, a dirigente antecipa que, após as enchentes que atingiram diversas cidades gaúchas, a expectativa é de que as prefeituras municipais alterem seus planos diretores, planejando melhor o que poderá ou não ser situado em áreas de riscos, como nas proximidades dos rios.

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Adaptação aos eventos climáticos severos é algo que a secretária estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Marjorie Kauffmann, enfatiza que a humanidade terá que fazer imprescindivelmente nos próximos anos. No caso particular do Rio Grande do Sul, a dirigente antecipa que, após as enchentes que atingiram diversas cidades gaúchas, a expectativa é de que as prefeituras municipais alterem seus planos diretores, planejando melhor o que poderá ou não ser situado em áreas de riscos, como nas proximidades dos rios.

Jornal do Comércio (JC) - Qual a sua observação sobre essa catástrofe climática que assolou o Rio Grande do Sul?

Marjorie Kauffmann - O que nós observamos é uma concretização de previsões que já vêm há bastante tempo, mas tivemos eventos bem intensos no final do ano passado e esse está superando todas as expectativas. Estão (os fenômenos climáticos) cada vez mais frequentes e com uma intensidade que acho que nenhum de nós poderia imaginar. E ainda agravando a situação temos as ocorrências simultâneas, em várias partes do Estado. Por mais que tenhamos tido alertas, previsões e fizemos o chamado de atenção à população, nem tínhamos terminado a ocorrência na região de Lajeado e (a elevação do nível d’água) já estava chegando na região Metropolitana e saindo dali para o Sul. De fato, é muito difícil para o Estado, ainda que com o aporte dos municípios, dos próprios civis que ajudaram e do Exército e da União, é complicado porque tivemos um comprometimento sério da questão logística. A dificuldade de acesso físico foi um complicador importante nessa cheia.

JC - Por quanto tempo ainda o Estado sentirá os impactos desse acontecimento?

Marjorie - Nós vemos com bastante preocupação os reflexos que já sentimos agora, no momento dos resgastes, e com certeza esses reflexos vão perdurar por muitos anos, eu diria, no Rio Grande do Sul. Há a necessidade de adaptação desses ciclos de mudanças climáticas que estão assolando o planeta, não só o nosso Estado, mas o mundo, que vai ter que aprender com isso e que vamos ter que intensificar ainda mais as nossas ações de adaptação.

JC - Particularmente no Rio Grande do Sul, que medida de adaptação pode ser tomada ou desastres dessa magnitude são muito difíceis de controlar?

Marjorie - A quantidade de chuva, que foi uma coisa sobrenatural, esse controle sobre os eventos maiores, acredito que é a parte mais difícil, mais cara e demorada, do ponto de vista que a gente precisa de planejamento para tudo isso. Mas, e eu gosto de frisar isso, que as pessoas buscam uma alternativa imediata como, por exemplo, barramentos, que jamais suportariam a quantidade de chuva que caiu. A gente entende que esses estudos de dragagem, de barramento, eles precisam acontecer, mas mais importante que isso é investirmos na previsão e nos planos de contingência, além da atualização dos planos diretores para minimizar a perda em danos materiais. A localização das comunidades e das indústrias, a gente precisa entender essa nova lógica de tudo.

JC - Quando se fala em mudanças nos planos diretores, pode ocorrer que algumas construções não sejam reerguidas após a enchente por se encontrarem em zonas de risco? Além disso, poderão ser proibidos empreendimentos em determinadas áreas quando das expansões futuras das cidades?

Marjorie - Eu tenho quase certeza disso. Se eu fosse prefeita, eu teria certeza absoluta. Penso que sim, principalmente que a permissão para a construção em áreas de risco vai ser vedada pelos municípios que foram atingidos. Mas, a gente precisa trabalhar em alternativas para que as pessoas possam morar em outros lugares e tenham logística em outros locais. A infraestrutura tem que chegar lá. Não adianta colocar as pessoas e não ter locomoção, transporte público, saneamento, tudo isso tem que andar junto. Isso é caro e demorado, mas também temos que investir muito na utilização dessas áreas suscetíveis à inundação. A maioria delas está perto dos centros da cidade e é preciso usos que tragam menos impactos na hora da inundação e mais qualidade ambiental para esses locais.

JC - Os terrenos com risco de inundações poderiam ficar apenas inutilizados?

Marjorie - As áreas simplesmente abandonadas, desocupadas, elas acabam sendo alvo de moradias irregulares, que é a pior opção, a pior escolha, pois não temos nem um tipo de prevenção, de minimização de impacto ambiental, e temos dificuldade até de reconhecimento disso nos planos de contingência. Então, não é só limitar o uso e a ocupação no plano diretor, mas prever a ocupação de outros tipos de aproveitamento para essas áreas suscetíveis, com regramentos para que os municípios busquem as revisões de seus planos diretores e a criação de comissões de mudanças climáticas que possam pensar nesse todo e a revisão dos planos de contingência.

JC - O governador Eduardo Leite mencionou que serão necessários cerca de R$ 19 bilhões para a reconstrução do Estado. Na sua opinião, quais os segmentos que mais demandarão esses recursos?

Marjorie - Acho que vamos ter muitos recursos destinados à parte da infraestrutura e da logística, principalmente, porque tivemos muitas quedas de estradas e pontes. Mas, os estudos de adaptação que abrangerão novas determinações de cotas de inundação, revisão de planos de contingência, de planos diretores, treinamento e fortalecimento da Defesa Civil e educação ambiental para as comunidades atingidas em áreas de risco, com certeza também estão na pauta do governador. Nós queremos aproveitar esse momento de sensibilização e esses recursos não só para reerguer o que perdemos, mas para traçar ainda um novo caminho para o Rio Grande do Sul. Ninguém está livre desse tipo de desastre ambiental, a gente tem visto ocorrer em várias partes do mundo. Nós, enquanto espécie, precisamos buscar essa adaptação da nossa resiliência.

JC - Qual a dimensão do estrago na área de infraestrutura com as chuvas?

Marjorie - É algo, de fato, devastador. Na região do Vale do Taquari, por exemplo, as duas pontes que ligavam Lajeado a Arroio do Meio caíram, as duas, não uma só. Eu voei de Lajeado até Porto Alegre e comentei que parecia a Amazônia, de tanta água que tem no Rio Grande do Sul. Então, a gente vai ter que entender como vamos lidar com isso. Mas, precisamos ter infraestrutura, precisamos restabelecer a vida, as condições mínimas das pessoas e isso tudo é muito caro. E nós precisamos ter um novo olhar, como humanidade, como usuários dos recursos naturais desse planeta que é suscetível e que desde a sua criação vive essas evoluções.

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