O papa Francisco, uma figura tão carismática e popular, nos deixou após o Domingo de Páscoa, 21 de abril. Menos de três semanas depois, já temos seu sucessor, o papa Leão XIV. O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, seu braço direito no Dicastério para os Bispos, responsável por orientar, nomear e supervisionar bispos católicos, foi o escolhido para suceder a Francisco —e, acima de tudo, ao apóstolo Pedro, o primeiro Papa, conforme a tradição católica.
Respondia e-mails e comunicações rapidamente, às vezes no dia seguinte. Quando estava presente, fazia questão de ficar o tempo necessário, sem pressa de ir embora. E, acima de tudo, durante as missas que celebrava, rezava e pregava com profundidade e eloquência, e em diferentes idiomas.
Para além da experiência pessoal, três pontos me chamaram a atenção nesses primeiros momentos de papado de Leão XVI:
- Um papa pastor: Os cardeais da Igreja mantiveram a sintonia com Francisco
- Um tabu superado: parecia ser impossível ter um papa dos Estados Unidos
- "A paz esteja com todos vocês": as primeiras palavras do pontífice refletem um sonho e uma convicção
Papa Leão XIV na quinta-feira, ao aparecer pela primeira vez na sacada da Basílica de São Pedro — Foto: Yara Nardi/File Photo/Reuters
Entre a morte de Francisco e a data do conclave, ficaram mais evidentes os temas discutidos pelos cardeais nas "congregações gerais", as reuniões pré-conclave. Tanto a sala de imprensa da Santa Sé quanto os próprios cardeais, em conversas com jornalistas, deixavam sinalizar um pensamento essencial: ainda precisamos de um papa de perfil "pastor".
Entre os principais temas do último dia das congregações, de acordo com o Vaticano, estava a convicção de que "muitas das reformas promovidas pelo papa Francisco precisam ser levadas adiante: o combate aos abusos, a transparência econômica, a reorganização da Cúria, a sinodalidade, o compromisso com a paz e o cuidado com a criação. A responsabilidade da Igreja nessas áreas é sentida de forma profunda e compartilhada”.
"Viva o papa americano e força, Roma!", disse hoje um rapaz, no metrô, referindo-se ao pontífice e ao clube de futebol —o novo papa, aliás, é fã da Roma e conhecido por ser exímio tenista.
Mas havia um tabu que impunha resistências ao seu nome: o simples fato de ter nascido nos Estados Unidos. Um papa americano era algo impensável para muitos analistas. A Itália, que desde a Segunda Guerra Mundial teve que se submeter à influência da superpotência global, ainda resiste a preservar elementos culturais e históricos que considera primordialmente seus. O papado é um deles.
Além disso, os Estados Unidos são uma importante fonte de financiamentos para projetos de caridade da Igreja, o que por si só já resulta em ingerência nos processos de decisão.
Ainda assim, o primeiro papa americano da história chegou. Durante a coletiva de imprensa dos cardeais brasileiros após o conclave, perguntei a dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam), como os cardeais ponderavam sobre a origem do novo pontífice.
‘A paz esteja com todos vocês’
Em sua primeira aparição pública, o papa Leão XIV declarou: "A paz esteja com todos vocês!", e continuou: "Esta é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante. Ela vem de Deus, Deus que nos ama incondicionalmente".
A referência tem a ver com passagem do evangelho sobre o encontro de Jesus Cristo, após a ressurreição, com os apóstolos. Naquele momento, diz o texto bíblico, após a morte de Cristo, seus discípulos estavam desiludidos e confusos –haviam acabado de perder o seu mestre. Cristo volta e diz "A paz esteja convosco", frase até hoje repetida nas liturgias católicas. Essa saudação de paz trouxe conforto e novo vigor à então Igreja primitiva.
No mundo de hoje, assolado pelas guerras, o novo papa faz um apelo de paz, uma paz "desarmada e desarmante", descreveu, "humilde e perseverante". A uma Igreja que parecia órfã de um líder, de um pastor, lembrou o papa Francisco, que daquela mesma sacada abençoou os fiéis em uma inesperada despedida.

Curiosidades sobre o papa Leão XIV
Filipe Domingues, 38 anos, foi repórter do g1 e é jornalista especializado em Vaticano baseado em Roma, onde vive há nove anos. Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde ensina Comunicação, é também diretor do Lay Centre, uma residência universitária.

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5 meses atrás
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