A Vizinha Perfeita: 5 perguntas sobre o documentárui chocante da Netflix

Com cerca de 1h30 de duração, o documentário relembra a tragédia causada após uma série de conflitos entre vizinhos na Flórida. Susan Lorincz, uma mulher branca que vivia em um bairro majoritariamente negro, chamou a polícia diversas vezes, alegando que as crianças vizinhas invadiam sua propriedade e a ameaçavam — acusações sem provas. A produção aborda temas como racismo estrutural, posse de armas nos Estados Unidos e a controversa lei “stand your ground” (“defenda seu terreno”, em tradução livre), além de destacar o impacto do movimento Black Lives Matter no caso.

A Vizinha Perfeita se destaca por sua abordagem totalmente inovadora. O documentário é construído quase inteiramente a partir das imagens captadas pelas câmeras corporais dos policiais, oferecendo uma perspectiva crua e imediata dos acontecimentos. Em alguns trechos, também são exibidos os interrogatórios de Susan Lorincz e as ligações feitas à polícia — tanto por ela quanto pelos vizinhos.

Diferente do formato tradicional, a produção dispensa entrevistas posteriores e apresenta os fatos em tempo real, como eles realmente ocorreram. A diretora Geeta Gandbhir teve acesso a cerca de dois anos de material, cedido pelo advogado da família da vítima. Após um extenso trabalho de organização e montagem, ela e sua equipe transformaram esse conteúdo em uma narrativa cronológica, agora disponível na Netflix.

Ajike “AJ” Owens foi a vítima de Susan Lorincz. Após uma discussão entre um dos filhos de AJ e a vizinha, ela foi até a casa de Susan para conversar sobre o ocorrido. A conversa acabou se tornando uma briga acalorada, e Lorincz atirou em AJ, que tinha apenas 35 anos. A jovem chegou a ser socorrida, mas morreu no mesmo dia, em 2 de junho de 2023, na cidade de Ocala, Flórida. O documentário expõe momentos intensos, como os primeiros socorros prestados à AJ e a reação dos filhos ao receberem a notícia da morte da mãe.

Após as investigações, Susan Lorincz foi presa em 6 de junho de 2023. Ela foi acusada de homicídio culposo com uso de arma de fogo, negligência criminosa, agressão física e duas tentativas de agressão. Em 2024, após o julgamento, Lorincz foi considerada culpada pelo homicídio de Ajike Owens e condenada a 25 anos de prisão. Hoje, ela tem 61 anos e cumpre a pena no condado de Miami-Dade.

Há diversos fatores que explicam o sucesso de A Vizinha Perfeita. Segundo o IndieWire, “não vimos ainda um documentário como esse, que forma um retrato fiel e assustador de um assassinato”. O veículo destaca ainda que o filme é um forte candidato ao Oscar de Melhor Documentário em 2026. Até o momento, a produção já recebeu seis indicações ao Critics Choice Documentary Awards e mantém nota 7.1 no IMDb, consolidando seu reconhecimento entre público e crítica.

A diretora Geeta Gandbhir também comentou sobre o diferencial da narrativa: “Infelizmente, crimes como esses acontecem toda semana. Porém, estamos acostumados a ver o que acontece depois. Nunca foi visto como a comunidade era antes do crime, em tanto detalhe. Além disso, a câmera corporal policial é muito usada para incriminar pessoas de cor. Quis subverter essa ordem, utilizando as imagens para contar a história dessa mulher, vítima de racismo e da violência armada”, afirmou em entrevista ao IndieWire.

Pamela Dias, mãe de AJ Owens, também relatou à Netflix o impacto da produção: “É devastadoramente doloroso de assistir, mas Geeta fez mágica ao montar o storytelling. Ela conseguiu abordar cada camada dessa complexa história. É uma obra de arte”. O documentário é dedicado à memória de AJ e seus quatro filhos, Isaac, Israel, Afrika e Titus.

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