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Tomaria um chope com Dino, mas não voto nele para o STF, diz Mourão

O senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS) avalia que o presidente Lula (PT) não deveria indicar o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), para o STF (Supremo Tribunal Federal) e diz que, se isso ocorrer, deixará seu voto contra.

"[Quando era do Alto Comando do Exército] votei em gente que eu jamais sentaria para tomar um chope; e deixei de votar em gente que eu tomaria chope e bateria papo a noite inteira. O Dino eu posso convidar para tomar um chope, mas não voto nele."

Anistia a réus do 8 de janeiro

Essas pessoas estão sendo julgadas na última instância, não foi obedecido o princípio do juiz natural, as condutas não são individualizadas. Quando você olha o conjunto da obra, tem algumas pessoas que você pode individualizar, quem quebrou, vandalizou. E há as outras pessoas que eram passageiros da agonia nesse filme. Anistia é uma tradição no Brasil. Essas pessoas [do 8 de janeiro] não mataram ninguém, o que fizeram foi dano material. E eu coloco ali no artigo 2º [do projeto] que estou tirando fora [da anistia] aqueles que realmente se envolveram nos atos de vandalismo e depredação.

Pedidos de intervenção militar no 8 de janeiro

Você pode pedir tudo na vida. Pedir é a liberdade de expressão. Agora, se você pegar um fuzil, granada e sair para a rua, aí é outra coisa. Mas ninguém ali estava armado de fuzil nem de granada, nem de nada.

A conta chegou para as Forças Armadas?

Existe no segmento mais esclarecido da sociedade, ou pseudo-esclarecido, um certo preconceito em relação às Forças Armadas. A minha preocupação sempre foi essa associação: que a oposição que sempre houve em relação ao presidente [Jair Bolsonaro] jogasse essa conta no colo das Forças. Em parte, a preocupação se efetivou. A própria questão da desconfiança do presidente em relação aos comandantes. Não era para ter desconfiança.

Relação das Forças Armadas e governo Lula

Eu acho que ela vem sendo distensionada. Qualquer governo no Brasil vai compreender que as Forças Armadas constituem uma reserva estratégica para um sem número de projetos ou como solução para diversos problemas. Desde socorro a calamidades, segurança de eventos e chegando até as raias da questão da segurança pública, que está sendo colocada agora.

GLO no Rio

Não vai resolver [o problema]. Eu acho que essa [GLO em portos, aeroportos e fronteiras] foi um planejamento meio de afogadilho. Ah, vou botar a Força Aérea no aeroporto do Galeão, no Santos Dumont, lá em São Paulo; vou botar a Marinha no porto de Santos, no porto do Rio de Janeiro. Sim, e aí? Só vai intensificar um patrulhamento ali durante um período limitado? Nesse período, a turma do narcotráfico vai tomar outras medidas de proteção, sabendo que no mês de maio [a GLO] acaba. Volta tudo como dantes no quartel de Abrantes.

'Governo envergonhado'

Eu vejo o governo envergonhado. Está envergonhado de empregar as Forças Armadas por causa do discurso político dele. Vai chegar o momento que ele vai ter que entender que aquela reserva [Forças Armadas] está ali é para ser usada. Se tem 220 mil homens e mulheres do Exército, 50 mil da Marinha e da Força Aérea, que ele paga religiosamente todo mês, tem que empregá-los.

É uma questão ideológica, apesar de em governos anteriores do Lula e da Dilma a GLO ter sido usada. Basta acontecer qualquer greve de Polícia Militar em qualquer estado do país, quem eles vão acionar? As Forças Armadas.

PEC contra militares na política

Os militares não estão na política. Eu peguei o levantamento do número de candidatos que nós tivemos na eleição do ano passado, [de militares] da ativa. Foram 16 oficiais e 20 sargentos num efetivo de 220 mil. Os militares estão na política com esse número baixíssimo? Na minha visão essa PEC atira em algo que não é para atirar.

Militares no governo Bolsonaro

Os ministros que estavam lá que eram oriundos do meio militar você conta na mão. O PT bota sindicalista de ministro. Então vamos dizer que é um governo de sindicalistas?

Tentativa de Bolsonaro de reverter eleição

Eu não participei de reunião nenhuma, então não posso dizer se o presidente [Bolsonaro] falou isso ou aquilo. Em relação à famosa história da minuta do golpe… Golpe não tem minuta. O camarada pega, dá o golpe e depois a gente vê como é que vai resolver a questão jurídica. Isso não existe. Acho que em nenhum momento passou pela cabeça do presidente [Bolsonaro] essa ideia.

Fica muita especulação. Talvez pela conduta do presidente, que ficou deprimido por ter perdido a eleição, preocupado com a questão dos processos que ele poderia passar a sofrer a partir dali. Acho que esse foi o clima que se viveu naquele período entre final de outubro e dezembro.

Bolsonaro e Walter Braga Netto inelegíveis

Não vejo [como livramento não ter sido vice de novo], até porque se eu fosse o vice, nós tínhamos ganho a eleição [risos]. Vejo com tristeza essa situação, não acho que está correto essa forma como tanto o presidente Bolsonaro como o Braga Netto vêm sendo perseguidos pela questão do 7 de Setembro. É uma forçação de barra isso aí.

Republicanos no ministério do PT

Eu entendi a escolha do deputado Silvio [Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos] como escolha pessoal do presidente [Lula]. O partido obviamente concordou, mas não vejo que o partido tenha abraçado de forma completa o governo. Se tivesse abraçado de forma completa, eu não poderia continuar [no Republicanos]. Por ter sido vice-presidente do Bolsonaro não dá para me colocar nessa posição. Apesar de a minha oposição não ser aquela de ser contra tudo e contra todos. Coisas boas, independente de virem do governo ou não, sempre terão meu apoio. Enquanto estivermos nesse posicionamento, eu estou dentro do partido.

José Múcio na Defesa

O [ministro] Múcio eu considero um cara extraordinário. É um camarada conciliador, sabe ouvir bastante, tem posições muito claras. Acho que foi uma excelente escolha do presidente Lula e está fazendo um excelente trabalho como ministro da Defesa.

Flávio Dino

Ele fala muito. Inclusive agora ele diminuiu a exposição. Acho que entendeu que estava atravessando uma linha que não era a mais segura para ele.

Indicação ao STF

A prerrogativa do presidente da República é indicar alguém que seja de conduta ilibada e notório saber jurídico. Vamos aguardar se o Dino vai ser indicado. Não sei [se ele pode ser aprovado]. É nosso colega, é senador igual a gente. Eu não voto porque eu considero que o presidente não deveria indicá-lo. Deveria indicar qualquer outra pessoa, menos ele. Me dou muito bem com ele, mas não voto. Eu fui durante quatro anos membro do Alto Comando do Exército, onde a gente vota para promover os oficiais a general. Votei em gente que eu jamais sentaria para tomar um chope; e deixei de votar em gente que eu tomaria chope e bateria papo a noite inteira. O Dino eu posso convidar para tomar um chope, mas não voto nele [para o Supremo].

Investigação da PF sobre intervenção no Rio em 2018

É mais estardalhaço do que qualquer outra coisa. Aquele famoso assassinato de reputação. A Polícia Federal tem se notabilizado por isso. Já tivemos aquele caso do reitor [Luiz Carlos Cancellier] da Universidade de Santa Catarina que se suicidou. Essas operações espetaculosas, quando você vai olhar: ‘comprou-se os coletes?’ Não. Foi cancelada a licitação exatamente porque a empresa não apresentou a documentação necessária. Então morre o assunto.

Armas furtadas de quartel

É um caso grave. Era um material inservível, mas poderia que o tráfico conseguisse comprar alguma peça fora do país para poder recuperar aquele armamento. Fora que era responsabilidade da unidade ter aquilo sob controle. Então foi péssimo isso aí. Péssimo.

As unidades militares estão sujeitas a essa ação do crime organizado. Quem são os soldados que nós temos? É a garotada que vem da periferia. Quem serve ao Exército é a turma preta, pobre, analfabeta, como diria meu amigo Fabiano Contarato [líder do PT no Senado]. Essa é a turma que serve ao Exército, na sua grande maioria, e que sofre a ingerência do tráfico para ações dessa natureza. Esse é um dos problemas que a gente enfrenta. ‘Eu vou matar tua irmã, eu vou matar teu pai se tu não me trouxer um fuzil.’ Lamentavelmente isso ocorre.

Eu nunca tinha visto algo [furto de armas] dessa magnitude. O último roubo dessa natureza, grande assim, foi quando [Carlos] Lamarca [guerrilheiro contra a ditadura militar], em 1969, roubou os fuzis.


RAIO-X | HAMILTON MOURÃO, 70

É senador pelo Rio Grande do Sul e foi vice-presidente da República no governo Bolsonaro (2019 a 2022). General da reserva, em sua carreira militar atuou como adido na Venezuela e foi comandante militar do Sul. Em 2018, filiou-se ao PRTB e ingressou na política.

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