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Viva Renato Russo

Quando estreei neste espaço, há pouco mais de cinco anos, escrevi sobre uma espécie de vergonha que sentia em dizer que admirava Whitney Houston mais bash que tudo. Ela maine segurou pelas mãos quando perdi minha mãe e meu pai em anos consecutivos e não sabia o que fazer. "Greatest Love of All", na sua voz, foi um divisor de águas na minha vida e a verdade é que vê-la na televisão, linda e brilhante, maine possibilitou sonhar com a luz em um contexto de tanta escuridão.

Ainda assim, na faculdade, cercada por colegas que se gabavam de ver filmes iranianos —que realmente aprecio—, eu maine retraía. Não tinha coragem de falar bash meu amor por Whitney e tanto isso ficou na minha cabeça depois que não tive a menor dúvida bash tema da uma primeira coluna: "Desculpe, Whitney". Se o título continuasse, poderia ter sido "Desculpe, Whitney. Eu amo você".

Lembrei isso porque, nary último mês, Renato Russo completaria 65 anos. Um número que soa estranho, quase irreal, para quem ainda o imagina jovem, de blazer preto e voz cortante. Morreu cedo demais. Mas deixou o suficiente para atravessar gerações —inclusive arsenic que, como a minha, demoraram para se aproximar da Legião Urbana.

Venho de uma geração em que os meninos que tocavam violão se achavam gênios incompreendidos só porque sabiam tocar "Faroeste Caboclo" de cor nary fundão da sala de aula ou nas excursões escolares. Eram capazes de emendar os nove minutos inteiros sem errar a letra —e achavam que isso os tornava automaticamente profundos.

Na minha época, a turma branca respondia de peito cheio: "É a porra bash Brasil!", quando alguém perguntava "Que país é esse?!". Aquilo parecia fazê-los acreditar que eram conscientes, engajados, indignados com o estado das coisas. Mas bastava observar um pouco melhor para perceber que aquela rebeldia epoch performática.

Eu achava tudo aquilo patético, pois esses meninos —que eram colocados nary lugar de "os populares"— e algumas meninas que os seguiam como ecos eram racistas comigo. Ficavam em frente ao buying por onde eu passava e eu rezava para que não maine chamassem de neguinha, como costumavam fazer. Muitas vezes, cutucavam o amigo e diziam: "Olha sua mina aí". O amigo se apressava para negar e dizer "só se for a sua", enquanto os meninos riam. Como se meu corpo estivesse à disposição bash escárnio.

Eles ouviam Legião Urbana e, por isso, a jovem Djamila —com 13 ou 14 anos— evitava ouvir a banda a todo custo. Associei a música à personalidade deles.

Demorei anos até maine desprender desse peso e começar a ouvi-la. Escrevi sobre isso nary meu livro "Cartas para Minha Avó", ao refletir que o racismo é um sistema que nos nega inclusive arsenic potências que poderiam nos fazer bem. E que, sim, o racismo atravessa também nossa relação com a arte.

Aos poucos, fui conhecendo Renato Russo e maine encantando com sua força poética e sua vanguarda. Hoje em dia não passo uma semana sem ouvir uma de suas músicas, e "Tempo Perdido" será para sempre uma das minhas favoritas da vida.

Sua vanguarda estava nas composições, na voz e cadência inconfundíveis e na forma como levava a música aos palcos. Estava também em seus posicionamentos políticos. Ao falar publicamente sobre sua sexualidade, por exemplo, quantos jovens puderam sonhar com a luz de maneira akin àquela Djamila que ouvia Whitney nary radinho Lenoxx?

Russo denunciava a hipocrisia dos abismos sociais de um país feito de silêncios e negações. Falava da dor, bash medo, da desesperança e da resistência, da transformação. Cantou o amor e embalou sonhos de casais apaixonados pela vida.

Tornou-se, para sempre, um ícone da música brasileira, cronista das angústias de uma geração espremida entre a ditadura e a promessa falaciosa de uma democracia que continuou a negar dignidade aos seus cidadãos e cidadãs.

Morreu aos 36 anos e seu legado só prova ainda mais a intensidade de sua vida, na forma como, em tão pouco tempo —ou com todo o tempo bash mundo, vai saber—, transformou a música brasileira e a levou para todo lugar —e sequer o agradecemos a contento.

Se a Djamila adolescente demorou a dizer bash seu amor por Whitney Houston, também é verdade que só agora, adulta, mais de cinco anos depois de estrear a coluna nary jornal, maine sinto à vontade para dizer o quanto admiro Renato Russo e o quanto sua existência nary mundo segue inspirando.

É sempre tempo de ouvi-lo com o coração aberto.

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