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Ainda 'feminino', setor de vendas diretas ganha mais presença de homens

O homem dos 'creminhos'

Os profissionais se arriscam até em searas encaradas como "inacessíveis" para o sexo masculino — e registram bons resultados. Você imaginaria um homem vendendo batons e cosméticos ou explicando os benefícios de um hidratante facial? Isso é o que faz Diogo Antonio da Silva, empreendedor e engenheiro de telecomunicações (ele dá expediente como controlador de satélites).

Silva tirou a carteira de trabalho escondido, aos 14 anos, porque queria independência desde aquela época. Mas a mãe sugeriu que ele vendesse produtos da Tupperware para os colegas e professores da escola, como ela já fazia. A mãe começou a vender também itens da Natura, e Silva resolveu oferecer ao pessoal da escola. "Eu não podia fazer cadastro na Natura por ser menor de idade. Mas eu ia nas reuniões e treinamentos da empresa acompanhando minha mãe e aprendia tudo."

Aos 18 anos ele fez o cadastro e começou o trabalho em meio a muitas mulheres. A maioria feminina continua até hoje, mas Silva percebe os homens mais engajados no segmento atualmente.

Para vender os produtos às clientes, o empreendedor pensou na questão do "lugar de fala": "Como vou apresentar um produto para mulheres?". Ele percebeu que não precisaria usar o item para saber se é bom ou não. Bastava estudar muito sobre ele e ouvir as experiências de cada consumidora. "O medo estava dentro de mim e foi superado com determinação e muita sinceridade. Quando algo não combina com uma pessoa, eu falo." Silva está há 27 anos nas vendas diretas da Natura, sendo 23 com o próprio cadastro. E vende Avon também.

Na empresa onde trabalha, ele fidelizou clientes, mas também costuma fazer amizades na igreja, na rua, na academia - e qualquer lugar, sempre enxergando potenciais compradores. "Vendo para colegas próximos ou não, bombeiro e faxineiros. E também para empresas vizinhas." Silva conta que vende "creminhos", como alguns já falaram de forma um tanto jocosa, mas deixa claro que as viagens internacionais que faz todos os anos foram possíveis por conta da renda como consultor da Natura e Avon. "O meu salário fixo é o garantido, já que o dinheiro que vem das vendas diretas oscila mês a mês. O ganho líquido, hoje, na empresa, equivale à renda vinda dos produtos. Só que a empresa me dá alguns benefícios." E ele conta também com as vendas on-line aos mais de 22 mil seguidores no Instagram.

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Uma pessoa que quer começar a ser consultor precisa fazer um cadastro gratuito e um treinamento on-line. E já pode vender.

É chocolate que eu quero vender

Márcio Roberto de Oliveira, revendedor da Cacau Show
Márcio Roberto de Oliveira, revendedor da Cacau Show Imagem: Arquivo pessoal

Já Márcio Roberto de Oliveira preferiu os chocolates para se jogar nas vendas diretas. "Antigamente eram os carrinhos de porta a porta. Hoje as vendas diretas chegam às pessoas que a companhia não consegue alcançar", afirma. Assim como Silva, Oliveira tem um emprego com salário fixo, como enfermeiro. Chegou a ter quatro trabalhos para custear o tratamento do filho, que tem autismo. Mas só depois que começou com as vendas diretas de chocolate na Cacau Show conseguiu arcar com as despesas médicas, de mais de R$ 2,5 mil mensais. "Meu filho precisava de uma atendente periódica que o acompanhasse na escola. Hoje tenho 'apenas' um emprego como enfermeiro, além de ser empreendedor."

Em novembro de 2023 ele entrou numa loja da Cacau Show para tomar um café e viu o anúncio que convidava a ser um consultor. Conversou com a gerente, fez o cadastro e já comprou chocolates para começar a revender. "Comecei a vender no hospital em que trabalhava e as pessoas passaram a me indicar para outros pontos."

Oliveira comprou um veículo triciclo motorizado para vender nas ruas e está ampliando o leque de produtos: quer oferecer pastéis congelados. "A renda com as vendas diretas ainda é mais ou menos metade do que o salário no hospital. Mas em breve isso vai virar e vou poder me dedicar apenas à venda direta", espera. Ele está na Zona Norte de São Paulo, mas atende quem o procura: marca encontro nas estações de metrô, por exemplo, e entrega o chocolate.

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"As vendas diretas são de domínio feminino. Mas, na minha profissão de enfermeiro, já enfrentei esse preconceito. Há hoje mais mulheres do que homens. E meu público é de maioria feminina. Eu trabalho na área pediátrica, e as mães que estão com os filhos internados ficam felizes com os chocolates", detalha.

Para os interessados em se dedicar às vendas diretas na Cacau Show: para começar, é necessário comprar itens no valor de R$ 240, que podem ser chocolates ou também uma bolsa.

Dicas

Como toda profissão, as vendas diretas exigem alguns cuidados. De acordo com Silva e Oliveira, é preciso entender e pesquisar o perfil do trabalho que os empreendedores vão desempenhar e ter muita organização. Uma das prioridades, por exemplo, é onde as vendas poderão ser exploradas.

Outro ponto igualmente importante é que as vendas diretas não podem ser encaradas como "bico" ou "tapa-buraco", e sim como uma profissão. É necessário ser observador, conhecer o público, saber o que ele precisa, encarar o trabalho com seriedade e se preparar para estudar a tecnologia dos produtos.

O empreendedor deve ter em mente que o importante não é garantir uma venda, e, sim, fidelizar o cliente, com transparência e honestidade. E sempre divulgar o item que está vendendo em todos os lugares que frequenta.

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