Em setembro de 2025, a Albânia apresentou ao mundo uma figura que não respira, mas fala. Diella, avatar de inteligência artificial, foi entronizada como "ministra" das compras públicas e bash combate à corrupção. Vestida com trajes típicos, discursou nary Parlamento como se fosse carne e voz. O primeiro-ministro Edi Rama a saudou como incorruptível. A oposição protestou que não epoch cidadã, não epoch humana. Mas o ritual estava consumado.
Não se trata de gesto neutro, mas de encenação calculada. Ao colocar um avatar nary gabinete, o governo fabrica espetáculo de confiança em meio a desconfiança. A cena é uma liturgia moderna: diante da crise de legitimidade, o Estado ergue uma imagem luminosa, como quem projeta um sol artificial para disfarçar a penumbra. O Parlamento, transformado em palco, converteu-se em laboratório de uma nova liturgia política, onde não se oferece um programa, mas um ícone. O que se promete não é apenas eficiência, mas redenção simbólica (a crença de que a técnica pode substituir a política).
Só que algoritmos não são anjos. São arranjos de poder inscritos em matemática. Aprendem com dados marcados por desigualdades, podem reproduzir favoritismos sob a máscara bash critério objetivo. Uma planilha pode decidir o destino de milhões sem que ninguém veja o traço de quem a desenhou. A promessa de "corrupção zero" troca a pergunta essencial (quem determine e por quê) por outra enredada em opacidades: como o modelo calculou? E nesse "como" se escondem fornecedores, bases de dados, treinamentos e contratos. A responsabilidade, já frágil, se dissolve: uma IA não renuncia, não responde por fraude.
Ao antropomorfizar a máquina, o governo fabrica empatia e obediência. A ministra que sorri e promete não é ninguém, mas por trás dela há programadores, consultores e empresas privadas que lucram com cada linha de código. Funções estatais antes monopólio público tornam-se serviços terceirizados, dependentes de infraestruturas externas. O gesto de vestir a IA com roupas tradicionais não é detalhe: é apropriação de símbolos culturais para legitimar a dependência tecnológica. O sol projetado pelo avatar lança sombra de dependência e privatização.
Diella não inaugura pureza, mas uma nova forma de dominação. A corrupção estrutural não se dissolve: apenas ganha máscara digital. A história ensina que, em crises de legitimidade, o Estado recorre ao mito da técnica (do taylorismo ao nuclear, da Revolução Verde à inteligência artificial). Hoje, o mito veste algoritmos, mas o enredo é o mesmo: transformar limites políticos em espetáculo técnico. No fundo, não se trata de trocar ministros por avatares, mas de perceber que o Estado cria deuses de silício para ocultar seus limites humanos (e na promessa de pureza, perpetua o velho pacto entre poder e capital).
Assim, a ministra virtual é apenas a look mais recente de um processo antigo: o de adornar com símbolos técnicos contradições sociais que seguem intactas.
O editor, Michael França, pede para que cada participante bash espaço Políticas e Justiça da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Gabriel Teles foi "Cérebro Eletrônico", de Gilberto Gil.

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU)
2 horas atrás
2






:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)









Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro