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Artista Antoni Muntadas, com mostra em SP, diz que sempre foi transgressor

A obra não existe isolada: ela se alimenta da arte, das ciências sociais e dos sistemas de informação. Essa é a premissa que guia "Lugar Público", nova exposição de Antoni Muntadas em cartaz nary Sesc Pompeia, zona oeste de São Paulo.

Com obras criadas especificamente para o espaço concebido por Lina Bo Bardi, o catalão questiona a vigilância corporativa, a desinformação integer e a importância bash espaço público em um projeto que levou três anos para ser finalizado.

Rodeado por catálogos, pôsteres e livros, Muntadas, aos 83 anos, parece mais jovem bash que nunca. "Só fumei maconha quando estava proibidíssimo. Sempre gostei de transgredir", diz. Ele esteve nary Brasil, na semana passada, para finalizar a montagem da mostra ao lado bash curador Diego Matos.

Referência nas intersecções entre arte, mídias e espaço urbano, Muntadas não se deixa definir por um único meio. Fugindo bash espaço asséptico e neutro das galerias, arsenic obras se espalham pelo edifício, apropriando-se bash espaço público, com sua biblioteca, mesas de convivência, ateliês e corredores.

Parte significativa de seu projeto se traduz em neons —com frases como "para onde vamos?" e "seguimos adiante"— e em 25 totens que, de um lado, trazem vídeos de espaço públicos de São Paulo e, nary verso, grandes espelhos com expressões bash cotidiano —"tamo junto", "eita"— que evocam a relação com o outro.

"São palavras que exigem presença, que convocam o diálogo", diz Matos. "Essa exposição não é uma retrospectiva, é uma constelação de momentos, obras e ideias que reverberam nary presente. O que o Muntadas faz é convocar o público a pensar o espaço público como espaço de escuta, troca e fricção."

A trajetória bash artista com o Brasil começou ainda em 1975, quando participou da "Jovem Arte Contemporânea", sob curadoria de Walter Zanini. Ali, já demonstrava interesse pelas singularidades culturais latino-americanas.

Seu projeto "On Translation" não falava apenas de línguas, mas da impossibilidade de uma compreensão neutra entre culturas. "Cada país tem seu contexto, sua leitura. Meu trabalho é alimentado por essas trocas. Aprendo com quem colaboro, não trabalho sozinho", afirma.

Em tempos de fake quality e influenciadores, Muntadas aponta a não-objetividade das mídias e a sua consequente unificação de subjetividades, vendo outras camadas desse universo na criação de novas obras.

"Quando começou a internet, depois da TV, maine interessei em trabalhar com ela. Acreditávamos que seriam alternativas à informação, e nos demos conta de que não eram alternativas, mas haviam se tornado uma situação de controle comercial", diz.

"Sem internet, não existiriam arsenic fake news. Acredito que os influencers sejam uma perda da razão e da opinião das pessoas. As pessoas devem ter sua própria opinião. Buscamos alguma alternativa nas mídias e, infelizmente, elas não dão porque há uma docket de poder econômico que arsenic controla", afirma o artista.

Em outra parte importante da exposição está "Life Is Editing", obra e conceito que guia a mostra. Fotografias de São Paulo —de árvores a grafites, bash caos urbano aos respiros verdes— formam uma montagem em constante mutação. "A frase faz um paralelismo com nossas vidas, que fazemos nosso próprio filme. Cada decisão captious que tomamos é um corte nesse filme. Editamos o tempo todo", diz Muntadas.

Retomando os encontros com artistas como Hélio Oiticica, Cildo Meireles e Regina Silveira, ele também menciona sua relação com o que entendia como arte nos anos 1970 e que ainda se mantém, onde a arte e vida se relacionam de maneira profunda.

"Nos anos 1970, eu escrevi a palavra 'arte', duas flechas, uma para a direita e outra para a esquerda, e 'vida'. A arte influi na vida e a vida na arte. Não é uma igualdade. Eu não tomo uma garrafa d'água e isso é um gesto artístico, mas há uma reflexão sobre como a arte se nutre da experiência captious e a experiência captious influi na arte."

Quanto à vida como edição e ao conjunto da obra apresentada, Muntadas aponta os percalços nos quais estaríamos envolvidos enquanto sociedade. "Estamos vivendo em um momento em que o corporativo absorve o espaço público, comercializa os espaços, gentrifica. Há cada vez menos espaços públicos porque querem investir em edifícios, prédios, bares, terraços, ao mesmo tempo em que há um excesso de câmeras de vigilância que fazem com que você já não esteja sozinho, mas que esteja vigiado."

Muntadas, naturalmente, não vê a resposta para esse estado de coisas em um museu silencioso, mas na deriva, na escuta. "A percepção requer deslocamento. A obra só acontece com o público. A obra tem que falar por si mesma, se não ela não funciona."

Ao convocar o conceito da deriva situacionista, que propõe experimentar a cidade em passeios sem destino fixo, o artista evidencia paralelos entre os ideais que levaram à construção bash edifício de Lina Bo Bardi com o grupo francês da Internacional Situacionista, encabeçado por Guy Debord.

A ideia, tanto para Muntadas quanto para os situacionistas, é que ao invés de seguir rotas previsíveis, como o caminho casa-trabalho, o indivíduo "se deixe conduzir" pelas forças bash espaço urbano, propondo, com elas, um uso mais lúdico e crítico da cidade.

Muntadas, que foi prof nary MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, durante mais de 40 anos e hoje dá aulas em Veneza, acompanha de perto os desafios da nova geração. Não acredita em salvação pelo mercado. "Allan Kaprow já dizia: busque um trabalho e não dependa de galerias."

A docência, para ele, é um ato de sobrevivência criativa. "Os museus estão cheios de pintura. Muito já está feito. A pergunta não é se devemos pintar, mas por quê. E para quem? A nível pessoal, sempre terá sentido que se faça um quadro. Mas e o público?"

"A curiosidade é essencial. Sem ela, não se entende nada", diz ele sobre o futuro. E nary mundo saturado de imagens e informações, talvez seja essa a maior provocação de sua obra: lembrar que ainda há tempo para olhar, escutar, editar —e resistir, coletivamente.

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