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Apoiadores de Bolsonaro reciclam narrativa de perseguição em grupos, e opositores fazem piada

A prisão preventiva de Jair Bolsonaro, na manhã deste sábado (22), acendeu imediatamente os grupos públicos de WhatsApp e Telegram monitorados pela Palver. Em poucas horas, milhares de mensagens com o nome do ex-presidente circularam em mais de 100 mil grupos, num retrato em tempo real de como o bolsonarismo e seus críticos reagiram à detenção não pelo golpe de Estado em si, mas pela suspeita de tentativa de fuga após a decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.

O volume de menções de mensagens de oposição ao Bolsonarismo é duas vezes maior do que o das de apoio.

Entre apoiadores, Moraes é o centro das críticas. Em pouco tempo, quase 12% das mensagens mencionaram seu nome, muitas delas o associando a "ditadura", "perseguição" e comparações diretas com Cuba e Venezuela.

Termos como "tornozeleira" e "fuga" aparecem quase sempre reinterpretados como prova de um complô: a decisão seria "armação" para calar o líder da direita, e não uma reação ao risco de evasão. A prisão preventiva é narrada como parte de um roteiro de "estado policial", em que o Supremo age como poder político e não como corte constitucional.

Nesse campo, a convocação feita por Flávio Bolsonaro para uma vigília na porta do condomínio do pai, marcada para 19h deste sábado, ganhou vida própria. Antes da prisão, a vigília era vendida como gesto de apoio espiritual, mas, depois da decisão de Moraes, passou a ser lida como pretexto para o ministro justificar risco de fuga.

A narrativa predominante nesses grupos é a de que o próprio mandado de prisão seria a prova do medo do sistema diante da capacidade de mobilização de Bolsonaro.

Do outro lado, a reação é de alívio e celebração. Mensagens comemoram a prisão como "vitória do Brasil" e tratam a tentativa de fuga como confirmação do caráter do ex-presidente. Há quem resgate a condenação por golpe de Estado para enquadrar o episódio como continuidade de um padrão antidemocrático, embora a decisão desta vez esteja formalmente ligada à tornozeleira e não ao processo do 8 de Janeiro.

Uma das principais personagens de sátira é a figura de Michelle Bolsonaro. Sua ausência física ao lado do marido é explorada com ironia: memes sugerem que a ex-primeira-dama "sumiu", "lavou as mãos" ou estaria preocupada apenas com a própria imagem. A vida familiar é usada como metáfora da erosão política do ex-presidente.

Em paralelo, a fuga de Alexandre Ramagem para Miami, apesar da proibição judicial e da posterior decretação de sua prisão, entra no fluxo como prova de que o bolsonarismo, uma vez acuado, responde tentando escapar —literalmente— da Justiça.

No fim, o episódio mostra um bolsonarismo ainda capaz de produzir barulho, mas menos capaz de produzir novidade. A base reage, se indigna, convoca, mas gira em torno de narrativas já conhecidas: "Moraes ditador", "Brasil comunista", "perseguição política". A convocação de Flávio ajuda a organizar essa energia, mas não chega —ao menos por enquanto— ao patamar de mobilização massiva de outros momentos.

Do lado contrário, a oposição ao bolsonarismo também não inaugura um novo vocabulário. Reforça a imagem de Bolsonaro como golpista, fugitivo em potencial e líder desgastado, mais objeto de piada do que de medo.

Se a prisão preventiva conseguiu reacender a polarização, também expôs um certo cansaço. As redes se inflamam, mas repetem os mesmos roteiros. A disputa em torno de Bolsonaro continua sendo um dos motores centrais do debate público brasileiro, e a novidade é que, cada vez mais, ela se parece com uma guerra de narrativas travada em terreno já conhecido, entre uma base que se sente perseguida e uma oposição que prefere rir antes de respirar aliviada.

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