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As bitcoin treasury companies brasileiras: o que são e como funcionam

Alguns especistas acreditam que mercado já está vivendo uma bolha com as bitcoin treasury companies
Alguns especistas acreditam que mercado já está vivendo uma bolha com as bitcoin treasury companies Imagem: Kanchanara/Unsplash

O Bitcoin (BTC), que levou anos para conquistar espaço nas carteiras de investidores de varejo e institucionais, também passou a ocupar o caixa de algumas empresas listadas em bolsa. Pelo menos 200 companhias ao redor do mundo já compram a criptomoeda e a mantêm em seus tesouros - são as chamadas bitcoin treasury companies.

No Brasil, há duas empresas nesse grupo: o Méliuz (CASH3) e a OranjeBTC (OBTC3). Embora compartilhem a mesma tese - acumular bitcoin como reserva de valor -, elas adotam estratégias diferentes.

O Méliuz, empresa de cashback e cupons de desconto criada em 2011, foi o primeiro a mergulhar no universo cripto. Em março, a companhia anunciou a compra de 45,72 bitcoins e informou ao mercado que passaria a aplicar parte do caixa corporativo na criptomoeda, com foco em retorno de longo prazo. Hoje, detém cerca de 605 BTC, equivalentes a aproximadamente R$ 343 milhões.

A firma continua com o negócio de cashback e cupons, ao mesmo tempo em que adiciona cada vez mais bitcoins em sua tesouraria.

Já a OranjeBTC, que abriu capital na bolsa em outubro deste ano por meio de um IPO reverso (quando uma empresa compra outra já listada para abrir capital), já nasceu como uma tesouraria de bitcoin. Além disso, tem um pé também no setor de educação sobre criptomoedas.

Atualmente, a companhia tem 3.708 unidades de BTC, o equivalente a R$ 2,1 bilhões.

Como uma bitcoin treasury company funciona?

De forma simples, o objetivo primário de uma bitcoin treasury company é maximizar a quantidade de bitcoin mantida em caixa. Para isso, elas utilizam sua geração de caixa operacional, emissão de ações ou instrumentos de dívida (empréstimos e títulos) para levantar capital e, em seguida, usá-lo para comprar mais BTC. E a ideia é fazer com esses produtos financeiros sejam mais interessantes até que a própria cripto.

A OranjeBTC segue essa lógica à risca. "O dinheiro arrecadado no IPO está sendo utilizado para comprar bitcoin. Ao longo do tempo, eles têm planos de emitir ações preferenciais para comprar mais e emitir dívidas lastreadas em bitcoin também", explicou Luiz Pedro Andrade, sócio e analista da Nord Investimentos.

Já a Méliuz é um pouco diferente. A empresa usa o próprio caixa para investir em BTC. Enquanto a OranjeBTC tem 100% do caixa em cripto, a empresa de cashback permite a aplicação de até 10% do caixa total da companhia em bitcoin.

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No mês passado, a empresa também criou contratos de opções de venda de bitcoin (que dão direito de o investidor vender no futuro) com preços previamente definidos. Nessa estratégia, a empresa recebe um prêmio de investidores que compram o direito de vender BTC a ela por um preço combinado.

Riscos

O desempenho dessas companhias está diretamente ligado ao do Bitcoin - especialmente no caso daquelas com 100% do caixa em cripto. E o ativo continua extremamente volátil. Em outubro, o BTC chegou a US$ 126 mil, mas hoje é negociado por US$ 106 mil.

"A volatilidade do bitcoin, por ser um ativo intangível, distorce os resultados dessas empresas", explicou Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.

Ele cita ainda riscos adicionais: governança, possíveis diluições (novas emissões para comprar mais BTC), timing das operações, custódia e segurança cibernética, além da diferença entre a variação do bitcoin e a cotação das ações - que podem negociar com desconto ou prêmio em relação ao valor das reservas.

Bolha?

Parte do mercado acredita que as bitcoin treasury companies globais podem estar vivendo uma bolha - ou que ela já começou a esvaziar. A maior empresa do setor, a americana Strategy, já viu suas ações caírem em relação ao valor de suas reservas: hoje, são negociadas a 1,4 vez o valor em bitcoin, contra múltiplos de três ou quatro vezes no passado.

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Segundo relatório de outubro da 10x Research, uma consultoria cripto global, investidores de varejo já perderam US$ 17 bilhões tentando se expor a essas tesourarias cripto.

Mas nem todo especialista concorda com essa tese. "Não acredito que seja uma bolha no sentido clássico", disse Vitor Santoro Bezerra, planejador financeiro CFP e MBA em Finanças pela Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças.

Ele apontou a entrada crescente de capital das chamadas "baleias" (grandes investidores) como um fator de sustentação da valorização do bitcoin. Mesmo assim, alerta que a alavancagem usada por muitas dessas empresas pode inflar artificialmente os preços em certos ciclos.

"Então mesmo não considerando uma bolha estrutural, é importante estar atento ao grau de influência que essas companhias exercem sobre o comportamento do BTC no mercado", disse.

Investir direto em BTC ou em bitcoin treasury companies?

Na visão de Virgílio Lage, as bitcoin treasury companies podem ser uma alternativa para institucionais ou fundos que não podem comprar bitcoin diretamente, oferecendo exposição indireta ao ativo.

Já para investidores pessoa física, Andrade, da Nord, é mais cético:

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"Sendo brutalmente honesto, eu prefiro muito mais comprar bitcoin de forma direta. Isso porque você atrela ao risco intrínseco do bitcoin (de volatilidade, regulação, adoção etc) os riscos operacionais dessas empresas", disse Andrade, da Nord Investimentos.

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