Denunciado por participar da trama golpista de 2022, o policial federal Wladimir Soares enviou áudio a um interlocutor informando que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) assinaria decreto para dar um golpe de Estado contra a eleição de Lula (PT) após a diplomação do petista.
Wladimir diz que seria ilegal assinar o decreto antes da diplomação de Lula ser publicada no Diário Oficial. O golpe de Estado, segundo a versão do policial, seria permitido pela legislação brasileira após o suposto ato formal.
"Agora o que a gente tem que esperar é a diplomação sair no Diário Oficial. Cara, eu pergunto para vocês, saiu? Não, né? Se não saiu, velho, como é que Bolsonaro vai agir? Ele precisa do documento, cara", diz o policial.
O áudio foi enviado em 18 de dezembro de 2022, seis dias após a diplomação de Lula no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Bolsonaristas radicais acreditavam que uma ação de Bolsonaro contra a eleição deveria ser feita antes do reconhecimento da vitória do petista pela Justiça Eleitoral, e o avanço do tempo gerava preocupação entre incentivadores do golpe de Estado.
"Bolsonaro não pode agir porque se ele agir antes do Diário Oficial, aí é ilegal. Entendeu? Aí Alexandre de Moraes sai por cima que tá fodido. Porque se, meu irmão, se der merda, que vai haver essa tomada, meu irmão, Alexandre de Moraes, esses ministros todos estão fodidos, mas fodidos com todas as letras", completa Wladimir no áudio.
O Código Eleitoral brasileiro não prevê a publicação da diplomação em Diário Oficial, e o ato formal de reconhecimento da eleição é a entrega do diploma assinado pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Os áudios de Wladimir foram entregues pela Polícia Federal ao STF (Supremo Tribunal Federal) na noite de quarta-feira (14) e fazem parte de um relatório da investigação sobre os celulares apreendidos com o policial federal e familiares.
Wladimir está preso desde novembro, por decisão do Supremo, suspeito de participar da organização criminosa que planejou um golpe de Estado para manter Bolsonaro na Presidência da República.
Ele foi acusado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de integrar um núcleo, com militares, que seria o braço armado da trama golpista. A Primeira Turma do STF decide na próxima terça-feira (20) se recebe a denúncia contra Wladimir e os membros das Forças Armadas.
As conversas obtidas pela Polícia Federal mostram que Wladimir Soares esteve envolvido nas manifestações em frente ao QG do Exército e manteve diálogos de cunha golpista durante os meses de novembro e dezembro.
O policial federal se mostrava empolgado com as perspectivas de um golpe de Estado dar certo. Ele diz que fazia parte de uma equipe de operações especiais disposta a "matar meio mundo de gente".
A euforia deu lugar ao desalento nas últimas semanas de dezembro, quando Bolsonaro passou a emitir sinais de que não conseguiria reverter a eleição de Lula.
"Eu estou meio triste hoje porque até de tarde estava tudo planejado, tudo certo para amanhã. Agora deu tudo pra trás, velho. Parece que ele vai jogar a toalha", diz Wladimir em um dos áudios identificados pela Polícia Federal.
Em outra troca de mensagens, ele afirma que o golpe não vingaria porque "o técnico não conseguiu os jogadores certos".
Em 29 de dezembro, Wladimir enviou mensagens a um contato identificado como Léo Garrido para informar que Bolsonaro "vai fugir". Em outra mensagem, diz que "Michelle [Bolsonaro] saiu na terça-feira, escoltada por dois caças".
O ministro Alexandre de Moraes decidiu nesta quinta-feira (15) dar ciência à PGR e às defesas de todos os denunciados do novo relatório da Polícia Federal sobre os bens apreendidos de Wladimir Soares.
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