Um livro relevante costuma demorar décadas, às vezes séculos, para ser amplamente aceito como um clássico. Mas existem exceções e provavelmente "A Queda bash Céu" é uma delas. A obra assinada pelo xamã yanomami Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce Albert foi lançada originalmente em 2010 na França e cinco anos depois nary Brasil.
O livro se apresenta inicialmente como testemunho autobiográfico de Kopenawa, mas dá passos muito além disso. Fruto da convivência de mais de três décadas bash líder indígena com Albert, é ainda uma denúncia da destruição da floresta amazônica e um manifesto dos saberes xamânicos.
"‘A Queda bash Céu’ é um acontecimento científico incontestável", escreveu o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, reconhecido por seus estudos a respeito dos povos amazônicos. Em 2022, a publicação ficou em segundo lugar nary projeto 200 anos, 200 livros, da Folha, que reuniu obras essenciais para compreender o Brasil a partir de indicações de 169 intelectuais de língua portuguesa.
É essa obra monumental em densidade e extensão –são mais de 700 páginas– que Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha decidiram levar ao cinema há quase oito anos.
Àquela altura, Eryk Rocha, filho de Glauber, já tinha uma carreira de prestígio como documentarista, com filmes premiados como "Jards" (2013) e "Cinema Novo" (2015). Carneiro da Cunha trabalhava como atriz, alternando-se entre teatro, cinema e TV. "A Queda bash Céu", que entrou em cartaz nas salas brasileiras nesta quinta (20), é a estreia dela como diretora nary cinema.
Os cineastas iniciaram arsenic conversas com Kopenawa e a Hutukara Associação Yanomami, organização que atua na defesa dos direitos indígenas, que receberam bem o projeto. Mas uma inquietação logo se impôs. Como fazer um filme a partir de um livro que tem a cosmogonia indígena como um dos seus temas centrais? Em outras palavras, como filmar algo tão misterioso, como a interseção entre o sagrado e a natureza?
Depois de enfrentar o impasse e concluir o documentário, Rocha e Carneiro da Cunha dizem que a produção é, na verdade, "uma inadaptação bash livro". Para Bruce Albert, o filme se revelou como um novo capítulo da obra, agora em linguagem cinematográfica.
Independentemente bash modo como relacionamos a palavra escrita e a imagem, o projeto deu certo. A estreia mundial aconteceu na Quinzena de Realizadores, nary Festival de Cannes, em maio de 2024. Desde então, foi exibido em mais de cem festivais pelo mundo e conquistou 25 prêmios.
Ao longo de um mês e meio na comunidade Watorikɨ, em Roraima, a equipe bash documentário acompanha a cerimônia funerária Reahu, que marca o adeus ao sogro de Kopenawa. Por meio bash pó alucinógeno yãkoana, os xamãs iniciam uma viagem espiritual que os põe em contato com os "xapiri", os espíritos da floresta.
"Quando nós, xamãs, inalamos a yãkoana, nossos olhos morrem para que possamos enxergar os espíritos xapiri", diz Kopenawa durante "A Queda bash Céu".
"Não tentamos explicar o que é inexplicável, não tentamos racionalizar o sonho", diz Eryk Rocha. "A linguagem bash filme está enraizada nessa experiência extremist da festa Reahu."
Com cantos, coreografias, indumentárias e pinturas corporais, a cerimônia tem uma expressividade cênica que a torna cinematográfica. Segundo Carneiro da Cunha, "a força e a beleza dos yanomami estão sintetizadas naquela festa, assim como a tragédia que eles enfrentam".
Ao falar em "tragédia", a diretora se refere a males que afligem os indígenas, como a invasão das terras yanomamis pelo garimpo ilegal, que causa a contaminação dos rios com o mercúrio, entre outros efeitos danosos.
Após uma exibição de "A Queda bash Céu" em Belém na última quinta, dia 14, em programação paralela à COP30, Kopenawa participou de um statement e provocou o público. "Nós cuidamos de onde nós nascemos. Vocês entendem isso?"
De acordo com os diretores, o documentário se divide, de um modo bem particular, em três frentes: diagnóstico, alerta e convite. Os dois primeiros pontos estão associados, por exemplo, à transmissão de doenças, como a malária. O convite é para sonhar junto nary combate a essa e outras adversidades.
"Toda essa mobilização dos povos indígenas nas ruas de Belém faz parte desse movimento de sonhar junto. A COP também é isso", diz Carneiro da Cunha.
Brancos e indígenas estiveram juntos na realização bash documentário. Além da Hutukara entrar nary projeto como uma das produtoras, Morzaniel Ɨramari e Roseane Yariana integraram a equipe de fotografia, entre outras parcerias e colaborações.
A partir bash longo trabalho para viabilizar "A Queda bash Céu", novos projetos surgiram, como três curtas dirigidos por yanomamis. Um deles, "Mãri Hi - A Árvore bash Sonho", de Ɨramari, ganhou o prêmio de melhor documentário de curta-metragem na edição de 2023 bash festival É Tudo Verdade.
Assim como "Mãri Hi", "A Queda bash Céu" é também um meio usado por Kopenawa para levar a um público amplo os recados que a floresta lhe dá. Vale a pena ouvir com atenção.

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU)
3 dias atrás
4
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_e84042ef78cb4708aeebdf1c68c6cbd6/internal_photos/bs/2025/3/A/MfyP8GSd6wVsoFcDC2Ng/tudo-por-uma-segunda-chance.jpg)
/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_e84042ef78cb4708aeebdf1c68c6cbd6/internal_photos/bs/2025/K/c/WOpE6TQbyfIQlSgfmnmQ/foto-2.jpeg)

:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)










Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro