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17 anos de bitcoin: da rebeldia cripto à adoção institucional

No início, a ideia foi recebida com desdém — especialmente pelo mercado financeiro. Os únicos que se interessaram foram os geeks e os cypherpunks, grupo de ativistas que defendia o uso da criptografia para garantir a privacidade nas trocas digitais.

Com o tempo, o bitcoin também atraiu quem via na novidade uma chance de lucro rápido — os golpistas. No Brasil e no mundo, surgiram esquemas que prometiam ganhos altos com supostos investimentos em bitcoin, mas que não passavam de pirâmides financeiras.

Da pizza ao halving

Mas, entre altos e baixos, o bitcoin foi se firmando. Em alguns momentos, chegou a ser usado como meio de pagamento, mas acabou assumindo um papel mais claro como investimento. Diversos episódios ajudaram a consolidar sua história, segundo especialistas.

Um dos mais simbólicos é o Bitcoin Pizza Day: em 22 de maio de 2010, duas pizzas foram compradas por 10.000 BTC — a primeira transação física registrada com a criptomoeda. Hoje, o valor equivaleria a cerca de R$ 6,1 bilhões, o que faz dessas as pizzas mais caras da história.

Outro marco importante foram os halvings, atualizações automáticas que reduzem pela metade a emissão de novos bitcoins, reforçando sua escassez. Eles ocorreram em 2012, 2016, 2020 e 2024, sempre sem falhas técnicas, e historicamente ajudaram a impulsionar o preço do ativo.

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"Cada um marcou uma fase distinta na evolução do ativo", disse Bruna Cabús, associada-sênior na 21Shares para a Península Ibérica e América Latina.

Entrada dos investidores de varejo

Com o passar do tempo, os investidores de varejo começaram a conhecer melhor as criptomoedas. Isso se deu, em parte, pelo surgimento das exchanges (corretoras cripto), que criaram um ambiente para negociar esses ativos digitais e desenvolver produtos ligados a eles

"Em 2017, quando o bitcoin rompeu a barreira dos US$ 20.000 pela primeira vez, ele atravessou a bolha cripto e entrou de vez no radar do mercado financeiro global", disse Sebastián Serrano, diretor presidente e cofundador da Ripio.

No Brasil, 16% da população já investe ou investiu em criptomoedas, o equivalente a cerca de 25 milhões de pessoas. O dado vem da primeira Pesquisa Nacional das Criptomoedas, realizada pelo Datafolha em parceria com a Paradigma Education e divulgada em março deste ano.

Os investidores institucionais

Apesar da popularização entre pessoas físicas, faltava a entrada dos grandes investidores, os institucionais. Muitos estavam impedidos por regras de investimento. A mudança começou em 2021, com o surgimento dos primeiros ETFs (fundos negociados em Bolsa) de criptomoedas — e o Brasil foi um dos pioneiros.

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A virada completa, no entanto, veio em janeiro de 2024, quando a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) liberou os primeiros fundos à vista de bitcoin do país. Foi uma festa que só, e o movimento atraiu um volume expressivo de capital institucional para o mercado.

Atualmente, os 12 ETFs de bitcoin à vista listados nos Estados Unidos acumulam US$ 149,96 bilhões em bitcoins, o equivalente a 6,78% do total em circulação da criptomoeda, segundo dados da plataforma SoSoValue.

"Estamos vivenciando a adoção institucional, lançamento cada vez mais difundido de ETFs, instituições financeiras tradicionais e governos abraçando o bitcoin e a criptoeconomia", disse Luiz Eduardo Abreu Hadad, consultor e pesquisador de blockchain da Sherlock Communications.

Governo e empresas olham para cripto

E falando em governo… Nos primeiros anos da maior cripto do mercado, os países trataram o bitcoin com desconfiança. A China, por exemplo, proibiu a mineração (processo que garante a segurança da rede e emite novas moedas) e restringiu a custódia de criptoativos. Aos poucos, porém, a postura mudou.

Hoje, mais de uma dezena de países têm reservas em bitcoin, totalizando 644.325 unidades. El Salvador chegou a adotá-lo (apenas por um tempo) como moeda de curso legal, enquanto os Estados Unidos mantêm criptomoedas apreendidas em operações como parte de suas reservas estratégicas.

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Empresas de capital aberto também começaram a seguir o mesmo caminho. Cerca de 200 companhias em todo o mundo já mantêm parte do caixa em bitcoin, segundo o site Bitcoin Treasuries, inclusive duas brasileiras: a Méliuz (CASH3), com 605 unidades de BTC, e a OranjeBTC (OBTC3), com 3.701 bitcoins.

A percepção das criptomoedas como algo de nicho ou totalmente novo está gradualmente desaparecendo, especialmente porque hoje em dia se tornou muito mais fácil comprar bitcoin e outros ativos digitais.

Bruna Cabús, associada-sênior da 21Shares

O que esperar do futuro?

Depois do bitcoin, surgiram milhares de outras criptomoedas e projetos no setor, com propostas que vão de empréstimos descentralizados a stablecoins e moedas digitais emitidas por governos (CBDCs). Mesmo assim, segundo especialistas, o bitcoin ainda mantém um papel central e deve sustentar esse papel no futuro.

Mesmo com o avanço das stablecoins, do DeFi (finanças descentralizadas) e até de moedas digitais emitidas por governos (CBDCs), o bitcoin se diferencia por sua escassez programada, neutralidade política e resistência à censura.

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Sebastián Serrano, diretor presidente da Ripio

Hadad, da Sherlock Communications, acredita que o bitcoin seguirá como reserva de valor global e ativo de referência no mercado de criptoativos. "Acredito que cada vez m/ais empresas e governos vão enxergar isso e passar a investir em bitcoin e ter criptoativos em seus balanços, como ativos estratégicos".

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