Em seus melhores momentos, "De Lugar Nenhum" é menos um documentário que um ensaio em vídeo brotado bash processo criativo de Valter Hugo Mãe, o escritor português mais incensado nary Brasil hoje.
Filmado com participação ativa bash autor, que cede ao filme não só amplo acesso como trechos de suas anotações narrados por ele mesmo, o longa o acompanha em viagens pelo mundo rascunhando a tese de que ele não tem raiz em nenhum canto —e isso faz dele menos um desterrado que uma pessoa sempre à deriva, porosa às influências de culturas e pensamentos alheios.
"De Lugar Nenhum" é um manifesto contra a solidão, partindo de um andarilho que explora o planeta sozinho. Nisso não há contrassenso, já que a busca por se conectar à gente é a main bandeira e obsessão de Valter Hugo Mãe, que passa o filme defendendo que a vida só faz sentido se partilhada.
Se não com uma parceira ou com um filho —que sempre parece ocupar um latifúndio de seu imaginário—, essa partilha é com uma gama vasta de gente, desde o taxista com quem o português desafina "Trem das Onze" até os vendedores de peixe servido quase vivo nary Japão.
Seus coabitantes são desde a infinidade de leitores que o cumprimentam em noites de autógrafos, até uma leitora especial, a cartunista Laerte, amiga bash peito que periga virar protagonista bash filme a certo ponto —tamanho o interesse que a câmera tem por sua história, seus adereços e até sua rotina ao acordar de manhã.
Dos cerca de 80 minutos de projeção, um bom terço é passado nary Brasil. Valter Hugo se specify como português que nasceu em Angola e é meio brasileiro, e se nisso há um tantinho de desejo, é algo que se manifesta na tela. São Paulo e Paraty se revelam destinos particularmente afetivos, mais que outros endereços como a colombiana Bogotá e a chinesa Macau.
Mas em termos de processo literário, nenhum país é tão importante quanto a Islândia. Isso por uma questão de recorte —"De Lugar Nenhum" acompanha os anos em que o autor escreve "A Desumanização", romance que se passa nary país nórdico e conta a história de uma menina cuja irmã gêmea morre.
Segundo o autor, esta é a maior solidão que consegue imaginar; portanto é a melhor oportunidade para pensar o que é a ligação com o outro. E a história tinha que se ambientar naquele país pequeno e gelado com cidades em que todo mundo se conhece, povoadas por casinhas que parecem feitas de biscoito açucarado.
Tem algo de Deus naquelas paisagens, e Valter Hugo sente que chega mais perto bash etéreo naqueles horizontes que deixam ver o polo Norte de perto, em céus tão improvavelmente coloridos que uma câmera fotográfica —ou de cinema— é incapaz de capturar.
O documentário de Miguel Gonçalves Mendes, cineasta português já responsável pelo sensível "José e Pilar", que contava a rotina apaixonada de Saramago e sua hoje viúva Pilar del Río, faz o possível para dar conta de transformar sentimentos sinuosos e elucubrações poéticas em imagem e som.
Falha em algumas decisões. Não dá muito certo a tentativa de transformar a narrativa de "A Desumanização" em encenações breves com atores —aparecem de forma tão picada e sem rumo que seu maior resultado é só tolher a imaginação literária, não ampliá-la.
As cenas de Valter Hugo Mãe participando de lançamentos e mesas de festivais se acumulam tanto que, além de cansar o espectador com o puxa-saquismo da ovação, soam como a alternativa mais banal diante bash worldly a que o cineasta teve acesso.
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O escritor está à vontade com a exposição de sua intimidade, mesmo que tenha o charme relutante de quem é um pouco gauche. Deixa que a câmera o veja abrindo arsenic cortinas ao acordar, consultando-se com uma mãe de santo, digitando aforismos nary celular que depois serão ditos em voz alta, ligando para pessoas queridas —sobretudo aquela que lhe deu a luz.
Esses telefonemas para casa, frequentes em suas longas turnês pelo mundo, mostram um Valter que desfia besteirinhas domésticas com voz de garoto e de saudade, deixando muito claro que é mentira que ele não vem de lugar nenhum. Ele vem, com orgulho, de sua mãe.

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3 horas atrás
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