
Crédito, BBC, Getty Images
- Author, Navin Singh Khadka, Antonio Cubero e Equipe de Jornalismo Visual da BBC
- Role, BBC World Service
Há 21 minutos
A conferência climática da ONU deste ano (COP30) está acontecendo em Belém, no Pará, cidade frequentemente chamada de "a porta de entrada da Amazônia", a maior floresta tropical do mundo.
É um local simbólico, 10 anos após a COP de Paris, que alcançou um acordo histórico destinado a reduzir a níveis seguros as emissões de gases que aquecem o planeta.
Esses esforços ainda não deram resultado, já que as emissões continuam a aumentar, e a Amazônia, que absorve vastas quantidades de gás carbônico (CO2) da atmosfera, será fundamental para as medidas que finalmente permitirão reverter essa situação.
No Estado do Pará, os níveis de destruição da floresta tropical estão entre os mais altos de toda a Amazônia.
Enquanto os líderes mundiais discutem os rumos climáticos do planeta, a BBC analisa detalhadamente o atual Estado da Amazônia e as ameaças que ela enfrenta.

O governo do Brasil, onde está localizada 60% da Amazônia, afirma que tentará garantir um acordo que ofereça forte proteção às florestas tropicais úmidas – florestas, geralmente localizadas perto do Equador, que possuem árvores altas, em sua maioria perenes, e vegetação exuberante sustentada por altos índices pluviométricos e umidade.
Mas a Amazônia também contém planícies aluviais, pântanos e savanas.
Abrangendo mais de 6,7 milhões de km² da América do Sul, ela tem mais que o dobro do tamanho da Índia e é um dos pontos de biodiversidade mais ricos do planeta.
Contém:
- pelo menos 40 mil espécies de plantas;
- 427 espécies de mamíferos, incluindo tamanduás e lontras-gigantes;
- 1,3 mil espécies de aves, incluindo a harpia e o tucano;
- 378 espécies de répteis, da iguana-verde ao jacaré-açu;
- mais de 400 espécies de anfíbios, incluindo o sapo-flecha e o sapo-de-flancos-lisos;
- e cerca de 3 mil espécies de peixes de água doce, incluindo a piranha e o enorme pirarucu, que pode pesar até 200 kg.
Muitas dessas espécies não são encontradas em nenhum outro lugar.

Além disso, centenas de comunidades indígenas vivem na região.

O rio Amazonas é o maior do mundo e, com seus mais de 1,1 mil afluentes, constitui de longe a maior reserva de água doce do planeta.
Essa água deságua no Oceano Atlântico e desempenha um papel importante na manutenção das correntes oceânicas que podem influenciar os sistemas climáticos regionais e globais.
E suas florestas são um importante sumidouro de carbono — nome dado aos sistemas naturais ou artificiais que absorvem mais carbono do que emitem, como florestas, oceanos e solos —, apesar de algumas áreas degradadas emitirem mais CO2 do que armazenam.
A destruição de grandes extensões de floresta também a tornou uma grande fornecedora de madeira.
O que está acontecendo agora?
Organizações de conservação ambiental afirmam que até 20% da floresta amazônica foi perdida e uma área semelhante foi degradada devido a atividades humanas, incluindo agricultura, pecuária, exploração madeireira e mineração – e também agora devido à seca induzida pelas mudanças climáticas e ao aumento das temperaturas.
O último pico de desmatamento ocorreu em 2022, quando quase 20 mil km² de floresta foram desmatados, um aumento de 21% em relação a 2021 e o pior ano desde 2004, de acordo com o Programa de Monitoramento dos Andes e da Amazônia (MAAP) da Amazon Conservation.
Mas logo se descobriu que partes da Amazônia sofreram danos graves dos quais podem não se recuperar.
Isso não é apenas produto de anos de desmatamento, mas também da crise climática, que está surgindo como uma nova ameaça ao ecossistema amazônico.

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Um aumento significativo na temperatura e episódios prolongados de seca impactaram seu funcionamento básico, tornando a floresta, geralmente úmida, mais seca e mais suscetível a incêndios florestais.
"Estamos vendo um aumento na incidência de secas e incêndios, o que levou a uma maior degradação em diversas partes da Amazônia", afirma Paulo Brando, professor especialista em captura de carbono em ecossistemas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
"Essa degradação em diferentes áreas está se tornando uma grande ameaça para a Amazônia."
'Rios voadores' interrompidos
Eis como surge o problema. A gigantesca região amazônica possui sistemas climáticos internos: suas florestas fazem circular a umidade do Oceano Atlântico, criando o que é conhecido como "rios voadores" no céu.
Esses rios atmosféricos primeiro despejam chuva na parte leste da Amazônia, perto do Atlântico. A água então sobe novamente para o ar, do solo e da vegetação (através de um processo de evapotranspiração), e se move mais para oeste antes de cair em outra área da floresta tropical.
Essa circulação de água de uma área da floresta tropical para outra acontece por toda a Amazônia e explica em parte como a vasta floresta tropical prosperou.

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Mas essa circulação de umidade, alertam os especialistas, foi interrompida.
Áreas da Amazônia que foram desmatadas e degradadas não conseguem circular adequadamente a umidade do oceano e, como resultado, muito menos umidade retorna à atmosfera por meio da evapotranspiração.
A região mais afetada é a Amazônia Ocidental, a mais distante do Atlântico, diz ele, particularmente o sul do Peru e o norte da Bolívia.
"A sobrevivência das florestas tropicais no Peru e na Bolívia depende, na verdade, de florestas intactas no Brasil, a leste, já que, se essas florestas forem destruídas, o ciclo da água que cria os rios voadores é interrompido e não consegue chegar à Amazônia Ocidental. Está tudo interligado."
Esse problema é particularmente grave na estação seca, de junho a novembro.

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'Ponto de não retorno'?
A floresta tropical úmida e chuvosa era, no passado, altamente resistente a incêndios florestais, mas em áreas que sofreram com a falta de chuvas, essa resistência está diminuindo.
Alguns cientistas temem que o ecossistema da floresta tropical, que está secando, esteja atingindo um ponto de inflexão ou "de não retorno", do qual não conseguirá se recuperar e se perderá para sempre.
"Esses são os primeiros sinais de ponto de inflexão que estamos vendo em algumas partes da Amazônia", diz Finer.
Erika Berenguer, pesquisadora sênior do laboratório de ecossistemas da Universidade de Oxford, concorda que o risco está aumentando, mas, assim como Finer, afirma que algumas áreas são mais afetadas do que outras.
"É um processo muito lento que está acontecendo em certas partes", diz ela.

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Águas turbulentas
Menos circulação de água nos céus da Amazônia significa não apenas uma floresta menos saudável, mas também um enorme impacto na Amazônia e em seus muitos afluentes, dizem os especialistas.
As condições de seca em 2023 e no primeiro semestre de 2024 foram desencadeadas em parte pelo El Niño — um sistema meteorológico natural em que as temperaturas da superfície do mar aumentam no Oceano Pacífico oriental, afetando os padrões globais de chuva, particularmente na América do Sul.

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Impacto da mineração
Como se o desmatamento e a crise climática não fossem suficientemente prejudiciais, a mineração ilegal – particularmente o garimpo de ouro – também causou danos incalculáveis ao ecossistema da floresta tropical.
"E agora a mineração de minerais de terras raras também começou na região", diz Berenguer.
Esses minerais são usados em veículos elétricos, turbinas eólicas, telefones celulares e satélites e, portanto, são essenciais para a economia moderna.
Embora a mineração não cause muito desmatamento, ela polui rios, solo e vegetação com produtos químicos como o mercúrio, que podem envenenar animais e seres humanos.
"A rede criminosa está se expandindo pela Amazônia, tornando muito difícil para as autoridades controlarem a situação no território", diz Matt Finer.

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O fato de a Amazônia se estender por oito países, cada um com seu próprio sistema jurídico e regime de aplicação da lei, aumenta o desafio de lidar com o crime transfronteiriço.
Outro possível motivo de alarme é a descoberta de que grandes quantidades de hidrocarbonetos estão enterradas sob a Amazônia.
De acordo com a InfoAmazonia, reservas equivalentes a aproximadamente 5,3 bilhões de barris de petróleo foram descobertas entre 2022 e 2024.
A organização afirma que a região detém quase um quinto das reservas mundiais descobertas recentemente, tornando-se uma nova fronteira para a indústria de combustíveis fósseis.
Mesmo antes da descoberta de muitas dessas reservas e das pesquisas mais recentes sobre rios voadores, o Painel Científico para a Amazônia mostrou que mais de 10 mil espécies de plantas e animais corriam alto risco de extinção devido à destruição da floresta tropical.
Importância além da região

A Amazônia continua sendo um poderoso sumidouro de carbono, capaz de absorver grandes quantidades do principal gás que aquece o planeta, o CO2.
Em 2022, estimava-se que ela continha 71,5 bilhões de toneladas métricas de carbono, acima e abaixo do solo, de acordo com o relatório do Programa de Monitoramento dos Andes e da Amazônia (MAAP), divulgado em 2024.
Isso equivale a quase dois anos de emissões globais de CO2 nos níveis de 2022.
Mas o desmatamento, no qual a vegetação é cortada e queimada, e o impacto das mudanças climáticas na floresta tropical ameaçam transformar mais áreas da região em emissoras líquidas, dizem os cientistas.
Perder a Amazônia será equivalente a perder a luta contra a crise climática, acrescentam eles.

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As florestas tropicais também produzem uma cobertura de nuvens que reflete a luz solar de volta para o espaço e tem um efeito de resfriamento no planeta.
Enquanto isso continuar acontecendo, irá desacelerar o aquecimento da Terra.
"Assim como a floresta tropical, como a Amazônia, tem a capacidade de armazenar carbono e limitar o aquecimento, ela também tem a capacidade de resfriar o planeta", diz Tasso Azevedo, um cientista florestal brasileiro, fundador e coordenador do MapBiomas.
"É por isso que chamamos a Amazônia de um gigantesco ar-condicionado para este mundo em aquecimento."
E, como observado acima, a maior bacia de água doce do mundo tem uma influência significativa sobre o clima global.
Os cientistas dizem que o enorme despejo de água doce no Atlântico ajuda a determinar as correntes oceânicas e que alterações nesse despejo afetariam tanto as correntes quanto os padrões climáticos regionais e globais que elas ajudam a moldar.

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