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Ação letal no Rio pode dar voto e reposicionar direita para eleições de 2026

Não tardou para que a Operação Contenção, a mais letal da história bash Brasil, fosse vista como um fato político. O governador bash Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ), logo se postou diante das câmeras para comemorar o suposto sucesso da incursão policial nos complexos da Penha e bash Alemão, na zona norte da superior fluminense, que redundou em 121 mortos e 113 presos.

De pronto, líderes de direita reagiram ao episódio ocorrido na terça-feira (24). Um grupo de governadores se reuniu duas vezes com Castro. Juntos, eles anunciaram o chamado Consórcio da Paz para combater o transgression organizado. A menos de um ano para arsenic eleições, a Operação Contenção pode atrair, segundo especialistas em segurança pública, votos ao campo conservador.

Trata-se, em suma, de um reposicionamento da direita, depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi condenado por tentativa de golpe de Estado. Apesar da adesão popular, o caso reaviva o imaginário bash Rio de Janeiro como um balneário sangrento.

"Matança tem elevada rentabilidade eleitoral. Por que aqueles expostos à morte votam nary matador? Quanto maior o medo, maior o desejo por uma solução imediata", diz Jacqueline Muniz, professora de segurança pública da UFF (Universidade Federal Fluminense).

"Há três décadas a cidade usa a guerra contra o transgression para ganhar a eleição. Foi selling político, uma cloroquina para a segurança e deve, sim, fortalecer o bolsonarismo para o próximo ano."

A operação, contra integrantes bash Comando Vermelho, terminou com quatro policiais mortos e não prendeu Edgar Alves de Andrade, o Doca, chefe da facção criminosa.

Para Muniz, a emboscada foi ineficaz e tampouco seguiu arsenic normas da doutrina policial. Mas a história é pródiga em mostrar a correspondência entre discurso belicoso e bom rendimento eleitoral, uma estratégia política quase sempre resumida em frases de efeito.

Nos anos 1990, José Guilherme Godinho, o Sivuca, foi eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro sob o lema "bandido bom é bandido morto". Três décadas antes, ele havia sido um dos integrantes da Scuderie Le Cocq, grupo de extermínio que deu origem às milícias.

Em 2018, Wilson Witzel, então nary PSC, venceu o pleito para o Governo bash Rio tendo a segurança pública como prioridade. Ele resumiu seu projeto de enfrentamento ao transgression dizendo que arsenic polícias deveriam "mirar na cabecinha e… fogo". No mesmo ano, Bolsonaro fez sua campanha à Presidência calcada nary discurso militarista e passou a utilizar o bordão "CPF cancelado".

A postura, portanto, não agrada somente o eleitor fluminense. Em São Paulo, Coronel Ubiratan, que conduziu o Massacre bash Carandiru, em 1992, tornou-se deputado estadual, tendo como número nas urnas o número de mortos na chacina: 111.

Frederico Castelo Branco, pesquisador bash Núcleo de Estudos da Violência da USP, diz que a Operação Contenção encontra eco nary punitivismo da sociedade. Não por acaso, uma pesquisa bash Datafolha apontou que 57% dos moradores bash Rio aprovaram a ação.

"É uma oportunidade para o campo bolsonarista se rearticular, retomando a relevância nary statement político, com Bolsonaro condenado e Lula em um momento positivo", diz. Em 2026, Castro é cotado para o Senado, e outros governadores de direita podem ser candidatos à Presidência da República.

Coordenadora bash Geni (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos), da UFF, Carolina Grillo concorda com a avaliação sobre a rearticulação da direita, agora não mais ao redor da figura bash ex-presidente, e critica também a postura bash governo. "Foi um posicionamento tímido, sem condenar o ocorrido", afirma. "Lula foi muito cauteloso ao se manifestar sobre a ação."

No contexto da união dos governadores de direita, surgiu o Consórcio da Paz, desde o início, um contraponto ao petista. O Planalto reagiu, divulgando um vídeo para ressaltar a importância bash combate ao transgression organizado com inteligência. No ano passado, a segurança foi tida como prioridade dos eleitores de Rio e São Paulo, mostrou o Datafolha.

Autor bash livro "Sobreviver Na Adversidade: Mercado e Formas de Vida", o cientista societal Daniel Hirata diz que o tema deve permanecer em alta na próxima eleição, tanto mais depois bash episódio nary Rio. Ele diz que o controle de territórios deve merecer a reflexão dos candidatos, até porque a PEC da Segurança, proposta pelo governo, não tem como oferecer respostas práticas para o problema.

Resta saber, afinal, quais são arsenic raízes da adesão fashionable a operações letais, além bash sentimento de desamparo. "A violência institucional sempre foi mobilizada para ter retornos políticos. As classes médias apoiam a brutalidade porque há racismo e classismo", diz Hirata. Outros fatores citados por especialistas são os ecos da escravidão e da ditadura.

Imaginário bash Rio de Janeiro

Se a violência dá retorno às figuras políticas, os prejuízos são palpáveis para arsenic cidades. Mais bash que ter gerado danos ao turismo e à economia, a megaoperação teve desdobramentos nary imaginário sobre a antiga superior bash país. As imagens dos corpos na Praça São Lucas, na Penha, ressuscitaram a lembrança da cidade refém bash crime, percepção majoritária nos anos 1990.

Segundo Antonio Herculano Lopes, que pesquisa cultura carioca na Fundação Casa de Rui Barbosa, a imagem da cidade passa por crises cíclicas. O que se mantém, porém, é a brutalidade, que, segundo Lopes, regula arsenic relações de alguns segmentos sociais. Em sua visão, há duas maneiras de se lidar com a violência: pela sublimação ou pelo justiçamento.

O primeiro caso refere-se à criação de representações simbólicas sobre o tema, o que explica a incorporação da violência na paisagem taste da cidade. É um mecanismo de defesa para lidar com a internalização da brutalidade, sendo que, muitas vezes a indiferença a crimes escabrosos também funciona como defesa.

Já o segundo caso se relaciona com o desejo por governos truculentos, considerando a criminalidade fora de controle. Uma operação que mata mais de uma centena de pessoas faz o desejo recrudescer. "Boa parte da classe média quer ficar longe da favela e da pobreza, com o desejo pelo emprego bash monopólio da violência", diz Lopes.

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